Mudança climática já causa 315 mil mortes por ano, diz estudo


29.05.2009 - A mudança climática mata cerca de 315 mil pessoas por ano, de fome, doenças ou desastres naturais, e o número deve subir para 500 mil até 2030, segundo um relatório divulgado nesta sexta-feira pelo Fórum Humanitário Global (FHG), entidade com sede em Genebra. O estudo estima que a mudança climática afete seriamente 325 milhões de pessoas por ano, e que em 20 anos esse número irá dobrar, atingindo o equivalente a 10% da população mundial da atualidade (6,7 bilhões).

Os prejuízos decorrentes do aquecimento global já superam os 125 bilhões de dólares por ano -- mais do que o fluxo da ajuda dos países ricos para os pobres -- e devem chegar a 340 bilhões de dólares por ano até 2030, segundo o relatório. "A mudança climática é o maior desafio humanitário emergente do nosso tempo, causando sofrimento para centenas de milhões de pessoas no mundo todo", disse nota assinada pelo ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, presidente do FHG. "Os primeiros atingidos e os mais afetados são os grupos mais pobres do mundo, embora eles pouco tenham feito para causar o problema", acrescentou.

 

Do lado mais fraco

De acordo com o estudo, os países em desenvolvimento sofrem mais de 90% do ônus humano e econômico da mudança climática, embora os 50 países mais pobres respondam por menos de 1% das emissões de gases do efeito estufa.

Annan defendeu que a conferência climática de dezembro da ONU, em Copenhague, aprove um tratado eficaz, justo e compulsório para substituir o Protocolo de Kyoto. "Copenhague precisa ser o acordo internacional mais ambicioso já negociado", escreveu Annan na introdução do relatório. "A alternativa é a fome em massa, a migração em massa e a doença em massa."

O estudo alerta que o real impacto do aquecimento global deve ser muito mais grave do que o texto prevê, já que sua base são os cenários mais conservadores estabelecidos pela ONU. Novas pesquisas científicas apontam para uma mudança climática maior e mais rápida. O relatório pede especial atenção às 500 milhões de pessoas consideradas extremamente vulneráveis, por viverem em países pobres propensos a secas, inundações, tempestades, elevação do nível dos mares e desertificação. Dos 20 países mais vulneráveis, 15 ficam na África, segundo o estudo. O Sul da Ásia e pequenos países insulares também são muito afetados.

O texto diz que, para evitar o pior, seria preciso multiplicar por cem os esforços de adaptação à mudança climática nos países em desenvolvimento. Verbas internacionais destinadas a isso alcançam apenas 400 milhões de dólares por ano, enquanto o custo estimado da mudança climática fica em 32 bilhões de dólares.

"O financiamento dos países ricos para ajudar os pobres e vulneráveis a se adaptarem à mudança climática não chega nem a 1 por cento do que é necessário", disse Barbara Stocking, executiva-chefe da ONG britânica Oxfam e integrante do conselho diretor do FHG. "Esta flagrante injustiça precisa ser resolvida em Copenhague em dezembro."

Fonte G1

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Lembrando...

Impacto da mudança climática é maior do que se imaginava

03.03.2007 - A mudança climática global está ocorrendo mais rapidamente do que se acreditava e seu impacto é pior do que o esperado, informa um esboço ainda não publicado da aguardada segunda parte de um relatório da ONU obtido pela "Spiegel Online"

O clima do mundo já está fora de controle? Será que a poluição das últimas décadas está tendo um impacto no presente? Isto é exatamente o que o Painel Intergovernamental para Mudança Climática da ONU teme: a influência humana ao longo dos últimos 30 anos "teve um efeito reconhecível em muitos sistemas físicos e biológicos", escrevem os autores de uma ainda não divulgada segunda parte do relatório sobre mudança climática global de 2007.

Segundo a informação obtida pela "Spiegel Online", o Painel Intergovernamental para Mudança Climática (Ipcc) está convencido de que o aquecimento global já está fazendo o mundo suar. Pelo menos esta é a essência do "Sumário para os Autores de Políticas" de autoria de um grupo composto por centenas de cientistas.

A segunda parte do relatório será apresentada em abril, em Bruxelas, após as discussões finais com representantes de governos de várias partes do mundo. O meta-estudo certamente terá um grande impacto político no debate em andamento sobre a mudança climática.

