Igrejas hi-tech: Velários eletrônicos, água-benta automática e oratórios digitais


17.04.2010 - Reportagem da revista ISTOÉ, ediçäo de abril 2010.

O costume católico de acender uma vela na igreja pode estar com os dias contados. Mergulhar a mão na água-benta ao entrar num santuário também. Esperar o padre para a oração junto a uma imagem, nem se fala. É que hábitos tradicionais como esses vêm ganhando ares modernos. Os velários clássicos, de parafina, têm sido substituídos pelos digitais. As pias de água-benta agora dão lugar aos dispensadores eletrônicos com o líquido já benzido. Já a voz do padre ecoa cada vez menos na sacristia e no confessionário, mas se multiplica em orações digitais reproduzidas diante de imagens e quadros de santos com o simples apertar de um botão. “A ideia é modernizar a igreja”, afirma João Barassal Neto, um grande entusiasta da tecnologia na igreja e dono de uma empresa que fabrica soluções para esse mercado.

Os velários hi-tech têm duas versões disponíveis no mercado: a clássica, que requer uma instalação mais trabalhosa por depender de fios para controlar o acionamento das velas, e a versão bluetooth, que aciona as velas a partir de uma base sem fio móvel, que pode ser instalada em qualquer lugar da igreja. Ambas com tecnologia LED – sigla para diodo emissor de luz, muito mais potente e resistente que uma lâmpada comum. Ao fiel cabe apenas a missão de depositar uma quantia em moeda ou papel dinheiro equivalente ao número de velas que quer acender e ao tempo que espera vê-las “queimar”. Acesa, ela pisca três vezes para que o devoto a identifique e, só então, flameja. Sem emissão de carbono, sem parafina derretida e sem riscos para as igrejas, argumentam os fabricantes. Estima-se que, só com a queima das velas, as igrejas brasileiras emitam 36 toneladas de dióxido de carbono todos os anos. Na contramão da prática ecologicamente reprovável, os velários eletrônicos têm selo de sustentabilidade do Green Building Council, que certifica produtos com baixa emissão de gases de efeito estufa.

Mas a novidade não tem só aprovação ecológica. A Igreja Católica também gostou da ideia e está admitindo a tecnologia em seus templos. Para dom Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro e presidente da Comissão para Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tudo que aproxima o fiel da igreja sem explorá-lo é positivo. E as novidades eletrônicas podem ser um caminho. “Em situações de devoção, a vela eletrônica pode ser usada tranquilamente”, explica o arcebispo. “Mas em ritos sacramentais, como a missa, a vela de parafina ainda é regra”, ressalva, explicando que, nesses momentos solenes, tudo deve ser o mais natural possível – como flores frescas e altar de madeira.

Dispensadores eletrônicos de águabenta, criados para substituir as tradicionais pias, também são tidos, oficialmente, como adaptações positivas pela Igreja. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu as bacias durante o surto da gripe suína, para evitar o contágio. Como os dosadores funcionam sem contato direto com as mãos, a contaminação fica mais difícil. Abastecidos com apenas um litro de água-benta, eles servem até duas mil doses de água. Para santuários cujos padroeiros são santos de grande devoção, que atraem milhares de fiéis todos os meses, trata-se de uma praticidade e tanto. São eles, aliás, os maiores clientes de novidades como essas. Com infraestrutura proporcional ao número de devotos que lotam suas naves, muitos já utilizam outros produtos, como os sinos eletrônicos que tocam automaticamente nas horas certas. “Os velários eletrônicos são bem mais higiênicos, não exigem tanta limpeza”, explica o cônego Celso Pedro de Lima, responsável pela Paróquia Santa Rita de Cássia, no Pari, em São Paulo, que também adotou os dispensadores de água- benta e as orações eletrônicas. “Acho as orações um pouco impessoais”, ressalva. “Mas os fiéis gostam.” E a voz do povo...(fim)

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Lembrando...

Apoiado em teorias de marketing, teólogo ajuda a Igreja a se modernizar

05.05.2007 - Parte da reportagem da Revista ISTOÉ, Maio 2007.

Na quarta-feira 9, quando o papa Bento XVI, chegar ao Brasil, vai encontrar uma Igreja Católica em transformação. Até então o Vaticano trabalhava com estimativas de que o catolicismo no País estava em decadência. Mas agora uma revolução movimenta templos católicos de norte a sul do País. Sem fazer alarde, padres, bispos e leigos tomam decisões radicais depois de reconhecerem que a Igreja trata mal seus fiéis. Para mudar essa situação, o prelado resolveu investir numa opção pouco ortodoxa aos católicos e muito comum ao mundo das grandes corporações: o marketing. A alma da mudança é tratar os fiéis não mais como meros devotos, e sim com o status reservado aos grandes consumidores. Assim como os bancos, as lojas ou as companhias aéreas tratam com qualidade seus fregueses, o clero resolveu “fidelizar” seus “fiéis”. Toda essa transformação se deu por obra e graça de um militante do Movimento da Renovação Carismática, o administrador de empresas Antônio Kater Filho, 58 anos.

