Com 7 mortes, gripe suína muda cotidiano de cidade gaúcha


 01.08.2009 - A vida na cidade gaúcha de Passo Fundo mudou radicalmente nas últimas semanas. Atividades do dia a dia como almoçar em restaurante, ir ao cinema, acompanhar uma peça de teatro, fazer compras e frequentar missas desapareceram temporariamente do cotidiano de parte da população.

Eternizado nas composições de seu habitante mais ilustre, o cantor Teixeirinha, o município do Norte do Rio Grande do Sul respira com receio. Em 28 de julho, testemunhou a primeira morte por gripe suína no Brasil. Desde então, os quase 200 mil habitantes ouvem o nome da cidade cruzar o território gaúcho a cada nova morte confirmada. E o mais difícil, tem de aprender a conviver sob a permanente ameaça do novo vírus.

Com sete mortes registradas até o momento - 28% do número contabilizado no RS -, a cidade foi sufocada pelo medo da gripe suína. Além de acuar o cotidiano dos moradores, o vírus impacta na economia da cidade. As vendas no comércio, conforme estimativa do sindicato dos lojistas, despencaram cerca de 40% no período.

Assustadas com o vírus H1N1, as autoridades tomaram uma série de medidas às pressas. Recomendaram a suspensão de eventos como festas, apresentações artísticas e solenidades de formatura das turmas da principal universidade da região. O maior hospital passou a ignorar o protocolo do Ministério da Saúde para uso do Tamiflu e fornecer o medicamento a todos os pacientes com alteração pulmonar perceptível - o governo federal recomenda que o remédio seja aplicado somente para casos graves e pacientes do grupo de risco.

Em reunião com a secretaria de Saúde do Estado, o diretor de um hospital cogitou a possibilidade da cidade literalmente parar. Ele sugeriu a suspensão de algumas atividades por tempo indeterminado. Apesar de o palpite ter sido descartado pelas autoridades de saúde, amedrontou ainda mais a população. "Era uma posição pessoal dele. O próprio comitê que analisa a situação não levou a ideia a sério", esclarece o prefeito Airton Dipp.

Em seu terceiro mandato, Dipp admite dificuldade de agir diante de uma epidemia cuja dimensão ainda é desconhecida. "É a situação mais difícil que enfrento. Se ocorrer uma chuva de granizo e desabrigar a população, por exemplo, sabemos como proceder, qual é a solução para o problema. No caso da gripe suína, não sabemos quase nada", compara.

Além da desconfiança das próprias autoridades sanitárias sobre a dimensão da doença, o prefeito aponta outros dois obstáculos no enfrentamento da gripe. "É uma anomalia que trata diretamente com o risco da população e que achávamos que ainda estava distante da nossa realidade. Por isso, foi um impacto", completa.

Desde o final de junho, quando a primeira morte foi confirmada, o secretário municipal de Saúde, Alberi Grando, destina metade do seu tempo para discutir medidas contra a gripe suína. Assim como o prefeito, ele aponta a ausência de uma medida capaz de frear os casos como o principal entrave. "É a minha incumbência mais difícil aqui. As pessoas (pacientes) esperam muito e querem uma solução. Elas desconfiam, pensam que você esconde algo", conta.

O secretário acredita na condição de pólo regional de saúde do município para justificar a disparada no número de mortes em comparação a outras cidades. "Recebemos pacientes da região inteira. Por isso, alguns podem não serem daqui, mas falecem aqui. De qualquer forma, acredito que daqui uns dias várias cidades estarão com índices semelhantes ao nosso", opina.

O que já mudou na rotina de Passo Fundo

Movimento no comércio caiu 40%
Rua onde se concentram as principais lojas de roupas e calçados de Passo Fundo, a Moron é termômetro para medir o movimento do comércio da cidade. Nas últimas semanas, a via parece abandonada, sem o seu tradicional corre-corre de sacolas. Administradora de um shopping na rua, Elena Daldon calcula uma redução de 40% nas vendas das lojas. "Até os clientes de outras cidades da região deixaram de vir", lamenta. Os efeitos do vírus transitam também por outras ruas de comércio forte. O sindicato dos lojistas informa que alguns estabelecimentos registram prejuízos acima da média de 40%. "Chegam a falar em 60% de queda. De fato, acreditamos que o movimento nas ruas diminuiu nessa proporção. Vivemos o pico da nova gripe", diz o presidente do sindicato, Derli Neckel.

