Cientistas alertam para sopa de lixo plástico nos oceanos


18.04.2010 - Pesquisadores alertam sobre uma nova praga no oceano: um redemoinho de fragmentos de plástico semelhantes a confetes se estende por milhares de quilômetros quadrados numa extensão remota do oceano Atlântico. O lixo flutuante - difícil de ser visto da superfície e reunido por um turbilhão de correntes - foi documentado por dois grupos de cientistas que navegavam entre a paradisíaca Bermuda e as ilhas portuguesas dos Açores no meio do Atlântico.

Os estudos descrevem uma sopa de micropartículas semelhante à chamada Grande Mancha de Lixo do Pacífico, um fenômeno descoberto há uma década entre o Havaí e a Califórnia. Segundo os pesquisadores, é provável que esse fenômeno exista em outros lugares do globo.

"Descobrimos o grande depósito de lixo do Atlântico", disse Anna Cummins, que coletou amostras de plástico enquanto navegava pela região em fevereiro. Os detritos são prejudiciais aos peixes, mamíferos marinhos - e, no topo da cadeia alimentar, potencialmente aos humanos -, mesmo com a maior parte do plástico tendo se fragmentado em pedaços pequeninos, quase invisíveis.

Como não há nenhuma forma realista de limpar os oceanos, conservacionistas dizem que é essencial impedir mais acúmulo de plástico através da conscientização e, sempre que possível, desafiar a cultura do lixo, que utiliza materiais não-biodegradáveis em produtos descartáveis. "Nosso trabalho agora é conscientizar as pessoas de que a poluição de plástico nos oceanos é um problema global - infelizmente, ele não se limita a apenas uma mancha", Cummins disse.

As equipes de pesquisa apresentaram suas descobertas em fevereiro no Encontro de Ciências Oceânicas de 2010, em Portland, Oregon. Embora cientistas relatem a presença de plástico em partes do oceano Atlântico desde os anos 1970, os pesquisadores dizem que conquistaram avanços importantes no mapeamento da extensão da poluição.

Cummins e seu marido, Marcus Eriksen, de Santa Monica, Califórnia, velejaram pelo Atlântico para seu projeto de pesquisa. Eles planejam estudos similares no sul do Atlântico em novembro e no sul do Pacífico na próxima primavera.

Na viagem de Bermuda a Açores, eles cruzaram o mar de Sargaços, uma área delimitada por correntes oceânicas, inclusive a corrente do Golfo. Eles coletaram amostras a cada 160 quilômetros, com uma interrupção causada por uma grande tempestade. Cada vez que eles puxavam a rede de pesca, ela vinha cheia de plástico.

Um estudo separado de alunos de graduação da Associação de Educação Marinha, em Woods Hole, Massachusetts, coletou mais de seis mil amostras em viagens entre o Canadá e o Caribe ao longo de duas décadas. A pesquisadora principal, Kara Lavendar Law, disse que eles encontraram as maiores concentrações de plástico entre 22 e 38 graus de latitude norte, uma mancha de lixo que se alonga numa extensão que se aproxima à distância entre Cuba e Washington.

Longas trilhas de algas, misturadas a garrafas, caixas de madeira e outros detritos se encontram à deriva nas águas calmas da área, conhecida como Zona de Convergência Subtropical do Atlântico Norte. A equipe de Cummins até mesmo coletou um peixe-porco ainda com vida, preso dentro de um balde de plástico.

Mas o lixo mais preocupante é quase invisível: incontáveis pedaços pontudos de plástico, muitas vezes menores do que borrachas de lápis, suspensos perto da superfície no azul profundo do Atlântico. "É chocante ver em primeira mão¿, Cummins disse. "Nada se compara a estar lá em pessoa. Conseguimos deixar nosso rastro realmente em todos os lugares."

Mais dados ainda são necessários para avaliar as dimensões da mancha de lixo do Atlântico Norte. Charles Moore, pesquisador oceânico que descobriu a mancha de lixo do Pacífico em 1997, disse que o Atlântico inquestionavelmente tem quantidades similares de plástico. A costa leste dos Estados Unidos possui mais gente e mais rios que despejam lixo no mar. Mas como há mais tempestades no Atlântico, os detritos por lá têm maior probabilidade de se dispersar, disse.

A despeito da diferença entre as duas regiões, plásticos são devastadores para o meio ambiente em todo o mundo, disse Moore, cuja Fundação de Pesquisa Marinha Algalita, com sede em Long Beach, Califórnia, esteve entre os patrocinadores de Cummins e Eriksen.

"A pegada de plástico da humanidade é provavelmente mais perigosa que a pegada de carbono", ele disse. Plásticos se enroscam em pássaros e acabam na barriga de peixes: um estudo citado pela Administração Nacional Atmosférica e Oceânica dos EUA (NOAA na sigla em inglês) diz que até 100 mil mamíferos marinhos podem ter mortes relacionadas ao lixo a cada ano. Os pedaços de plástico, que os peixes não conseguem distinguir do plâncton, são perigosos em parte por absorverem substâncias químicas prejudiciais, que também circulam pelo oceano, disse Jacqueline Savitz, cientista marinha do Oceana, um grupo de conservação oceânica com sede em Washington.