Acúmulo de evidência: a mudança climática está acontecendo agora

A principal conclusão do relatório é que a mudança climática já está tendo um efeito profundo em todos os continentes e em muitos dos ecossistemas da Terra. O esboço apresenta uma longa lista de evidência:

Lagos glaciais estão aumentando tanto em tamanho quanto em número, levando potencialmente a cheias mortais.

O gelo permanente nas regiões montanhosas e em altas latitudes está esquentando, aumentando o risco de deslizamentos de terra.

À medida que a temperatura de rios e lagos aumenta, sua estratificação térmica e qualidade da água estão mudando.

As correntes dos rios, afetadas pelo derretimento do gelo e geleiras, estão acelerando durante a primavera.

A primavera está começando mais cedo, fazendo as plantas vicejarem mais cedo e mudando a migração das aves.

Muitas plantas e animais estão expandindo seus hábitats para regiões montanhosas e latitudes mais altas que estão se tornando mais amenas.

Os autores do relatório analisaram cerca de 30 mil conjuntos de dados de mais de 70 estudos internacionais que documentam as mudanças na circulação da água, na criosfera (zonas geladas), assim como na flora e fauna ao longo do período dos últimos 20 anos.

Segundo o Ipcc, "mais de 85%" dos dados mostram "mudanças em uma direção que seria esperada como reação ao aquecimento". Em outras palavras: os pesquisadores encontraram evidência de mudanças ambientais devido ao efeito estufa causado pela humanidade em cerca de 9 de 10 casos estudados.

Os pesquisadores consideram "muito improvável" que as mudanças observadas possam ser um fenômeno natural. Eles argumentam que os padrões de aquecimento climático regional e mudanças ambientais estão casados. E existe uma consistência semelhante entre as observações dos cientistas e o que os modelos climáticos previram que aconteceria em caso de aumento de temperatura.

Natureza sob ameaça

Os especialistas da ONU vão além da situação atual. Eles também exploram como as regiões habitadas e os ecossistemas se desenvolverão no futuro à medida que o mundo se tornar mais quente.

Muitos dos recursos naturais provavelmente cairão vítima da mudança climática segundo o esboço do relatório do Ipcc:

Cerca de 20% a 30% de todas as espécies enfrentarão um "alto risco de extinção" caso a temperatura média global aumente mais 1,5 a 2,5 graus Celsius em relação aos níveis de 1990. Isto poderá acontecer até 2050, alerta o relatório.

Os recifes de corais "provavelmente sofrerão fortes declínios".

Os mangues salgados e florestas pantaneiras poderão desaparecer com o aumento do nível dos mares.

As florestas tropicais serão substituídas por savanas nas regiões onde houver redução dos lençóis freáticos.

Aves migratórias e mamíferos sofrerão à medida que mudarem as zonas de vegetação no Ártico.

O Ipcc espera que as seguintes regiões do mundo sofram mais com a mudança climática:

O Ártico, devido ao maior aquecimento relativo.

As pequenas ilhas Estados no Pacífico com o aumento do nível dos mares.

A zona ao sul do Saara da África devido à seca.

Deltas de rios densamente povoados na Ásia por causa de cheias.

Esta lista por si só deixa absolutamente claro que a humanidade não escapará ilesa destas mudanças.

Mortes provocadas pelo calor, cheias, secas, tempestades

O painel climático da ONU espera "um aumento de mortes, ferimentos e doenças causados por ondas de calor, cheias, tempestades, incêndios florestais e secas". O esboço do sumário para os autores de políticas detalha "mortalidade relacionada ao calor" especialmente na Europa e Ásia.

Várias centenas de milhões de pessoas em regiões costeiras densamente povoadas - particularmente deltas de rios na Ásia - estão ameaçadas pelo aumento do nível dos mares e pelo crescente risco de cheias. Mais de um sexto da população do mundo vive em áreas afetadas por fontes de águas de geleiras e cobertura de neve que "muito provavelmente" desaparecerão, segundo o relatório.

