06.03.2009 - A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) afirmou, em nota divulgada nesta sexta-feira, que acompanha "perplexa", de Roma, o caso da menina de 9 anos que engravidou de gêmeos após ter sido supostamente estuprada pelo padrasto. No fim do comunicado, os bispos afirmam que não concordam com o desfecho da história "de eliminar a vida de seres humanos indefesos".
A CNBB lamentou que o caso da menina não seja isolado e se disse preocupada com o crescente número de atentados à vida de crianças vítimas de abuso. "Repudiamos veementemente este ato insano e defendemos a rigorosa apuração dos fatos, e que o culpado seja devidamente punido, de acordo com a Justiça", afirma a nota assinada pelos arcebispos d. Geraldo Lyrio Rocha, d. Luiz Soares Vieira e pelo bispo d. Dimas Lara Barbosa.
No fim da nota, a presidência da CNBB reproduz a nota dos bispos da Regional Nordeste 2, lamentando que o episódio não tenha sido enfrentado com "serenidade tranqüilidade e o tempo necessário que a situação exigia". Os bispos citam trechos da Bíblia para condenar a prática do aborto e afirmam que o princípio de defender a vida foi o mesmo utilizado pela Igreja na defesa dos perseguidos durante a Ditadura Militar.
"Esse princípio norteou a prática da Igreja no Brasil, também na época do Regime Militar, instaurado em 1964, quando se colocou a favor da vida e da dignidade das pessoas, defendendo os direitos humanos dos perseguidos, torturados e refugiados políticos.
Gravidez
A gravidez foi descoberta depois que a garota começou a reclamar de vômitos e dores de cabeça e no abdome. Ao ser levada pela mãe à Casa de Saúde São José, em Pesqueira, município próximo de Alagoinha, foi detectada a gravidez dos gêmeos, que estavam na 16ª semana.
O padrasto dela, acusado pelo estupro, foi preso na noite do último dia 26. Segundo a polícia, ele confessou o crime e afirmava que planejava fugir da cidade. O homem, de 23 anos, não pode ter o nome divulgado por orientação do Ministério Público de Pernambuco, já que o caso envolve uma menor de 18 anos.
Além da menina de 9 anos, o suspeito também teria confessado que abusou sexualmente da outra irmã, de 14 anos, portadora de deficiência mental. O rapaz vivia com a família desde 2005.
Risco de vida
Para o ginecologista e obstetra, Sérgio Cabral, a menina corria risco de vida caso a gestação prosseguisse. "Havia uma série de possibilidades. A garota poderia desenvolver eclâmpsia (hipertensão e a presença de proteína na urina), pré-eclâmpsia, entrar em trabalho de parto prematuramente e até haver uma ruptura uterina. "Uma gravidez gemelar numa mulher já se configura como de 'alto-risco', imagine em uma criança", afirmou.
O ginecologista não quis comentar as declarações da Igreja, mas disse que em vinte anos de profissão nunca presenciou um caso de uma gravidez em alguém tão jovem. Ainda segundo ele, deve haver casos semelhantes na literatura médica, mas eram raríssimos e difíceis de prever as conseqüências.
Redação Terra