Sessões de cinema no domingo recebem 10 pessoas
Um dos poucos programas culturais sobreviventes no município, o cinema tem sessões quase vazias nas últimas duas semanas. Com capacidade para mais de 500 espectadores, as duas salas dentro de um shopping contabilizam cerca de 10 poltronas ocupadas em pleno domingo, mesmo com longas-metragens recordes de bilheteria em cartaz, como Harry Potter e a Era do Gelo 3. "As pessoas acreditam que estamos fechados. Algumas até ligam para saber se fornecemos máscaras na entrada", conta a bilheteira Michele Kurtz. No maior teatro da cidade, pertencente ao Sesc-RS, os espetáculos marcados para julho foram cancelados. Segundo a gerente do Sesc, Lisangela Antonini, a direção seguiu as recomendações de órgãos de saúde. A programação de agosto deve ser suspensa na próxima segunda-feira.

Universidade cancelou solenidades de 26 formaturas
Às vésperas da cerimônia de colação de grau, o formando em Odontologia da Universidade de Passo Fundo - a maior da região, com mais de 20 mil alunos - Vinicius Guarienti, 23 anos, descobriu pela televisão que a formatura havia sido cancelada. Assim como a dele, outras 25 solenidades foram suspensas pela instituição por causa do avanço da gripe suína. "No início, resistimos, até porque todas as despesas estavam pagas e esperamos seis anos por esse momento. Além disso, ficamos sabendo na terça-feira que não haveria a cerimônia no sábado", conta. A universidade manteve as formaturas para as mesmas datas, mas em gabinetes, com a presença somente dos pais e integrantes da faculdade. "Acredito que os acadêmicos tenham entendido a nossa decisão. De qualquer forma, todos os gestores, ao adotarem medidas com esta, estão passíveis a receber críticas", afirma o reitor Rui Soares.

PM teve efetivo reduzido em 10% por quatro dias
Nem o Pelotão de Operação Especiais da Polícia Militar da cidade resistiu ao sufoco da nova gripe. Com a morte de um PM de 38 anos do grupo com suspeita de vírus, o comando afastou os outros 22 policiais por quatro dias. O efetivo correspondente a quase 10% dos cerca de 250 homens à disposição da PM para o policiamento das ruas. "Foi a primeira vez que separamos um pelotão inteiro", comenta o comandante João Darci Gonçalves. Caso necessário, segundo ele, outros policiais serão afastados. O pelotão retornou ao trabalho na última quinta-feira. O exame do policial morto ainda não foi concluído.

Número de fiéis nas missas diminuiu 40%
A recomendação dos órgãos sanitários para evitar eventos com aglomerações de pessoas deixou parte dos disputados bancos da catedral da cidade desocupados. O H1N1 reduziu em 40% o número de fiéis nas 16 missas realizadas semanalmente, conforme o pároco da Catedral Nossa Senhora Aparecida, padre Darci Treviso. "Entendemos o comportamento dos fiéis. Deixamos todos à vontade, livres. Nosso princípio é sempre a vida. Não queremos gerar um drama na consciência da população", afirma. Por precaução, as celebrações sofreram modificações. Alguns ritos sagrados, como o abraço da paz, a oração do Pai-Nosso de mãos dadas e a pia de água benta, foram temporariamente dispensados.

Defensoria queria a libertação de presos
Com capacidade para 420 detentos, mas superlotado com mais de 700, o Presídio Regional de Passo Fundo esteve no foco de uma da medida polêmica sugerida para distanciar a gripe suína. A Defensoria Pública do Estado encaminhou à Justiça um pedido de liberação dos presos do regime semi-aberto para a prisão domiciliar. O órgão argumentou que os 175 detentos do regime semi-aberto poderiam trazer o vírus H1N1 para os demais presos quando retornam de suas atividades, à noite. O Ministério Público negou a libertação. Para a promotoria, sem o registro de casos de gripe suína na penitenciária, o pedido não tinha embasamento legal.

Redação Terra

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Diz na Sagrada Escritura:

"Haverá grandes terremotos por várias partes, fomes e pestes, e aparecerão fenômenos espantosos no céu". (Lc 21,11)

"E vi aparecer um cavalo esverdeado. Seu cavaleiro tinha por nome Morte; e a região dos mortos o seguia. Foi-lhe dado poder sobre a quarta parte da terra, para matar pela espada, pela fome, pela peste e pelas feras". (Ap 6,8)


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