Até 80% dos detritos marinhos provêm da terra firme, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. O governo americano teme que a poluição possa prejudicar seus interesses vitais. "Esse plástico tem o potencial de impactar nossos recursos e nossa economia", disse Lisa DiPinto, diretora do programa de detritos marinhos da NOAA. "É ótimo conscientizar o público de que o plástico que usamos em terra pode acabar no oceano."

DiPinto disse que a agência federal está patrocinando uma nova viagem da Associação de Educação Marinha este verão americano, para medir a poluição de plástico no sudeste de Bermuda. A NOAA também está envolvida na pesquisa sobre a mancha do Pacífico.

"Infelizmente, os plásticos que usamos não são eliminados de maneira cuidadosa", Savitz disse. "Precisamos usar menos plástico e, se formos usá-lo, temos que assegurar que o descartaremos de maneira correta."

Fonte: Terra noticias

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Lembrando...

Alerta: 41% dos oceanos do mundo foram afetados pelo impacto de ação humana

15.02.2008 - Um mapa feito por cientistas norte-americanos e divulgado nesta sexta-feira na revista científica "Science" mostra que 41% dos oceanos do mundo foram afetados, em menor ou maior grau, pela ação humana.

Para mapear o impacto da atividade humana nos ecossistemas marítimos, os cientistas da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, nos Estados Unidos, fizeram uma sobreposição de 17 mapas que demonstravam o impacto de fatores diversos, como a pesca, a poluição e a mudança climática.

Os mapas foram feitos com base em um estudo que analisou o impacto dos seres humanos em ecossistemas como os recifes de corais, as colônias de algas marinhas, plataformas continentais e os oceanos profundos.

O mapa mostra que as áreas mais afetadas pelo impacto humano são o Mar do Norte, Mar da China Oriental e Meridional, Mar do Caribe, a costa leste da América do Norte, os mares Mediterrâneo e Vermelho,o Golfo Pérsico, o Mar de Bering e várias regiões do Pacífico Oeste.

O estudo indica ainda que as áreas menos afetadas são aquelas próximas aos pólos.

"Este projeto nos permite começar a ver o cenário do impacto dos humanos nos oceanos", diz Ben Halpern, que liderou o estudo.

"Os resultados mostram que, somados, os impactos individuais revelam uma situação muito pior do que imagino que as pessoas esperavam. Certamente foi uma surpresa para mim", afirma.

Brasil
Segundo os cientistas, a influência dos humanos varia de forma significativa de acordo com cada ecossistema. Nas áreas mais afetadas, por exemplo, há grande concentração de recifes de coral, algas marinhas, mangues e montanhas marinhas.

Já os ecossistemas menos afetados são áreas de oceanos abertos e onde o fundo do mar é mais liso.

O mapa revela que em grande porção da costa brasileira, o impacto dos humanos é "médio alto", o que indicaria uma influência de 4,95 até 8,47%.

No entanto, enquanto algumas áreas na costa sul do Brasil o impacto aparece mais ameno, uma grande faixa da costa sudeste do país revela um impacto alto, maior que 15,52%.

Processo
A pesquisa envolveu quatro etapas. Na primeira, os cientistas desenvolveram técnicas para quantificar e comparar o impacto das atividades humanas em diferentes ecossistemas.

Na segunda etapa, a distribuição dos ecossistemas e das influências humanas foi analisada. Os cientistas então combinaram as duas informações - a distribuição e o impacto - para determinar "os índices do impacto humano" para cada região do mundo.

Finalmente, os cientistas usaram estimativas sobre as condições dos ecossistemas marítimos já disponíveis para fundamentar ainda mais os índices levantados pela pesquisa.

Os cientistas afirmam que, apesar dos esforços, o mapa ainda é incompleto, já que os dados sobre algumas atividades humanas ainda é escasso.

Futuro
Apesar do cenário revelado pela pesquisa, os cientistas sugerem que ainda há tempo para tentar preservar os oceanos.

"Há certamente espaço para a esperança", diz Carrie Kappel, que participou do estudo. "Com esforços para proteger as porções dos oceanos que ainda continuam puras, temos uma boa chance de preservar estas áreas em boas condições", afirma.

De acordo com o estudo, o mapa poderá servir como referência para o desenvolvimento de políticas de conservação e manutenção, além de oferecer informações sobre o impacto de certas atividades.

"O homem sempre usará os oceanos para recreação, extração de recursos e outras atividades comerciais, como o transporte marítimo. O que precisamos é fazer isso de forma sustentável para que os oceanos continuem saudáveis e continuem a nos oferecer os recursos que precisamos", conclui Halpern.

