09.09.2009 - Evidenciada de modo sublime no Concílio Vaticano II e no magistério do Papa João Paulo II, a característica missionária da Igreja enfatiza a sua obrigação em anunciar o Evangelho a toda criatura, conforme enfatizou Jesus Cristo antes da sua ida para junto de Deus (cf. Mc 16,15). Faz parte da sua essência, conforme ressaltou o decreto Ad Gentes, constituinte do Vaticano II, o anúncio do Evangelho e, é claro, o seu cumprimento, uma vez que é ele que dá à pregação autenticidade. Essa questão já foi levantada por muitíssimas autoridades da Igreja. A missão evangelizadora é importantíssima na vida da Igreja. O que se vê no laicato, em alguns presbíteros e em alguns membros da Igreja de um modo geral, no entanto, é um total desvio desse foco missionário. Por isso, o Papa Bento XVI, na Mensagem para o Dia Missionário Mundial de 2009, salienta: “a Igreja não age para ampliar o seu poder ou reforçar o seu domínio, mas para levar a todos Cristo, salvação do mundo”.
O Concílio Vaticano II deu tanta importância para a questão missionária da Igreja justamente para deixar claro qual o caminho que a Igreja deve seguir; somente dessa forma ficará clara qual é a meta da Igreja nesse mundo: levar o Evangelho, e não “ampliar o seu poder” ou “reforçar o seu domínio”. Muitos missionários da Igreja hoje estão desencaminhados: pregam um Deus totalmente distorcido pela visão ambicionista do homem e sujam a imagem da religião, deixando os fiéis leigos como “ovelhas sem pastor” (Mc 6,34). Tudo isso porque querem trazer a realidade de Deus e fechá-la, reduzi-la no mundo. Querem minimizar Deus a esse mundo material, esquecendo-se da escatologia cristã, que Jesus pregou de modo até mesmo duro em seus discursos. Desejam afirmar, querendo agradar aos não-crentes, que a prática da Palavra é algo que se limita ao materialismo mundano e aí arrancam do anúncio do Evangelho a sua verdadeira finalidade: transportar o homem à sua verdadeira Pátria, que é o Céu.
Com efeito, o missionário da Palavra de Deus deve ter em mente aquilo que o Papa Bento XVI destacou na mesma Mensagem para o Dia Missionário: “A sua missão e o seu serviço não se limitam às necessidades materiais ou mesmo espirituais que se exaurem no âmbito da existência temporal, mas na salvação transcendente que se realiza no Reino de Deus” (n. 2). A Igreja Militante, da qual fazemos parte, é somente o início do desdobramento daquela realidade escatológica anunciada por Cristo: “Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo…” (Mt 25,34s). Nessa passagem bíblica – faz-se mister verificar – Jesus basicamente ensina que precisamos praticar a caridade para com os irmãos, pois só assim poderemos desfrutar dos bens do Reino de Deus.
E não é a pregação da Palavra um exemplo magnífico da caridade? Não destacou o Santo Papa Bento XVI, na encíclica Caritas in Veritate, que “[s]ó na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida” e que “[a] verdade é luz que dá sentido e valor à caridade” (n. 3)? A pregação do Evangelho, cumprimento da missão da Igreja, nada mais é do que a pregação caritas, traduzida na passagem de Mt 25, 35-36, unida à pregação veritas, que é o impulso da Igreja a levar os homens à participação no Reino dos céus. Por isso Bento XVI exorta:
“Este Reino, mesmo sendo em sua essência escatológico e não deste mundo (cf. Jo 18,36), está também neste mundo e em sua história é força de justiça, paz, verdadeira liberdade e respeito pela dignidade de todo ser humano. A Igreja mira em transformar o mundo com a proclamação do Evangelho do amor” (Mensagem para o Dia Missionário, 2).
A missão da Igreja encaminha o homem a um Reino que não é deste mundo. Contudo, para passarmos para o outro mundo, a realidade eterna da qual Deus quer que desfrutemos, precisamos desempenhar nossas atividades primeiramente nesse mundo, propagando a mensagem de Cristo e realizando a sua vontade. Por isso Bento XVI diz que a Igreja visa transformar o mundo proclamando a Palavra de Deus. Sim, pois Ela sabe que só assim o mundo gozará da verdadeira felicidade e poderá, junto com a Igreja, chegar à morada celeste.
Por fim, depois de anunciar a mensagem de Jesus, é momento de se preparar para as perseguições. “Se perseguiram a mim – alertou-nos o Cristo -, vão perseguir a vós também” (Jo 15,20). Seguir o martírio: é essa a cruz final de todo cristão que tem em mente anunciar o Evangelho a toda criatura. Diz o Papa: “A Igreja se coloca no mesmo caminho e passa por tudo aquilo que Cristo passou, porque não age baseando-se numa lógica humana ou com a força, mas seguindo o caminho da Cruz e se fazendo, em obediência filial ao Pai, testemunha e companheira de viagem desta humanidade” (Mens. Dia Miss., 4).
Se por um lado o caminho que conduz ao Reino é cheio de alegria e felicidade, por outro, é um caminho da Cruz, ornado de espinhos e pedras: a perseguição é quase que inevitável. Não podemos ver essa perseguição como uma contradição à felicidade que nos propõe a Sagrada Escritura. Diz o beato Pier Giorgio Frassati: “[A] finalidade para a qual nós fomos criados nos mostra o caminho que, mesmo com muitos espinhos, não é de nenhum modo triste. É um caminho alegre, mesmo através da dor” (à sua irmã Luciana, 1925). Olhar para a dor da cruz como uma forma de gozar da alegria é magnífica. Oxalá pudéssemos todos cultivar essa visão do sofrimento! Que Nossa Senhora, a Virgem Auxiliadora, nos ajude a ter essa visão. O que não podemos é desanimar diante das dificuldades que encontramos, conforme exorta o Papa aos bispos do Brasil:
“Impressionam as distâncias que vós mesmos, juntamente com vossos sacerdotes e demais agentes missionários, tendes de percorrer para servir e animar pastoralmente os respectivos fiéis, muitos deles a braços com problemas próprios duma urbanização relativamente recente onde o Estado nem sempre consegue ser um instrumento de promoção da justiça e do bem comum. Não vos desanimeis! Lembrai-vos que o anúncio do Evangelho e a adesão aos valores cristãos, como afirmei recentemente na Encíclica Caritas in Veritate «é um elemento útil e mesmo indispensável para a construção duma boa sociedade e dum verdadeiro desenvolvimento humano integral» (n. 4)” (Discurso do Papa Bento XVI aos bispos da CNBB, regiões Oeste 1 e 2).
Que Deus nos abençoe e nos ajude na missão de evangelizar. Que quebremos todas as barreiras que nos impedem de levar a todos a Palavra de Jesus Cristo e que a dimensão escatológica e ao mesmo tempo difícil do anúncio do Evangelho não seja por nós esquecida, afinal, só renovando constantemente a nossa missão podemos promover uma evangelização verdadeira.
Graça e paz. - Everth Queiroz Oliveira:
Fonte: http://beinbetter.wordpress.com