06.11.2009 - A organização internacional católica Ajuda à Igreja Necessitada (AIN) denunciou, através de "uma fonte próxima aos bispos da Venezuela", que o governo de Hugo Chávez confiscaria templos, escolas e propriedades eclesiásticas no país com o propósito de "eliminar o trabalho da Igreja".
Segundo a fonte citada pela AIN, que pediu manter-se no anonimato por razões de segurança, a tensão no país "acrescentou-se logo depois da decisão do presidente (Chávez) de confiscar instituições financeiras líderes que rodeiam o Lago Maracaibo e que estão relacionadas à indústria do petróleo".
Deste modo revelou que há seis semanas em uma área densamente povoada de Caracas, um líder distrital anunciou os planos para expropriar diversas escolas dirigidas pela Igreja. Alguns membros do governo assinalaram então que a iniciativa procurava proteger construções de importância nacional, mas "alguns representantes da Igreja temem que este seja o primeiro passo para um programa geral de confisco que afetaria as propriedades eclesiásticas em todo o país", afirma a nota da AIN.
A fonte também explicou que "ninguém sabe o que reserva o futuro, mas ele (Chávez) poderia confiscar Igrejas, escolas e outras propriedades eclesiásticas. Poderia tentar eliminar o trabalho da Igreja, que costumava receber subsídios do governo, mas que foram se reduzindo nos últimos oito anos. Particularmente isto teve um mau efeito nas escolas da Igreja".
Algumas informações assinalam nos últimos dias que cada semana morrem mais e mais jovens. Sobre este tema a fonte indicou que "os ministros e o governo vêem isto como um ataque contra os políticos e não vêem que os bispos estão pondo uma luz vermelha para estes problemas no país".
"Chávez considera que a Igreja é a inimizade do socialismo do século XXI cada vez que Ela é crítica com o governo, sem ver que a Igreja Católica só está tentando fazer que sua voz seja escutada quando existe alguma injustiça", explica a fonte.
Depois de assinalar que alguns sacerdotes denunciam as injustiças do governo do Chávez na localidade de Los Teques, perto de Caracas, a fonte ressalta que "é importante que as pessoas pensem e analisem cada situação em que Hugo Chávez implementa seu socialismo pois não respeita a dignidade da vida". "Os católicos devem gerar, além da análise crítica, respostas que partam da Doutrina Social da Igreja", acrescenta.
Chávez também anunciou há um ano planos para confiscar campos de golfe no país. Ao respeito a fonte assinalou à AIN que "o golfe é visto por ele como um esporte elitista, o que o levou a decisão de confiscar a terra".
AIN, conclui a nota, expressou seu "séria preocupação pelas constantes ameaça à Igreja na Venezuela desde que o Presidente Chávez assumiu o poder".
Fonte: ACI
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Lembrando...
Apostasia na Venezuela: Simpatizantes de Chávez fundam Igreja Católica Reformada
01.08.2008 - De uma capela improvisada em uma escola, onde um retrato do presidente Hugo Chávez e slogans revolucionários de seu governo adornam a entrada, os bispos da nova Igreja Católica Reformada da Venezuela davam as boas-vindas aos fiéis na missa dominical.
O bispo missionário Simon Alvarado, 39 anos, dedilhava um violão e liderava a pequena congregação no canto de hinos. O bispo auxiliar Jon Jen Siu-García, 37 anos, pregou um sermão de assistência aos pobres enquanto sua esposa, Hiranioris Calles, 24 anos, sorria para ele sentada em uma cadeira branca de plástico.
"A Igreja Romana teme que possa perder mais padres como nós", disse Siu-García. Ele é filho de imigrantes, pai cantonês e mãe colombiana, que se estabeleceram nesta cidade rude à beira do Lago Maracaibo. "E deve ter medo, dado o nível de escândalos em torno dos abusos internos e da hipocrisia no combate à pobreza."
A deserção de um punhado de padres e a formação por eles da Igreja Católica Reformada, uma Igreja cismática abertamente simpatizante do governo de Chávez, mas estranhamente aliada dos anglicanos conservadores do Texas, provocou a ira dos líderes católicos romanos na Venezuela. Desde sua fundação em junho, a nova Igreja tem alimentado um debate sobre a relação entre religião e política em um dos países mais seculares da América Latina.
"O que eles querem fazer é colocar um fim à Igreja Católica, mas não tiveram sucesso", disse o arcebispo Roberto Luckert, um dos críticos mais estridentes de Chávez na hierarquia católica romana da Venezuela, em um programa de rádio denunciando a nova Igreja.
Ele foi duro em suas críticas. "Eles se vestem como padres, ministram batismos e crismas - tudo pago pelo governo - enquanto as pessoas passam fome", ele disse sobre a nova Igreja.
Mas os líderes da nova Igreja Católica Reformada dizem que a nova Igreja representa uma fusão do melhor das tradições anglicanas e católicas romanas. E apesar de negarem categoricamente receber financiamento do governo Chávez e insistirem que sua Igreja não tem afiliação política, eles professam solidariedade a Chávez, que repetidamente entrou em choque com a hierarquia católica romana desde que chegou ao poder há uma década.
