26.01.2010 - ROMA.- Roma (ACI) Segundo o filósofo francês Bernard-Henri Lévy, em um artigo que publicado no L'Osservatore Romano em sua edição semanal em português, aparecido em outros idiomas em meios de destaque na Europa como o jornal El Pais (Espanha) e o Corriere della Sera (Itália) o escritor de origem judeu se refere às críticas à visita Bento XVI à Sinagoga de Roma no domingo 17 de janeiro em um artigo que leva o nome “Quando os bodes expiatórios se chamam Pio e Bento” tratando a “Má-fé e desinformação” com que alguns meios se referem ao Sumo Pontífice e ao Papa Pio XII.
“Precisaria deixar de ter má-fé, de tomar partido e, para ser cabal, eliminar a desinformação, quando se trata de Bento XVI. Desde a sua eleição, intentou-se um processo ao seu "ultraconservadorismo", que é continuamente retomado pelos mass media (como se fosse possível um Papa não ser "conservador"). Insistiu-se, com subentendidos e até com anedotas pesadas, sobre o "Papa alemão", o "pós-nazista" de batina, ou sobre aquele a quem a transmissão satírica francesa "Les Guignols" não hesitava em chamar "Adolfo II"”, afirma Lévy em seu artigo.
“E eis que por ocasião da visita do Papa à sinagoga de Roma e depois das suas duas visitas às sinagogas de Colônia e de Nova Iorque, o mesmo coro de desinformadores (que criticou a visita do Papa a Auschwitz em 2006) estabeleceu um primado, estava para dizer que recebeu os louros da vitória, porque não esperou sequer que o Papa ultrapassasse o Tibre para anunciar, urbi et orbi, que ele não soube encontrar as palavras exactas a dizer, nem os gestos justos a realizar e que, portanto, a sua intenção tinha falido...”, denunciou o filósofo.
Bernard Lévy quis esclarecer que “Bento XVI, quando se recolheu em oração diante da coroa de rosas vermelhas deposta sob a placa comemorativa do martírio dos 1021 judeus romanos deportados, não fez mais do que o seu dever, mas fê-lo”. Mais adiante o autor explica que “Bento XVI que retoma, palavra por palavra, os termos da oração de João Paulo II, há dez anos, no Muro das Lamentações; afirmando que é preciso “deixar de repetir, como burros, que (Bento XVI) é atrasado-em-relação-ao-seu-predecessor”.
Em seguida, referindo-se “à vicissitude muito complexa de Pio xii, voltarei a falar, se for necessário. Tratarei de novo o caso Rolf Hochhuth, autor do famoso Il vicario, que em 1963 lançou a polémica sobre os "silêncios de Pio XII". Este autor tentou criar a imagem de Pio XII como um covarde moral, nada mais afastado da realidade deste grande pontífice.
“Agora gostaria de recordar, como acabou de fazer Laurent Dispot na revista que dirijo, "La règle du jeu", que o terrível Pio XII, em 1937, quando ainda era só o Cardeal Pacelli, foi o co-autor com Pio XI da Encíclica Mit brennender Sorge ("Com viva preocupação"), que até hoje continua a ser um dos manifestos antinazistas mais firmes e eloqüentes”, esclarece Lévy.
O seu artigo também revela que “o silencioso Pio XII pronunciou algumas alocuções radiofónicas (por exemplo no Natal de 1941 e 1942) que lhe valeram, depois da morte, a homenagem de Golda Meir: "Durante os dez anos do terror nazista, enquanto o nosso povo sofria um martírio assustador, a voz do Papa elevou-se para condenar os carnífices".
“E, agora, surpreende sobretudo que, do silêncio ensurdecedor descido no mundo inteiro sobre o Shoah, se faça carregar todo o peso, ou quase, àquele que, entre os soberanos do momento: a) não possuía canhões nem aviões; b) não poupou os próprios esforços para partilhar com quem dispunha de aviões e canhões, as informações que lhe chegavam; c) salvou pessoalmente, em Roma mas também alhures, um grandíssimo número daqueles pelos quais tinha a responsabilidade moral. Último retoque ao Grande Livro da baixeza contemporânea; Pio ou Bento pode ser Papa ou bode expiatório”, concluiu.
Em um artigo para a Revista “Newsweek” em março de 1998, o conhecido jornalista Kenneth Woodward afirma que optando pela diplomacia e o silêncio estima-se que os esforços de Pio XII chegaram a salvar 700,000 judeus dos campos de concentração.
Fonte: ACI