Derretimento de geleiras faz terra subir no Alasca


24.05.2009 - O aquecimento global tende a conjurar imagens de mares em alta e áreas costeiras ameaçadas. Mas em Juneau, no Alasca, como em praticamente lugar algum do mundo, a mudança climática está tendo efeito oposto. À medida que as geleiras derretem, lá, a terra sobe, e o mar recua.

Morgan DeBoer, empresário do setor de imóveis, abriu um campo de golfe com nove buracos na região da Baía Glacier, em 1998; quando sua família chegou à região, 50 anos atrás, o terreno que hoje abriga a pista de golfe estava sob as águas. "As marés mais altas do alto chegavam, então, ao meio da minha pista", diz DeBoer. Agora, com a linha de maré recuando ainda mais, ele está contemplando a possibilidade de acrescentar mais nove buracos e instalar um campo de golfe de tamanho regulamentar. "A terra continua a subir".

As questões geológicas envolvidas são complexas, mas se pode resumi-las da seguinte forma: liberta da pressão de bilhões de toneladas de geleiras, a terra sobe mais ou menos como uma almofada retoma sua forma original quando alguém se levanta do sofá. A terra tem subido tão rápido que a alta dos mares - um produto onipresente do aquecimento global não consegue acompanhar o ritmo, por aqui. Como resultado, o nível relativo do mar está caindo em ritmo "dos mais altos já registrados", de acordo com um relatório preparado em 2007 por um painel de especialistas convocado por Bruce Botelho, o prefeito de Juneau.

A Groenlândia e alguns outros lugares experimentaram efeitos semelhantes causado pelo degelo generalizado iniciado mais de 200 anos atrás, dizem os geólogos. Mas eles acrescentam que os efeitos são mais perceptíveis aqui em Juneau e nas cercanias, onde o índice de recuo das geleiras é da ordem de 10 m ao ano ou mais.

Como resultado, a região enfrenta desafios ambientais incomuns. À medida que o nível do mar cai com relação à terra, os lençóis aqüíferos também caem e os riachos e terras alagadas secam. Terra emerge da água e substitui os alagadiços, o que altera os limites de terrenos e faz com que as pessoas passem a discutir quem é proprietário dessas novas áreas e como elas deveriam ser usadas.

E a água que o derretimento das geleiras gera transporte à costa os sedimentos que as geleiras acumularam durante milênios e eles turvam as águas marinhas e obstruem canais até recentemente navegáveis. Algumas décadas atrás, barcos de grande porte navegavam regularmente pelo Canal de Gastineau, que unia o centro de Juneau à Ilha Douglas, chegando à Baía Auke, um porto cerca de 15 km a noroeste.

Hoje, boa parte do canal é um lodaçal cujo fundo fica exposto na maré baixa. "Há tanto sedimento vindo da geleira de Mendenhall e dos rios que o canal está basicamente obstruído", diz Bruce Molnia, geólogo do Serviço de Levantamento Geológico dos Estados Unidos, que estuda as geléias do Alasca. As pessoas já conseguem atravessar o canal a pé, na maré baixa ¿ou correr através dele, como na Mendenhall Mud Run. Na maré baixa, as bóias de navegação repousam sobre o lodo.

Por fim, quando a terra continuar subindo e o canal se obstruir de todo, a Ilha Douglas terminará conectada ao continente por uma faixa de terra, diz Eran Hood, hidrologista da Universidade do Alasca Sudeste e autor de um relatório sobre o impacto da mudança climática sobre Juneau, publicado em 2007. Quando isso acontecer, disse Hood, um refúgio de 1,6 mil hectares para a fauna de terras úmidas estará perdido. "Não haverá substituição daqueles alagadiços", ele diz.

Em alguns pontos ao longo da costa, a mudança foi tão rápida que os praticantes de caiaque cujas cartas de navegação não estão muito atualizadas podem ter de carregar os barcos nas costas para passar por escolhos altos e secos a ponto de permitir a presença de grama ou até mesmo de pequenas árvores. Em Juneau e na região vizinha, "pode-se andar e ver o que era o fundo do mar se transformando em pradaria, que pode vir a ser uma floresta no futuro", afirmou Hood.

As mudanças topográficas ameaçam importantes ecossistemas e espécies vitais para a economia local, como o salmão. "A base da economia de nossa região são as espécies de salmão e seu retorno é qual será o impacto quando eles retornarem e as correntezas tiverem secado?", questiona Botelho, que nasceu e viveu a vida inteira em Juneau. "O salmão define a nossa identidade como região, define quem somos nós".

Ele disse que não imaginava que houvesse espécies em risco iminente, mas acrescentou que "qualquer pessoa que esteja acompanhando a mudança climática certamente sabe que existem riscos, talvez até ainda mais graves". Hood disse que muita gente em Juneau quer lutar para tentar uma via aquática conhecida como Duck Creek, que serve para a desova dos salmões. Mas os pequenos riachos como esse "parecem estar secando", disse.

