Jornal Zero Hora: A vida secreta do bispo-presidente


26.04.2009 - Ele exercia o sacerdócio por vocação. Regras como a da castidade eram empecilhos para quem sentira desde criança o dom de dar orientação espiritual e não abria mão de exercê-lo. Na vida privada, era mais que um padre. Era um amigo. Mais que um amigo, era sedutor – pelas palavras e pelos gestos. Simpático, paternal, tinha, longe do púlpito, uma vida civil com discurso libertário e voltado para questões sociais. Por vezes, um homem divertido. E um sonho antigo teria de se chocar com os limites estabelecidos pela religião católica. Fernando Lugo, atual presidente do Paraguai, queria ser, além de padre, pai.

Desde a semana passada, sabe-se que Lugo é um homem contemplado pelos seus sonhos mais remotos. Antes mesmo de ser bispo, quando era um padre iniciante, mantinha o desejo, também, de ter um filho. Até prazo havia estabelecido: aos 55 anos. E a Igreja sabia disso. O bispo de Ciudad del Este, Rogelio Livieres, confirma.

– Ele foi denunciado por uma mulher em 2003 ou 2004, não me lembro bem. Depois, a mulher retirou a denúncia. A desconfiança ficou. Ele nunca chegou a negá-la completamente. Ali começou o seu afastamento do cargo – diz.

Em 2004 Lugo deixou de ser bispo de San Pedro. Livieres sustenta: a causa foram os insistentes boatos que circulavam à época sobre sua vida amorosa – outros dizem que o motivo era político. Tornou-se, então, bispo emérito, o que equivale a um bispo aposentado. Em 2006, renunciou ao sacerdócio para se dedicar à política e só no ano passado foi liberado pelo papa Bento XVI dos votos de pobreza, castidade e obediência. Por ora, o Vaticano e a Conferência Episcopal Paraguaia não se manifestaram sobre a paternidade admitida.

Dois amigos de Lugo traçaram para ZH um perfil do presidente: a fala serena e a afetividade conferiam sex appeal ao chamado bispo dos pobres. Seria injusto, porém, qualificá-lo como um don Juan de batina. Diversas vezes, foi ele o assediado. Discreto, Lugo evitava o assunto, até mesmo nos seus rompantes de um bom humor contagiante. Nos últimos 10 anos, os cabelos grisalhos e a estampa de credibilidade aumentaram na mesma proporção. Algo tentador para as mulheres. Os amigos, condescendentes, simplificam:

– Ele é um homem bom.

Um dos irmãos do presidente, Pompeyo Lugo, que é luterano e crítica abertamente a castidade e o celibato, confirma que a paternidade era sonho antigo do atual presidente. Algumas vezes, ele cogitou deixar o sacerdócio quando completasse 55 anos.

– Fernando sonhava em deixar o sacerdócio para escrever, lecionar, casar-se e ter filhos. Ele está tranquilo – conta Pompeyo, que se diz “feliz” pelo novo sobrinho.

Viviana está vivendo na casa de Lugo com o filho dos dois, Guillermo

A declaração do presidente, assumindo a paternidade, provocou, além de queda na sua popularidade – identificada por institutos de pesquisa –, mal-estar com seus colaboradores. Nos bastidores da campanha eleitoral, havia informações sobre a paternidade do bispo-candidato. Seus assessores Augusto dos Santos e Emilio Camacho as negavam diariamente e as atribuíam a conspirações da oposição. Ainda hoje eles dizem: acreditavam no que diziam.

Com Viviana Carrillo, cujo filho Lugo assumiu, há dúvidas sobre se o caso chegou ao fim – teoricamente, encerrou-se em 2008. Desde a última segunda-feira, ela vive na casa de Lugo em Lambaré, a 15 quilômetros do centro de Assunção e da residência presidencial. O motivo oficial: dar segurança ao menino. Policiais militares e civis resguardam a casa da Rua Duraz- no, herdada por Lugo dos seus pais. Uma freira já trabalhava no local e ajuda Viviana nos afazeres domésticos. Onde morava antes, ela era abordada por pessoas que, de carros ou motos, a ofendiam.

O tratamento dado por Lugo a Viviana pode ser só mais um capítulo em um relacionamento de 10 anos. O romance começou quando ele era bispo do departamento de São Pedro. No processo de oito páginas que tramitava no Juizado da Infância e da Adolescência de Encarnación – onde Viviana morou antes de ir para Assunção e depois de deixar Choré –, ela conta a história iniciada quando tinha 16 anos e morava na casa de sua madrinha, Edith Lombardo de Vega. Eventualmente, Lugo dormia na residência, em Choré, interior de San Pedro. Passaram-se cinco anos até que os pais de Viviana soubessem do caso, que se tornou um drama familiar.

Já em Assunção, onde vive há dois anos, a pedido de Lugo, a relação dela com o bispo era comentário corrente. E perdurava a dúvida: eram boatos ou havia fundamento? A maioria tratava o caso como lenda. Uns poucos sabiam da relação de Viviana com Lugo e do esforço que ele fazia para ajudá-la sem aparecer. Os encontros entre os dois se davam em locais discretos.

O menino sempre foi cuidado pela mãe, que não gosta de política e sentia ciúme ao ouvir comentários sobre o suposto envolvimento de Lugo com outras mulheres (especialmente as modelos Yanina González e Jéssica Cirio). Para desempenhar a maternidade em tempo integral, deixou os estudos. Mãe e filho costumavam frequentar centros comerciais. Cerca de sete meses atrás, ele caiu do apartamento em que viviam, no segundo andar do prédio em Assunção. Contam que fios de alta-tensão amorteceram a queda. Sofreu apenas ferimentos leves.

Depois de Viviana, surgiram duas mulheres que sustentam ser mães de filhos do presidente. Lugo não confirmou os dois casos. Mesmo que verdadeiros, uma coisa é certa: foram relacionamentos eventuais, com Damiana Amarilla, 39 anos e mãe de Juan Pablo, um ano e quatro meses – nome dado por ela em homenagem ao papa João Paulo II –, e Benigna Leguizamón, 27 anos e mãe de Lucas Fernando, seis anos. Damiana define Lugo como “um grande homem”. Benigna deixa transparecer a mágoa por se considerar vítima de abuso.

Fonte: Jornal Zero Hora RS


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