Especialistas em clima detalham as conseqüências potenciais para grande parte do mundo incluindo a Europa, África, Ásia, Américas, Austrália, Nova Zelândia, regiões polares e pequenas ilhas do Pacífico. Para a maioria, o aquecimento global terá efeitos negativos tanto para os seres humanos quanto para o meio ambiente de grande parte do planeta. Os aspectos positivos - como melhores produções agrícolas e de florestamento no norte da Europa - serão mais que superados pelas ameaças representadas pela elevação das temperaturas e os perigos que a acompanham.

O esboço também deixa claro quão fortemente os autores apóiam suas previsões. A maioria das conclusões pertence à categoria dois, que significa que os pesquisadores as apóiam com "forte certeza". Algumas são designadas "certeza muito forte", incluindo o exemplo de que a América do Norte será atingida por mais fortes incêndios florestais e ondas de calor nas grandes cidades, assim como a suposição de que a mudança climática representa um maior risco para as pequenas ilhas Estados.

Mais comida no norte e uma Terra possivelmente mais verde

O relatório também lista conseqüências positivas específicas devido ao aquecimento global - mas espera-se que sejam de uma natureza efêmera.

Os especialistas aparentemente não têm preocupação com a capacidade mundial de produção de alimentos. As condições para a agricultura provavelmente melhorarão em latitudes mais altas, levando a uma maior produção global geral. Mas ao mesmo tempo vários países em desenvolvimento provavelmente serão atingidos por períodos maiores de seca - ameaçando suas populações com a fome. O painel climático espera que a produção no norte e no sul apenas começará a declinar assim que as temperaturas ultrapassem mais de três graus Celsius. No geral, eles atribuem uma "confiança média" às suas previsões sobre produção de alimentos.

O aumento das concentrações de dióxido de carbono na atmosfera da Terra inicialmente ajudará o mundo vegetal. O crescimento da vegetação será mais forte e o planeta se tornará mais verde. A absorção de CO2 pela vida vegetal até certo ponto trabalhará contra a mudança climática, mas não para sempre. "Na segunda metade do século, os ecossistemas terrestres se tornarão uma fonte de carbono que então acelerará a mudança climática", alerta o relatório do Ipcc.

A capacidade dos oceanos do mundo de absorver CO2 também deverá estar esgotada até o final do século 21. Àquela altura eles poderão começar a liberar gases responsáveis pelo efeito estufa em vez de absorvê-los.

Nações ricas também em risco

Apesar de que os habitantes dos países mais pobres, em desenvolvimento, provavelmente serão aqueles que sofrerão mais com a mudança climática, o relatório do Ipcc deixa claro que os países industrializados mais ricos, como os Estados Unidos, também correm risco. A América do Norte, alerta o relatório, não está preparada para "os crescentes riscos e perdas econômicas causadas pela elevação dos mares, tempestades e cheias". O relatório do Ipcc também detalha explicitamente a ameaça representada pelas tempestades tropicais. A mudança climática deverá aumentar o número de furacões fortes, o que leva à preocupação de que as seguradoras poderão se recusar a cobrir danos em regiões ameaçadas por tais tempestades, como Nova Orleans e o restante do Golfo do México.

Assim como fizeram na primeira parte do relatório do Ipcc, divulgado em fevereiro, os especialistas em clima alertam que a poluição do ar e os gases responsáveis pelo efeito estufa provavelmente terão efeitos duradouros, já que o clima do planeta reage lentamente às mudanças. Já é "fato consumado" que as temperaturas médias perto do solo aumentarão mais 0,6 grau Celsius até 2100, segundo o relatório. A humanidade não terá escolha a não ser se adaptar às mudanças climáticas.

Segundo informação obtida pela "Spiegel Online" no final de fevereiro, o painel climático exigirá mudanças radicais e investimento maciço contra o aquecimento global na terceira parte do relatório, que deverá ser divulgado em maio em Bancoc. Cerca de US$ 16 bilhões serão pedidos até 2030 e a humanidade tem apenas até 2020 para reverter a tendência.

Não se sabe se o sumário para os autores de políticas será divulgado na forma atual. Representantes de vários países lutaram em torno da linguagem da primeira parte do relatório até o último minuto antes de sua publicação. Porque, é claro, tanto para os cientistas quanto para os políticos, faz uma grande diferença se as conseqüências da mudança climática serão "prováveis", "muito prováveis" ou "praticamente certas".

Fonte: UOL notícias
 


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