A terra em Juneau subiu em até 10 m com relação ao mar, em pouco mais de 200 anos, de acordo com relatório de 2007. E deve continuar a subir à medida que o aquecimento global se acelera, por até um metro adicional até 2010, de acordo com os cientistas.

A elevação é alimentada ainda mais pelo movimento das placas tectônicas que formam a crosta da Terra. À medida que a placa do Pacífico pressiona para cima a da América do Norte, Juneau e a Floresta Nacional Tongass, uma área de relevo acentuado em torno da cidade, tendem a subir ainda mais. "Quando combinamos a ação tectônica ao reajuste glacial, temos um ritmo de elevação quase incompreensível", disse Molnia.

Fonte: Terra notícias

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Lembrando...

Aquecimento causa "terremotos glaciais" e eleva nível dos mares

23.03.2006 - O aquecimento global desencadeou uma série de "terremotos glaciais" em regiões polares e o degelo pode aumentar o nível dos oceanos mais rápido do que se achava antes, segundo estudos publicados hoje pela revista "Science".

Esses trabalhos se somam a outras pesquisas divulgadas pela revista que mostraram neste mês uma aceleração do derretimento das geleiras da Groenlândia, despejando grande quantidade de água sobre o Atlântico, e uma redução da camada de gelo na Antártida.

Segundo sismólogos das universidades de Harvard e de Columbia, os "terremotos glaciais", causados pelo choque de enormes geleiras, registraram magnitudes de até 5,1 graus na escala Richter e se duplicaram na Groenlândia desde 2002.

"As pessoas acham que as geleiras são inertes ou lentas. Mas, de fato, agora elas estão se movimentando rapidamente", disse Goran Ekstrom, professor de geologia e geofísica da Faculdade de Artes e Ciências da Universidade de Harvard.

"Algumas geleiras da Groenlândia, tão grandes como a ilha de Manhattan e altas como o edifício Empire State, podem se deslocar 10 metros em menos de um minuto e causar um choque que pode gerar ondas sísmicas", declarou Ekstrom.

Os cientistas explicam esse aumento de velocidade através da mesma teoria sobre o aumento do derretimento das geleiras da Groenlândia sobre o Atlântico norte.

Esta teoria mostra que a temperatura alta derrete o topo dos blocos de gelo e a água acumulada na base se transforma em um lubrificante para o deslocamento das massas de gelo sobre o mar.

"Nossos resultados sugerem que estas enormes geleiras podem responder à mudança das condições climáticas mais rapidamente do que pensávamos", disse Meredith Nettles, pesquisadora do Observatório Terrestre Lamont-Doherty, da Universidade de Columbia.

Os cientistas indicaram que sua pesquisa, financiada pela Fundação Nacional das Ciências, também determinou que, embora os "terremotos glaciais" sejam mais freqüentes na Groenlândia, eles também ocorrem no Alasca e nos "rios" de gelo ao redor da Antártida.

Outros dois estudos baseados em modelos informáticos das condições do Paleolítico, há 130 mil anos, estabeleceram também que o derretimento no Ártico e na Antártida pode aumentar o nível dos mares mais rapidamente do que se esperava.

Essas pesquisas, que contaram com a participação de cientistas canadenses e americanos, prevêem que os verões árticos em 2100 serão tão quentes como os de 130 mil anos atrás, quando os níveis marítimos estavam seis metros acima do nível atual.

"Embora o foco de nosso trabalho esteja nos pólos, as implicações são globais", ressaltou Bette Otto-Bliesner, cientista da Universidade do Arizona.

"As plataformas de gelo se derreteram antes e os níveis marítimos aumentaram. O calor necessário para isso não está muito acima das atuais condições", acrescentou a cientista.

As pesquisas, que também contaram com a participação de cientistas do Instituto Geológico dos EUA, mostram que a emissão de gases geradores do "efeito estufa" produzidos pelo homem pode aumentar a temperatura do Ártico entre 3 e 5 graus centígrados no verão.

Essa era, aproximadamente, a temperatura há 130 mil anos, entre a mais recente glaciação e a anterior, quando o nível marítimo era de seis metros acima dos níveis atuais, de acordo com os cientistas.

Segundo Shawn Marshall, analista em geleiras da Universidade de Calgary, a diferença entre o Paleolítico e o presente é que as condições da época mudaram devido a um fenômeno natural, e agora as mudanças são geradas pelo homem.

"Há 130 mil anos, houve um aumento da radiação solar sobre o Ártico causada por leves mudanças na órbita da Terra em torno do Sol, o que é um ciclo normal que ocorre em intervalos de dezenas de milhares de anos", disse o analista.

No entanto, "nesta ocasião, o aquecimento é causado pelo homem, pelas emissões de dióxido de carbono, mas prevemos que os efeitos sobre o gelo do ártico, sobre o permafrost (solo terrestre permanentemente congelado) e sobre as tundras podem ser similares", acrescentou Marshall.

Fonte: Terra notícias

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"Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra a aflição e a angústia apoderar-se-ão das nações pelo bramido do mar e das ondas". (Lc 21,25)


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