Artigo do Padre José do Vale: Escândalo e Decadência


06.04.2009 - No dia 09 de janeiro de 2007, o “apóstolo” (pastor) Estevam e sua esposa a “bispa” (pastora) Sonia Hernandes foram surpreendidos quando entrava nos Estados Unidos com 56 mil dólares não declarados em mochilas e dentro de uma Bíblia, como a entrada foi ilegal, eles acabaram condenados a dez meses de prisão – metade em unidade penitenciária, metade em regime domiciliar.
Assim descreve a revista Eclésia na edição nº 132 em sua Epístola da Redação: “De alguns anos para cá, membros e liderança vem se deparando com uma sucessão de fatos que abalam fé e a estrutura da tão sólida igreja Renascer em Cristo. Por fim, em janeiro último, o desabamento de sua sede, na Rua Lins de Vasconcelos, na Capital paulista, afunila ainda mais essa série de fatos negativos em torno da denominação” (1).
No terrível desabamento nove pessoas morreram e 124 pessoas ficaram feridas.
“O que será do futuro de uma das mais importantes denominações evangélica brasileira?” É a pergunta da Epístola da Redação da Revista Eclésia e de muitos outros, principalmente dos líderes denominacionais.
Como pesquisador de Religiões, Seitas e Heresias; posso afirmar com ciência que a igreja Renascer nunca mais vai retornar o seu crescimento como antes, ao contrário, como muitas outras denominações protestantes vão parar de crescer, diminuir e fechar as portas em menos de 10 anos.
Denominações no estilo da Teologia da Prosperidade e do movimento gospel vão continuar no sistema comercial da auto-ajuda e de shows religiosos.
Já vivemos a fusão do sistema capital religioso com igrejas empresas no contexto do “reality shows”.
Para tais denominações: “Adeus santas doutrinas cristãs”.
Na pós-modernidade vivemos o neo-denominacionalismo virtual. Muitos líderes apelam para o culto à celebridade. A falsa adoração no culto show. Daí o grande investimento na mídia.
Diz a antropóloga e autora do Livro ‘O Show do Eu’, Paula Sibila: “O mundo virtual estimula a criação de aparências sem conteúdo próprio. Cada vez mais é preciso aparecer para ser. A espetacularização tornou-se um modo de vida” (2).
Já dizia o grande homem de Deus, o Rev. A. W. Tozer: “Em muitos lugares o entretenimento religioso está eliminando rapidamente as coisas sérias de Deus. Muita igreja, nestes dias, tem-se transformado em pouco mais que pobres teatros onde “produtores” de quinta classe mascateiam as suas mercadorias falsificadas com total aprovação de líderes evangélicos”.
As novas denominações no esquema do modismo copiam um estatuto de doutrinas cristãs para fazer passar diante de outras denominações sérias que seguem a sã doutrina apostólica. No entanto, a prática de seus cultos, os métodos do seu trabalho e a moral do rebanho e de seus líderes revelam a verdade negada e o tamanho de suas heresias.
Os líderes que Jesus Cristo chamava-os de hipócritas e mercenários, hoje são chamados de líderes virtuais do show da fé, porém, seus dólares são reais.

DECADÊNCIA

O secretário geral da Aliança Batista Mundial (ABM), Denton Lotz conclamou os membros da denominação e os demais cristãos para que empreendam esforços na “reevangelização” do Ocidente. “No momento em que igrejas de outras partes do mundo crescem a Igreja no Ocidente, sobretudo na Europa e nos Estados Unidos, parece estar em queda e desaparecendo”, alertou Lotz. Segundo ele, a Holanda corre o risco de deixar de ser cristã; na Alemanha, cem mil pessoas deixam de ir à igreja a cada ano, e nos EUA, as denominações mais importantes perderam 20% de seus membros (3).
“Infelizmente, varias teologias evangélicas erram por não terem um ‘fio terra’, ou seja, não têm embasamento sociológico e acabam sendo irrealista. Caem na ilusão de achar que tudo depende de nós (se fizermos A, B e C, e a igreja vai crescer...) Porém não definimos totalmente o nosso próprio futuro. Precisamos aprender com o caso da igreja evangélica na Coréia do Sul. Durante as décadas de 60,70 e 80, o crescimento evangélico foi extremamente rápido por lá, e os líderes coreanos diziam que as suas igrejas cresciam porque faziam várias coisas. No entanto a partir dos anos 90, as igrejas estagnaram e até começaram a declinar em termos de porcentagem da população apesar de as igrejas continuarem a fazer as mesmas coisas. Hoje a igreja que cresce na Coréia do Sul é a católica”, afirma o especialista em igrejas evangélicas Paul Freston. (Ultimato, janeiro-fevereiro de 2009, p.40).