Fonte: UOL notícias

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Nota de  www.rainhamaria.com.br

Cabem dois EUA num gigantesco depósito de lixo em pleno oceano Pacífico

09.02.2008 - Foi durante uma alegre competição de barco a vela que o oceanógrafo americano Charles Moore se deparou com algo trágico: um gigantesco depósito de lixo em pleno mar. "Fiquei impressionado, de repente estava no meio daquilo. Para onde eu olhava, via lixo", diz ele. A 500 milhas náuticas (cerca de 920 quilômetros) da costa da Califórnia, no oeste dos EUA, esse depósito estava e ainda está lá. A primeira e mais importante questão é saber como essa mancha se formou e cresceu. A primeira e mais importante resposta, impressionante e assustadora, é que a grande sujeira que muitas vezes se tenta esconder debaixo do imenso tapete de mar é fruto da falta de consciência ambiental - um dia ela aparece e bóia, um dia a atitude predatória vem à tona, ainda que seja em meio a uma tranqüila regata. "Toda vez que eu ia ao deque via coisas boiando. Como nós conseguimos sujar uma área tão enorme?", pergunta Moore. O especialista que passou anos em seu barco estudando essa área (do Havaí até quase o Japão) revela que a mancha tem mais de dez anos. E suas proporções são assustadoras: "Ali existem cerca de 100 milhões de toneladas de detritos." A formação desse megaentulho, apelidado pelos especialistas de "sopa plástica", é atribuída a dois fatores combinados: ação humana e ação da natureza. Os pesquisadores contabilizam que um quinto dos resíduos foi jogado de navios ou plataformas petrolíferas, e inclui itens como bolas de futebol, caiaques, sacolas plásticas e restos de naufrágios. O restante veio da terra. No mar, esse lixo flutuante acabou se agrupando por influência das correntes marítimas. E então ficou vagando.

Ironia do destino, Charles Moore era herdeiro de uma família que fez fortuna com a indústria do petróleo, e o plástico que compõe a tal "sopa" é feito justamente a partir de petróleo - demora aproximadamente 300 anos para se decompor. Hoje, Moore vendeu o seu negócio e se tornou um ativista ambiental, criando nos EUA a Fundação de Pesquisa Marítima Algalita. O diretor de pesquisa dessa fundação, o ativista ecológico Marcus Eriksen, relata a impressão que teve quando viu pela primeira vez a imensa lixeira: "Parece uma ilha de lixo plástico sobre a qual se pode andar. É uma sopa de plástico, uma coisa sem fim que ocupa uma área que pode corresponder a até duas vezes o tamanho dos EUA." Pode ser que os milhões de toneladas tenham passado despercebidos pelas autoridades ambientais e sua tecnologia - translúcida, a mancha flutua rente à linha da água e, por isso, pode ser imperceptível aos satélites. Mas, de acordo com o Programa Ambiental da ONU, detritos de plástico constituem 90% de todo o lixo flutuante nos oceanos. Estima-se que 46 mil peças de plástico provoquem anualmente a morte de mais de um milhão de aves e de outros 100 mil mamíferos marinhos. Seringas, isqueiros e escovas já foram encontrados no estômago desses animais depois de mortos.

A gravidade do problema soou como um alarme aos ouvidos de especialistas de todo o mundo. O oceanógrafo David Karl, da Universidade do Havaí, pretende coordenar uma expedição para estudar o problema ainda este ano, pois acredita que esse lixo no Pacífico já formou um novo habitat marinho. Tão cedo, porém, essa situação não será resolvida. A área, conhecida como "giro Pacífico norte", é um local onde o oceano é calmo devido aos poucos ventos e aos sistemas de pressão extremamente altos. Essas condições naturais estariam "segurando a sujeira". "Da mesma forma que ela está presa naquele redemoinho, a sociedade está presa a maus costumes", diz Moore. E com razão: até pesquisadores da Agência Espacial Americana (Nasa) e de agências russas estão acostumados a despejar toneladas de resíduos de suas espaçonaves no oceano Pacífico. A nave russa Progress M-59, por exemplo, teve seus fragmentos carbonizados e lançados ao mar - uma tonelada de lixo. Em forma de chuva de metal incandescente, os destroços caíram em uma zona entre a Oceania e as Américas (a mesma região da sopa) e, assim, o caldo de trambolhos e quinquilharias foi ganhando proporções cada vez maiores.

A fiscalização para evitar agressões ao meio ambiente em geral costuma ser fraca, e mais inoperante ainda é a fiscalização que deveria proteger o ambiente marinho - a absurda sopa de lixo no Pacífico comprova esse fato. Convenções internacionais determinam que todas as embarcações devem manter em recipientes adequados os seus resíduos produzidos a bordo, sendo proibido (e passível de multa) o seu descarte no mar - a Marinha brasileira estabelece punições pecuniárias que vão de R$ 7 mil a R$ 50 milhões. Uma vez boiando nos oceanos, no entanto, esses resíduos passam a ser sujeira sem dono - como ponta de cigarro na rua. Ainda que se saiba a sua procedência, é impossível responsabilizar culpados. Por isso a fiscalização é teórica e ineficaz, por isso formam-se lixões como o do Pacífico, por isso a humanidade, feito suicida, emporcalha aquilo que é a principal condição biológica para a sua sobrevivência - a água.

Fonte: Revista ISTOÉ, Fevereiro 2008
 


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