10.12.2009 - As geleiras do Himalaia retrocedem mais depressa que em qualquer outro lugar do planeta. Aldeias indianas já relatam problemas de abastecimento
No teto do mundo a água para beber escasseia. "Temos problemas de água potável. Os riachos que antes eram constantes agora trazem mais água algumas vezes e em outras estão secos. Não sabemos quando semear, porque as chuvas não vêm mais com precisão. Estamos à deriva, sem saber o que vai acontecer", explicou Skarma Dachen, uma agricultora de Ladakh, no Himalaia indiano.
Os efeitos do aquecimento climático começam a se fazer notar. As plantações se perdem devido a secas extremas, e os habitantes sofrem chuvas inconstantes e o derretimento das geleiras. "Até alguns anos atrás as montanhas ficavam totalmente cobertas de branco durante o inverno, agora só algumas têm neve na ponta", afirma Skarma.
As geleiras do Himalaia estão sem dúvida retrocedendo. Mas faltam estudos científicos precisos que analisem com que rapidez e qual é o efeito real provocado pela mudança climática, concordam os especialistas. De fato, na Índia se iniciou um grande debate antes da cúpula de Copenhague por conta das declarações do ministro do Meio Ambiente, Jairam Ramesh, que afirmou que "não há evidência científica conclusiva que relacione o aquecimento global ao que está acontecendo nas geleiras do Himalaia". Depois ele retificou.
Data "alarmista"
O Painel Internacional sobre Mudança Climática (IPCC na sigla em inglês) adverte que as geleiras do Himalaia estão retrocedendo mais rapidamente do que em qualquer outra parte do mundo, e poderão desaparecer completamente até 2035. Essa data foi discutida por especialistas em geleiras e considerada "alarmista" por alguns.
Mas organizações como o prestigioso Serviço de Monitoramento das Geleiras do Mundo (WGMS na sigla em inglês), apoiado pela ONU, admite que "as geleiras do Himalaia, em sua maioria, estão em rápido e substancial recuo"; embora afirme que não é provável que cheguem a desaparecer completamente nas próximas décadas. Essas geleiras têm a maior concentração de gelo fora dos polos, cerca de 12 mil quilômetros cúbicos de água. Na parte indiana há 40 geleiras, segundo um inventário do governo.
Esses rios de gelo são uma reserva natural de água doce, que derretem naturalmente. Mas agora estão se fundindo tão rápido - sobretudo os menores - que não se recuperam com a neve que cai no inverno, também escassa. E o degelo poderia causar desastres, porque as represas naturais que se formam com as geleiras, se receberem água muito rapidamente, poderão se romper de modo imprevisto e soltar seu caudal em tromba, arrasando infraestruturas e causando danos em casas e plantações, no mínimo.
As geleiras são a fonte dos três rios mais importantes desta parte do subcontinente: o Indo, o Ganges e o Bramaputra, dos quais dependem centenas de milhões de pessoas na Índia, no Paquistão e em Bangladesh. "As geleiras são especialmente vulneráveis ao aumento da temperatura. A construção de represas, o desflorestamento e as chuvas erráticas estão provocando uma terrível falta de água nas comunidades", explica Vinod Bhatt, responsável pelo estudo "A Mudança Climática no Terceiro Polo: O impacto da instabilidade do clima nos ecossistemas e comunidades dos Himalaias".
"A falta de água é o maior problema hoje nas montanhas. As chuvas são muito instáveis. Talvez haja o mesmo volume de água, mas não está bem distribuída e as estações mudaram: um mês a mais de verão e um a menos de inverno", explica Bhatt, da prestigiosa ONG Navdanya, comandada pela reconhecida ambientalista indiana Vandana Shiva.
O estudo, elaborado em 165 aldeias de três estados da Índia, revela que na última década 280 de 809 mananciais antes perenes já se tornaram temporários ou secaram completamente. Dos 321 que manavam em temporadas, 144 secaram e pouco mais de um terço dos 324 riachos permanentes agora só correm em temporadas.
A miséria espreita. Jasodha Devi, de uma aldeia chamada Kanda Mandakini, conta que sua família só tem 40 litros de água por dia (na Espanha há 339 litros por habitante/dia, segundo o INE), que transportam em mulas, e que podem se banhar e lavar roupa somente a cada dez dias. "Não podia ver nossas vacas e búfalos morrerem de sede, por isso os vendi barato por 3.000 rupias (cerca de 43 euros)."
Indira Devi diz que sua colheita de batatas fracassou por falta de água. "Só Deus pode nos salvar agora, porque depois de tão longa seca não há forragem." Outros se surpreendem com a pouca chuva e neve que caem - a monção deste ano foi a que teve menos água em quase 40 anos. "O caminho para nossa aldeia permanecia fechado no inverno por causa da neve, mas nos últimos anos fica aberto o inverno todo", lembra o ancião Jaspal Singh, de uma aldeia de Poghta, em Uttarakhand.
