05.04.2009 - O Papa Bento XVI presidiu hoje no Vaticano a missa de Domingo de Ramos, cerimônia que abre as celebraçoes da Semana Santa.
Na homilia ao comentar o episódio da entrada de Jesus em Jerusalém, aclamado pela multidão que canta "Bendito o Reino que vem", Bento XVI interrogou-se sobre o verdadeiro significado deste "Reino" que Jesus nos trouxe: "Mas nós, compreendemos verdadeiramente a mensagem de Jesus, Filho de Davi? Compreendemos que coisa é o Reino de que nos falou no interrogatório diante de Pilatos. Compreendemos o que significa que este Reino não é deste mundo? Ou porventura desejamos, pelo contrário, que seja deste mundo?"
Evocando a resposta de Jesus àqueles que, no Evangelho segundo São João, queriam ver Jesus, naquele Páscoa, em Jerusalém – "Se o grão de trigo, caído em terra, não morre, permanece só; mas se morre, produz muito fruto", observou o Papa: "Podemos assim reconhecer duas características essenciais deste Reino. A primeira é que este Reino passa através da cruz. É por se dar totalmente, que Jesus pode, como Ressuscitado, pertencer a todos e tornar-se presente a todos."
"Na santa Eucaristia recebemos o fruto do grão de trigo morto, a multiplicação dos pães que prossegue até ao fim do mundo e em todos os tempos".
"A segunda característica diz: o seu Reino é universal. Cumpre a antiga esperança de Israel: esta realeza de David já não conhece fronteiras. Estende-se de mar a mar – como diz o profeta Zacarias – ou seja, abraça o mundo inteiro".
"Mas isto é só possível porque não é uma realeza de um poder político, mas baseia-se unicamente na adesão livre do amor – um amor que, pela sua parte, responde ao amor de Jesus Cristo que se deu por todos".
"Temos que aprender sempre de novo ambas as coisas – acima de tudo a universalidade, a catolicidade. Esta significa que ninguém pode pôr como absoluto a si mesmo, a sua cultura e o seu mundo. Isto exige que todos nos acolhamos uns aos outros, renunciando a algo do que é nosso. A universalidade inclui o mistério da cruz – a superação de si mesmo, a obediência à palavra comum de Jesus Cristo, na Igreja comum. A universalidade é sempre uma superação de si mesmo, renúncia a algo de pessoal. A universalidade e a cruz vão pari passu. Só assim se cria a paz".
Dirigindo-se antes de mais aos jovens presentes, o Papa advertiu que, falando do grão de trigo, Jesus formula "a lei fundamental da existência humana".
"Quem pretende ter a sua vida para si, viver só para si mesmo, atar tudo em si explorando todas as possibilidades – é precisamente esta pessoa que perde a vida. Esta torna-se aborrecida e vazia. Só no abandono de si mesmo, só no dom desinteressado do eu a favor do tu, só no sim à vida maior, própria de Deus, é que também a nossa vida se torna ampla e grande".
Tudo isto porque – observou ainda o Papa - "amar significa desapegar-se de si mesmo, doar-se", libertar-se de si mesmo, "olhar em frente, para o outro – para Deus e para os homens que Ele me manda".
"De uma vida reta faz parte também o sacrifício, a renúncia. Quem promete uma vida sem este dom de si, sempre renovado, engana as pessoas. Sem sacrifício, não existe uma vida realizada. Se lanço um olhar retrospectivo sobre a minha vida pessoal, devo dizer que os momentos grandes e importantes da minha vida foram precisamente aqueles em que disse sim a uma renúncia".
"Tocamos aqui o maravilhoso mistério do amor de Deus, a única verdade realmente redentora. Mas tocamos também a lei fundamental, a norma constitutiva da nossa vida: sem o sim à Cruz, sem caminhar em comunhão com Cristo dia a dia, a nossa vida não é uma vida bem sucedida". "Quem dá a vida – quotidianamente, nos pequenos gestos que fazem parte da grande decisão – é este que a encontra. É uma verdade muito exigente, mas também profundamente bela e libertadora" – conclui o Papa. "Queira o Senhor abençoar este caminho".
Fonte: Canção Nova / Rádio Vaticano