TEMPLOS FECHADOS

O Reino Unido, nação multinacional composta por Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, sempre foi palco de grandes revoluções sociais e religiosas ao longo dos séculos. Lá, deflagrou-se uma das primeiras tentativas da Reforma Protestante, com o inglês John Wycliffe (1324-1384), pioneiro na tradução da Bíblia, do latim para o inglês. Também teve papel importante na história do protestantismo o escocês John Knox (1505-1572), fundador do presbiterianismo, e Henrique VIII (1491-1547), um dos primeiros monarcas a romper com o papado.
A expansão do imperialismo britânico nos séculos que se seguiram à Reforma ajudou a espalhar mundo afora a doutrina protestante em todos os continentes pela intensa atividade missionária iniciada pelo sapateiro inglês, Willian Carey (1761-1834), pioneiro na evangelização da Índia. Esse movimento também foi impulsionado por grandes avivamentos espirituais, como o liderado por Charles Spurgeon (1834-1892), que, em seu ministério, chegaram a batizar, sozinho, quase 15 mil pessoas.
Da Escócia o grande desbravador e missionário na África David Livingstone (1813-1873). Da Inglaterra o renomado avivalista e organizador do Metodismo John Wesley (1703-1791).
No Reino Unido de hoje, entretanto, há poucos resquícios daqueles tempos de avivamento. Muitos templos evangélicos, alguns com mais de um século de existência foram transformados em estabelecimentos comerciais ou mesmo em locais de culto pagão.
Os dados sobre essa degradação religiosa são alarmantes. Estatísticas – divulgadas pelo movimento brasileiro Ide ás Nações, que visa a formar parcerias entre os cristãos brasileiros e britânicos dão conta que, entre 1969 e 2001, exatos 1598 templos evangélicos foram fechados em solo bretão. O estudo do movimento faz ainda uma estimativa de que outros mil templos tenham o mesmo destino na próxima década. Segundo a Aliança Evangélica do Reino Unido, a população evangélica estaria em torno de um milhão de crentes, mas estima-se que dois mil membros deixem as igrejas a cada semana (4).
É assustador, em 1960, só existiam dez mesquitas na Grã-Bretanha, hoje, esse número é chocante: são quase 700. (Fonte: Religion Today).
Se os verdadeiros cristãos vivessem a moral cristã e a obediência na propagação do Evangelho de Jesus Cristo, não teríamos um quadro tão decadente e um futuro comprometedor.
O escândalo religioso é mais danoso e demolidor do que em outra esfera secular.
Não vou citar nomes de líderes conhecidos no Brasil e no exterior que arruinaram seus ministérios e mancharam a imagem de suas denominações por causa de escândalos.
Para quem zela pela imagem do Evangelho e da Santa Igreja de Deus, não deseja vê ninguém envolvido no horror desta vergonha. Por isso, devemos ter em mente a caridade e o perdão.
Seguir como fundamento o conselho de Jesus de Nazaré: “Vigiais e orai, para que não entreis em tentação, pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26,41). O Mestre disse também: “Sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas” (Mt 10,16).
A vida do ministro de Deus deve ser pautada na modéstia, no desapego das coisas materiais, na humildade de servo de Cristo, na jornada da oração e na labuta do estudo abissal da Sagrada Escritura e na amizade de um sábio diretor espiritual.
Longe, e muito longe esteja do coração do ministro de Deus a tentação de cair na armadilha do diabo e ser ídolo real e virtual da espetacularização do “reality show”.
Hoje, mais do que nunca, a colossal tentação pela mídia com pretexto de anunciar a Boa Nova de salvação, faz com que o pregador seja conhecido e famoso. Mais famoso e badalado fica se esse tal cair em qualquer tipo de escândalo. Sujo fica como também o seu ministério e a sua denominação. Para opinião pública a sujeira fica para sempre.

CONCLUSÃO

Louco pela fama, e não podendo alcançá-la por meios lícitos. Eróstrato, jovem de Éfeso, incendiou o famoso templo da deusa Diana dos efésios, considerando o colossal santuário do universo, com a única finalidade de deixar o seu nome célebre na história.
Quantos líderes religiosos e cantores gospel, não conseguindo a fama do mundo secular, adentram no cenário religioso vestido de peles de ovelhas com belos testemunhos e lindas músicas, porém, a intenção está projetada para o dinheiro, poder e fama, e para isso incendeiam seus templos e o mundo com falso testemunho, críticas para tudo e para todos e aberrações heréticas, adoração e louvores carnais.
Na mitologia grega Pluto era o deus da riqueza. O sistema religioso no discurso ensina a verdade de Deus, todavia, na prática vive o ensinamento de Pluto.
As novas denominações neo-pentecostais vivem sem pudor as duas coisas. Tais denominações, Nova Era, auto-ajuda, estão dentro do contexto religioso da pós-modernidade.
A visão clara desse sistema religioso Neo-Pluto é o mundo virtual da internet, e a internet que é uma nova seita. Mídia-imagem-internet-ídolos e pregadores carismáticos. Quem fica livre dessa idolatria?
O diabo mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a sua riqueza, e lhe disse: “Eu te darei tudo isso, se caíres de joelhos para me adorar”. Jesus lhe disse: “Vai embora, Satanás, pois está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele prestará culto”. Por fim, o diabo o deixou, e os anjos se aproximaram para servi-lo (Mt 4,8-11).
Viver verdadeiramente a Palavra de Deus é ficar livre de todo sistema diabólico da falsa religião e do poder pecaminoso do mundo.

Pe. Inácio José do Vale
Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo
Professor de História da Igreja
Faculdade de Teologia de Volta Redonda
e-mail: [email protected]


NOTAS E BIBLIOGRAFIA

(1) Eclésia, março de 2009, pp.4 e 45.

(2) Valor, sexta-feira e fim de semana, 9,10 e 11 de janeiro de 2009, p.19.

(3) Graça, Março de 2002, p.67.

(4) Graça, Outubro de 2003, p.72.

(5) CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos: Uma História da Igreja Cristã, São Paulo: Vida Nova, 1995.

(6) MICHELLON, Ednaldo. O Dinheiro e a Natureza Humana: Como Chegamos ao Moneycentrismo? Rio de Janeiro: MK Editora, 2006.
 


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