01.03.2009 - Elas querem ser admiradas, belas, irresistíveis, autossuficientes e poderosas. Eles perdem a razão diante do objeto de atração sexual. É o que mostra uma pesquisa recém-divulgada que mapeia a incidência dos pecados capitais entre católicos de ambos os sexos. O estudo, realizado pelos renomados teólogos Wojciech Giertych, da Casa Pontifícia, e Roberto Busa, da Universidade Pontifícia Gregoriana, ambas do Vaticano, revela que 60% dos homens são dominados pela luxúria e 40% das mulheres pela vaidade.
Dos demais vícios capitais, eles admitem ceder à gula e à preguiça e elas, à inveja e à ira. "Mesmo com o passar dos anos, estes continuam sendo os pecados mais comuns na humanidade", disse à ISTOÉ o padre Roberto Busa, 96 anos, que recebeu confissões de fiéis de toda a Itália ao longo dos seus 70 anos de sacerdócio. No estudo, os teólogos se basearam nas confissões realizadas no período da Quaresma, quando a maioria dos 40% de católicos que ainda cumprem este sacramento confessa seus pecados à Igreja. Mesmo com tantos relatos, as confissões estão em baixa - segundo estudo publicado recentemente pelo jornal inglês The Times, 30% dos fiéis não consideram a penitência necessária e 10% deles julgam a prática prejudicial ao diálogo direto com Deus.
A pesquisa dos padres Giertych e Busa também indica que 100% dos homens dizem ter cedido a algum dos vícios capitais (leia quadro) e 60%, aos mortais - atos de natureza grave, como assassinato ou roubo cometidos em plena consciência. Entre as mulheres, os capitais ficaram em 70% e os mortais em 30%.De acordo com psicólogos, as diferenças na incidência dos pecados entre homens e mulheres se fundamentam em questões subjetivas e culturais.
"A mulher erotiza sua aparência física para capturar o desejo do homem. Já os homens erotizam o ato sexual em si", avalia Sandra Dias, coordenadora do curso de psicanálise e psicopatologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Para ela, os pecados femininos e masculinos estão a caminho da alternância. "Ao longo dos anos, percebemos que os homens se tornaram mais vaidosos e as mulheres, mais sexuais. A prova disso é o surgimento dos metrossexuais e das mulheres que tratam homens como objetos de prazer", diz ela.
O psicólogo Waldemar Magaldi Filho, doutor em ciências da religião, considera os pecados como traços mais sociais do que individuais e associa os relatos dos fiéis aos padrões de consumo da sociedade atual. "A mulher se tornou o objeto da luxúria masculina. Ela é forçada a se tornar interessante e atraente para que seja aceita no mercado", afirma. O psicólogo, autor do livro Dinheiro, saúde e sagrado, considera que os demais vícios relatados são consequência imediata dos principais. "Elas sentem inveja e ficam furiosas quando percebem a presença de outras mulheres mais belas. A gula entre eles está associada ao desejo pelo acúmulo de bens. A abundância seria a solução para uma vida no ócio, o sonho dos preguiçosos", analisa.
Se a luxúria já foi a grande vilã no ranking dos pecados capitais, hoje os teólogos consideram a vaidade o mais condenável. "É uma glória vazia, falsa e um sentimento presunçoso de superioridade. Revela-se através de um isolamento em si mesmo, uma vida egoísta, solitária e um medo de conviver com outras pessoas", disse à ISTOÉ dom Samuele Sangalli, que publicou na Itália no dia 16 de fevereiro o livro Introspezione medievale. L'analisi dei vizi in Tommaso D'Aquino (Introspecção medieval - a análise dos vícios em Tomás de Aquino).
Segundo Sangalli, São Tomás de Aquino, o terceiro teólogo a formular a lista de pecados capitais, no século XIII, sugeriu a humildade como contraponto à vaidade e o zelo como o antídoto à inveja. A luxúria, a gula e a preguiça seriam sanadas pelo desenvolvimento da espiritualidade. "Para quem tiver forças para superar a falta de fé, a vida se torna doce e suave como o mel", disse o filósofo.
No passado, os pecados capitais tinham caráter individual, mas na última revisão do Vaticano, em 2008, ganharam alcance coletivo. Entre os novos pecados estão as modificações genéticas, os experimentos científicos em seres humanos, a poluição do meio ambiente, a injustiça social e a ambição financeira. De acordo com Sangalli, apesar de os antigos pecados falarem mais do indivíduo do que da sociedade, sempre houve uma forte conotação social. "A inveja é corrosiva para toda a sociedade, assim como a avareza é a responsável pelas grandes injustiças sociais", afirma.
Fonte: Revista ISTOÉ, Março 2009.