Descendente de libanês, Kater, que é autor do livro O marketing aplicado à Igreja Católica, há 23 anos estuda o comportamento dos religiosos e seu rebanho. Foi justamente depois de ouvir, por acaso, uma pregação de um pastor pentecostal que Kater percebeu a eficiência do discurso das outras igrejas. “Enquanto os pastores falam com emoção, os padres falam para o vazio”, reconhece. Desde então, o marqueteiro resolveu peregrinar pelo País ensinando ao clérigo as técnicas do marketing. A estratégia deu certo. Na matemática dos católicos, nos últimos sete anos a Igreja Católica estabilizou o número de seus devotos em 73,89% da população brasileira.

Casado, pai de cinco filhos, Kater estudou teologia (“para falar de igual com os sacerdotes”) e fez mestrado na USP na área da comunicação. O marqueteiro, que foi professor do padre Marcelo Rossi, prega a eficiência do discurso. “Mesmo com todas as rádios, tevês e jornais a serviço da Igreja, não sabemos nos comunicar”, diz. Nas suas propostas, a homilia ganhou atenção especial. “O clero fala um ‘teologuês’ que ninguém entende.” Seu lema é decodificar as missas para uma linguagem simples e direta. Kater explica a seus alunos, por exemplo, que, se Jesus Cristo fosse vivo, ele não diria aos fiéis que “o reino de Deus é como um tesouro escondido”, e sim “o reino de Deus é como ganhar sozinho na loto”, diz. “É emoção.”

Entre as novidades implementadas, o termo confissão é trocado por reencontro. “Confissão é coisa de bandido”, associa. Para o estudioso, que fundou a Associação Brasileira de Marketing Católico (ABMC), é uma dádiva poder escutar o que aflige o fiel e como ele batalha contra as tentações do pecado. “As confidências são o feedback. Isso é pesquisa qualitativa”, diz. “O bom religioso é aquele que escuta a confissão, alimenta-se de informação e, como bom marqueteiro, explica como enfrentar as dificuldades.”

A idéia de Kater é reformar sem quebrar. Nessa linha, o secular dízimo, que há anos é tratado como esmola, não ficou de fora. Na versão business, a contribuição passou a ter o peso de um investimento financeiro. “A Igreja Católica é de todos nós, é nossa casa. Ela não é do pároco que a administra, temos que cuidar dos templos”, diz. Ele vai além: “Os padres não falam sobre o dízimo com a agressividade dos nossos irmãos evangélicos”, conta. Dentro do universo de 73,8% de católicos, apenas três em cada dez contribuem com doações às igrejas. Entre os pentecostais, que constituem 12,5% da população, 44% contribuem.

Na cruzada de Kater, os bancos de madeira são substituídos por confortáveis assentos. “O sofrimento da fé é coisa do passado”, lembra. “A pessoa fica duas horas sentada naqueles bancos duros e sai de lá com dor nas costas.” Outra intervenção é na acolhida dos fiéis que vão à missa. “Qualquer boa loja tem estacionamentos gratuitos, banheiros e até cafezinho. A Igreja Católica não oferece nada”, argumenta. Muitas das 120 dioceses orientadas por Kater já estão implementando seus pedidos. “Fé e conforto não são opostos”, garante. E diz mais: “A Igreja Católica tem mais de dois mil anos de história porque tem o melhor logotipo, a cruz; o melhor outdoor, as torres das igrejas, e o grande produto, a salvação.” (fim)

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05.05.2007 - Nota do Portal Anjo  -  www.portalanjo.com

OBS: Mais um pontapé doloroso na Igreja que nasceu numa manjedoura emprestada, morreu cravada numa cruz de pau e foi enterrada num túmulo emprestado. Sim aquela que teve repartidas as vestes, e sorteada a túnica. Esta, a verdadeira, entre os pobres dos pobres, rumo as riquezas celestiais, aquela acima, a fantasia de tais padres, a torpe máquina de arrecadar das seitas, o nefando comércio da fé. Ai deles no dia em que voltar o Homem da Cruz, armado de cordas para expulsar tais vendilhões do templo.

Cadeiras estofadas, ao invés do “tome a sua cruz e me siga”. Neste ambiente, de que adianta o resgate da confissão, se a salvação é impossível sem a cruz? Não será também uma fórmula de “marketing” para arrecadar mais? Ó mercenários, ó marqueteiros da fé, não tereis muito tempo de negócios ainda.

Por Arnaldo Haas
www.recados.aarao.nom.br
 


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