Tiveram de mudar de cultivos e, por exemplo, as maçãs agora são colhidas em maiores altitudes. Alguns perderam seu gado ou o venderam barato por falta de água e forragem. Também está se perdendo a fauna, como o urso ou o leopardo da neve.
Além da diminuição das geleiras, a Índia enfrenta o aumento do mar que cobre algumas ilhas dos Sunderbans, próximas da fronteira com Bangladesh, ou ameaça cidades como Calcutá e Mumbai.
O ministro do Meio Ambiente admite que é um problema importante e que devem trabalhar para combatê-lo. No entanto, ele se nega a assinar um pacto vinculatório de redução de suas emissões (4% do dióxido de carbono mundial). Mas aceitou que a Índia diminuirá a intensidade das emissões entre 20% e 25% até 2020. Por enquanto, os ambientalistas do subcontinente estão de acordo com essa promessa. "Obviamente poderíamos fazer mais, mas é um bom primeiro passo", afirma o porta-voz do Greenpeace Ankur Ganguly.
Fonte: UOL notícias
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Lembrando...
Pnud alerta para mortes devido à crise mundial de água
07.11.2006 - O mundo passa por uma grave crise humanitária devido à escassez de água e à falta de saneamento básico, o que causa a morte de quase 2 milhões de crianças por ano, informou hoje o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
"Sem água não há vida", disse hoje Kevin Watkins, chefe da equipe de pesquisadores do Pnud que elaborou um relatório sobre a crise mundial de água.
O documento será apresentado na próxima quinta-feira na Cidade do Cabo, no extremo sudoeste da África do Sul. No entanto, Watkins antecipou hoje em entrevista com um grupo de jornalistas as principais conclusões do relatório.
Watkins disse que cerca de 1 bilhão de pessoas não têm acesso regular à água potável, enquanto 2,5 bilhões não possuem instalações sanitárias adequadas. Segundo o pesquisador, isso acontece por que o problema não é uma prioridade dos Governos.
"Em 2015, planeja-se enviar a Júpiter uma nave espacial para buscar água nesse planeta. Ao mesmo tempo, não conseguimos dar à África ou à Índia a água que as pessoas precisam", disse.
Em muitas nações, como as da África subsaariana - as mais pobres do planeta -, o problema não é tanto a falta d'água, mas a falta de infra-estrutura para canalizá-la para todos as casas e para seu tratamento posterior.
O especialista disse, por exemplo, que a Etiópia tem uma capacidade de armazenamento de 5 metros cúbicos de água por pessoa por ano, enquanto nos Estados Unidos esse número chega a 19 mil metros cúbicos.
"É difícil imaginar algo que tenha mais impacto na vida humana que a água. Para muita gente, é a única oportunidade de escapar da pobreza", disse.
A crise humanitária que originou este problema é responsável pela morte de quase 2 milhões de crianças por ano devido a doenças associadas à falta de infra-estrutura sanitária.
Esse número é parecido ao de mortes por aids no mundo todo - cerca de 2,5 milhões de pessoas por ano, segundo o último relatório da ONU.
responsável pela equipe que elaborou o documento, que faz parte do Relatório sobre Desenvolvimento Humano que o Pnud publicará na quinta-feira na Cidade do Cabo, insistiu nas desigualdades mundiais existentes no acesso à água.
Watkins falou sobre o caso de um bairro pobre de Nairóbi, no Quênia, onde a população depende de torneiras públicas enquanto, no outro lado da estrada, há um campo de golfe com um sistema de irrigação que funciona continuamente.
Também há diferença no preço que se paga pela água potável. Em cidades como Dar es Salam, capital da Tanzânia, a água é mais cara que em Nova York.
"Os ricos chegam a pagar 20% do preço do que os pobres pagam pela água que usam", acrescentou.
O representante do Pnud disse que, em muitos países em desenvolvimento, a média de uso diário de água potável é de 5 litros, retiradas, muitas vezes, de lugares distantes.
Ao chamar a atenção para este problema, o Pnud iniciou uma campanha para conseguir que cada habitante do planeta possa ter acesso a, pelo menos, 20 litros de água potável por dia, independente de onde a pessoa viva ou de sua condição social.
Segundo Watkins, a falta de água potável e de redes de esgoto interfere também na atividade econômica em 2,5% do Produto Mundial Bruto, embora, na África subsaariana, esse impacto seja calculado em 5%.
Watkins propôs que a crise de água, até agora fora da agenda política de muitos países, passe a fazer parte das prioridades de cada nação, e que seu acesso seja considerado um direito humano essencial.
O pesquisador propôs também que, com o objetivo de enfrentar a crise, cada país destine pelo menos 1% de seu Produto Interno Bruto no desenvolvimento de redes de água potável e de esgoto. Essa porcentagem é duas vezes maior que a utilizada no Quênia, por exemplo, para este fim (0,4%).
"Não há investimento que traga mais benefícios", afirmou.
Fonte: Último Segundo notícias
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"O sexto derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates, e secaram-se as suas águas para que se abrisse caminho aos reis do oriente". (Ap 16,12)