19.05.2009 -Há décadas, pessoas em várias partes do mundo dizem aos médicos ouvir um roncar grave e persistente, de origem misteriosa e inexplicável.
Alguns acham que a culpa é do gás encanado ou das redes elétricas. Outros acreditam que seus ouvidos estão danificados, ou apelam para teorias conspiratórias para explicar o ruído.
Após anos de pesquisa, o audiologista David Baguley, do Addenbrooke''s Hospital, em Cambridge, na Inglaterra, acredita ter chegado à origem do problema: os ouvidos de algumas pessoas estariam ficando supersensíveis, sugere o especialista.
Baguley disse que está trabalhando para desenvolver um tratamento para o problema usando técnicas de psicologia e relaxamento.
Fenômeno global
"É um tipo de tortura, algumas vezes você quer gritar", diz uma ex-diretora de escola, a aposentada britânica Katie Jacques.
Jacques disse à BBC que ouve um barulho grave e constante, como o de um motor a diesel. Segundo ela, o ruído é pior durante a noite.
Testes de audição não conseguiram identificar qualquer problema nos ouvidos da aposentada. E, um detalhe importante, ela disse que só ouve o barulho quando está em casa.
Experiências semelhantes à de Jacques foram relatadas em várias cidades do mundo, de Vancouver, no Canadá, a Auckland, na Nova Zelândia.
E o problema parece estar crescendo, de acordo com a Low Frequency Noise Sufferers'' Association, entidade que representa pessoas afetadas pelo problema.
A associação disse já ter sido contactada por 2 mil pessoas, e entre dois e três novos casos são relatados semanalmente. A maioria das vítimas é de mulheres com mais de 50 anos.
Teorias da conspiração
Vários componentes da vida moderna foram responsabilizados pelo problema: transmissores de telefonia celular, lixo nuclear e até comunicações de baixa frequência feitas por submarinos.
Também há muita especulação na internet sobre atividades militares secretas, contatos com alienígenas e até complôs de governos.
O misterioso ronco chegou até a ser tema de um episódio da série de ficção científica de TV Arquivo X.
O audiologista David Baguley calcula que um terço dos casos tenha origem no ambiente, o que permite que o problema seja localizado e resolvido.
"Pode ser um refrigerador ou um ventilador industrial, ou uma peça de maquinaria pesada em alguma fábrica local que está causando a perturbação e que pode ser desligada", disse o especialista.
Na maioria dos casos, no entanto, não há um ruído externo que possa ser gravado ou identificado.
Sensibilidade
Baguley explica que cada um de nós possui um controle interno de volume, que nos ajuda a amplificar ruídos baixos em momentos de perigo ou de concentração intensa.
"Se você está sentado perto de uma mesa esperando pelo resultado de um exame e o telefone toca, você se assusta", disse. "Se está esperando o adolescente chegar em casa depois da festa, a chave na porta faz um barulho alto, porque seu volume interno está supersensível".
Segundo Baguley, este é um mecanismo em que nos apoiamos em momentos de tensão, quando queremos que nossos sentidos estejam em alerta máximo.
O problema, no entanto, ocorre quando um indivíduo foca sua atenção em um ruído inócuo de fundo, e este ato de concentração aciona o botão de volume interno, aumentando o som.
"Isso se torna um ciclo vicioso", ele explica. "Quanto mais a pessoa se concentra no barulho, mais ansiosa e temerosa ela se torna, o corpo responde amplificando ainda mais o som e isso causa ainda mais incômodo e estresse".
Tratamento
Para tentar romper esse ciclo, Baguley está atualmente trabalhando em um projeto com o laboratório de acústica da University of Salford, em Manchester.
O estudo usa psicologia e técnicas de relaxamento para ajudar os que sofrem do problema a ficarem menos agitados e perturbados com o som.
O experimento ainda não foi concluído, mas Baguley disse que os resultados iniciais parecem promissores, permitindo que o barulho diminua e, em alguns casos, cesse por completo.
"Há anos tenho visto pessoas com este problema na minha clínica e tem sido difícil encontrar respostas, mas agora há esperança".
A aposentada Katie Jacques, no entanto, não está convencida. Ela continua achando que o barulho vem de fora, e não de dentro da sua cabeça.
"Não sei como posso explicar para as pessoas, mas isto (o ruído) não está na minha cabeça. É como se houvesse algo na sua casa que você quer desligar e não pode. (O ruído) está lá o tempo todo".
Fonte: Terra notícias