"Eu compartilho o projeto revolucionário do presidente Chávez, já que é um projeto socialista e humanista para as massas", disse Enrique Albornoz, um ex-ministro luterano que é o principal bispo, o líder, da Igreja Católica Reformada. A Igreja diz contar com 2 mil fiéis em Cabimas e em outras cidades petrolíferas em Zulia, o Estado mais populoso da Venezuela.
À primeira vista, Zulia pode parecer uma origem improvável para uma cisma, impregnada com a teologia da libertação, a escola de pensamento que abalou a Igreja Católica Romana na América Latina nos anos 60, ao defender o ativismo político para levar a justiça aos pobres.
Governado por um líder de oposição que concorreu contra Chávez para presidente em 2006, o Estado de Zulia no oeste permanece um bastião de oposição conservadora ao governo central. Muitos de seus moradores vêem com desconfiança a redistribuição da riqueza dos campos de petróleo ao redor do Lago Maracaibo para as áreas mais pobres do país.
Mas a própria Zulia é um estudo de contrastes. O Estado é lar não apenas de ricos pecuaristas e homens do petróleo, mas também de lugares que de fato produzem petróleo, como Cabimas e outras cidades. Nestes distritos, a pobreza opressiva persiste após 10 anos de governo Chávez e, com ela, um feroz debate sobre justiça social.
"Chávez está executando a obra de Deus e espero que nossos padres daqui façam o mesmo", disse Janeth Vicuna, uma dona de casa de 54 anos que freqüenta os cultos da Igreja Católica Reformada. "A velha Igreja Católica alega trabalhar em prol dos necessitados, mas o que têm feito por nós em todos estes séculos?"
Este tipo de desafio abala periodicamente a política venezuelana desde o século 19, quando o ditador Antonio Guzmán Blanco confiscou grande parte das propriedades da Igreja Católica Romana e tentou, sem sucesso, criar uma Igreja nacional independente de Roma.
A Venezuela emergiu deste conflito como um dos países mais seculares da América Latina, juntamente com o Uruguai e, nas últimas décadas, Cuba sob Fidel Castro.
"Este é outro soco no olho da Igreja Católica venezuelana", disse Andrew Chesnut, um especialista em catolicismo na América Latina da Virginia Commonwealth University.
A Comunhão Anglicana, com cerca de 77 milhões de membros em todo mundo, se recusou a reconhecer a Igreja Católica Reformada, apesar de sua adoção declarada das tradições anglicanas.
Em vez disso, a nova Igreja, em busca de credibilidade, obteve o endosso de uma divisão, a Igreja Anglicana Conservadora da América do Norte. O grupo, parte do qual comandado do Texas, discorda do liberalismo da Igreja Episcopal, que aprovou um bispo assumidamente gay em 2003.
"Nós não estendemos o privilégio da inclusão levianamente", disse A. Dale Climie, um arcebispo anglicano conservador dos arredores de Houston. "As autoridades católicas romanas decidiram que a melhor forma de depreciá-los era alegar algum tipo de ligação com Chávez."
A Igreja Católica Reformada não ordena bispos do sexo feminino ou assumidamente gays, nem permite o casamento gay. "Mas não somos homofóbicos, já que nossos cultos são abertos a todos", disse Siu-García.
Enquanto o bispo e seus colegas falam de uma expansão não apenas na Venezuela, mas também nos países vizinhos, os líderes católicos romanos aumentaram suas críticas à organização. O cardeal Jorge Urosa, o arcebispo católico romano de Caracas, a condenou como "uma espécie de canja de galinha, uma salada verde, algo que não terá qualquer coerência interna".
Apesar dos líderes da Igreja Católica Reformada elogiarem os programas antipobreza de Chávez, eles hesitam em discutir por que a pobreza continua tão comum na Venezuela, em um momento de preços recordes do petróleo. E eles apenas sorriem quando perguntados sobre o pensamento religioso de Chávez, como sua afirmação de que Jesus foi o primeiro socialista.
"Nós nunca dissemos ser a igreja de Chávez", disse Siu-García. "Apenas por acaso compartilhamos muitas das mesmas idéias do nosso presidente."
Alvarado, um dos padres católicos romanos que formaram a nova Igreja, disse que uma fonte de inspiração foi Oscar Romero, o arcebispo de El Salvador que foi morto por um esquadrão da morte de direita em 1980, após trabalhar para o empoderamento dos pobres durante a guerra civil do país.
Aparentemente a nova Igreja está se liberalizando de várias formas. Em junho, após 10 anos como padre católico romano, Alvarado celebrou seu casamento na igreja com Astrid Torres, 23 anos, sua ex-assistente, com a qual tem uma filha de 11 meses. "Eu diria que 50% dos padres católicos na Venezuela têm secretamente esposas", disse Alvarado.
Ele acrescentou: "É nossa missão libertar os pobres do jugo dos outros e ao mesmo tempo termos uma vida plena própria".
Fonte: Terra notícias