15.02.2009 - No século XVI, a Reforma Protestante dividiu o cristianismo na Europa Ocidental. O Sul da Europa – Itália, Espanha, Áustria e parte da França – permaneceram na maior parte fiel a Igreja Católica. O resto acomodou-se em três principais divisões: Luterana, na Alemanha e Escandinava; Calvinista ou Reformada, na Suíça, Países-Baixos, Escócia, e parte da França;e Anglicana na Inglaterra. Permeados entre estas havia denominações menores, porém mais radicais, fanáticos, primeiro os anabatistas e mais tarde os menonitas, huteristas e puritanos.
No decorrer da história, essas principais divisões esfaleceram-se somando sem parar, em milhares de denominações e seitas protestantes. Que escândalo! Disse Jesus Cristo: “Ai do homem pelo qual o escândalo vem! (Mt 18,7). “Todo reino dividido contra si mesmo acaba em ruínas, e uma casa cai sobre outra (Lc 11,17).
“O denominacionalismo é um dos maiores obstáculos na formação e na mobilização da consciência missionária. Têm denominações que se auto-proclamam as únicas verdadeiras ou melhores do que as outras. Além de faltar muitas vezes com a verdade, essas denominações não demonstram humildade alguma. No momento há mais de 27 mil denominações protestantes ao redor do planeta”, vocifera o missionário e fundador da Operação Mobilização (OM) George Verwer. (Ultimato, janeiro-fevereiro, 2007. p.16).
“Somente nos Estados unidos, até 1998, segundo os dados do pastor Dave Amstrong, somavam um total de 33.800 denominações protestantes” (PR, Junho, 2006.p. 256).
“Estes são os que causam divisões, sensuais, que não têm o Espírito Santo” (Judas v.19).
DIVISÃO
O escritor Duncan Green em seu livro Faces of Latin América (Aspectos da América Latina), escreve: “O movimento evangélico na América Latina dividi-se em inúmeras igrejas. Freqüentemente, essas igrejas giram em torno de um único pastor. Em geral, quando uma delas cresce, dividi-se em pequenas novas igrejas”.
O escândalo da divisão, não é fato isolado na América Latina, é sim, uma realidade caótica no mundo inteiro.
São três fatores que causam a divisão: questões doutrinárias, escândalos financeiros e sexuais.
No Brasil, segundo a revista protestante Eclésia, edição nº 91, já chegaram a um total de 17.000 denominações.
Segundo o consultor de igrejas o pastor americano Wayne Cordeiro, existe mais de 300 mil igrejas evangélicas nos Estados Unidos (1)
Terrível é a incompatibilidade dogmática e o mau relacionamento entre os pastores.
Escreve o ilustre professor Felipe Aquino:
“Não há acordo no protestantismo. O próprio Lutero, amargurado, foi obrigado a reconhecer em 1525, apenas oito anos após o seu rompimento com a Igreja”:
“Há tantas seitas e crenças quantas cabeças. Um não terá nada a fazer com o batismo; outro nega o Sacramento; um terceiro acredita que há outro mundo entre este e o último dia. Alguns ensinam que Cristo não é Deus; uns dizem isto, outros dizem aquilo. Não há rústico, por mais rude que seja, que, se sonhar ou fantasiar alguma coisa não deva ser o sussurro do Espírito Santo, e ele próprio um profeta” (Martinho Lutero, John A. O’Brien, Ed. Vozes, 1959, p.32).
Nos relata O’Brien que, em Ingolstadt, em 1577, trinta e um anos após a morte de Lutero (1546), Cristóvão Rasperger citava duzentas interpretações diferentes das quatro palavras da consagração: “Isto é o Meu corpo”; interpretações sustentadas pelos seguidores da Reforma (The Faith of Millions, J. A. O’Brien, Ind.1938, p.227). Que confusão!
“Negando a Igreja de Cristo, os reformadores aceitaram a fundação de numerosas igrejas e igrejinhas de líderes humanos, todas originadas do subjetivismo dos seus fundadores” (PR, nº 404, 1996, pp.14 e 15).
A maneira subjetiva com que lêem a Bíblia, levou o Protestantismo ao esfacelamento, especialmente da doutrina (2).
Diz Dom Estêvão Bettencourt, OSB:
“O princípio segundo o qual cada crente pode fazer o livre exame da Bíblia, independentemente de algum magistério, torna o Evangelho luterano muito mais fácil do que o Evangelho católico. Na verdade é mais cômodo ser luterano (protestante) do que ser católico. Daí a ampla propagação do protestantismo; cada crente faz a sua religião, sem missa dominical, sem confissão sacramental, sem outras obrigações além daquelas que cada um impõe a si mesmo. O crente que não está contente na sua igreja, tem três opções: ou muda de Igreja ou funda sua Igreja própria ou fica fora da Igreja (somente com a Bíblia nas mãos).A quarta opção é do crente desviado: sem Igreja, sem pastor, sem Bíblia nas mãos, sem temor de Deus, desiludido e “perdido”. – Que Jesus tenha misericórdia. Assim Lutero contribuiu fortemente para o esfacelamento do Cristianismo. – Deus leve em conta sua boa intenção!” (3).
CONCLUSÃO
Como fica Lutero e seus seguidores diante do pensamento do Mártir do Coliseu Romano, segundo sucessor de São Pedro, na Igreja de Antioquia, aquele que na Carta de Emirna, escreve pela primeira a monumental expressão “Igreja Católica”, Santo Inácio de Antioquia que diz: “Todo aquele que por sua péssima doutrina corrompe a fé de Deus pela qual foi crucificado Jesus Cristo, irá para o fogo inextinguível e a todos os que lhe escutar?”.
Que exortação horrível para aqueles que está fora da Igreja: Una, Santa, Católica e Apostólica.
“Onde está Cristo Jesus está a Igreja Católica”, afirma Santo Inácio de Antioquia (†110).
“Aquele que abandona a Igreja, não espere que Jesus Cristo o recompense, é um estranho, um proscrito, um inimigo. Não terá Deus por Pai, quem não tiver a Igreja por Mãe. Fora da Igreja não há salvação”, declara São Cipriano (†258).
Pe. Inácio José do Vale
Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo
Professor de História de Igreja
Faculdade de Teologia de Volta Redonda
e-mail: [email protected]
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
(1) CORDEIRO, Wayne. Faça de Sua Igreja Uma Equipe, Rio de janeiro: Danprewan, 2002.p. 15.
(2) AQUINO, Felipe. Escola da Fé: I – A Sagrada Tradição, Lorena: Cleofás, 2000.pp.18 e 19.
(3) Pergunte e Responderemos, maio de 2006. p.223.
HOLLENWEGER, Walter J. El Pentecostalismo. Historia Y Doctrinas Buenos Aires: La Aurora, 1976.
O´BRIEN, John A. Martinho Lutero: O Sacerdote Que Fundou o Protestantismo, Petrópolis: Vozes, 1959
PIERRARD, Pierre. História da Igreja, São Paulo: Paulus, 1982.
RANDELL, Keith. Lutero e a Reforma Alemã, São Paulo: Ática, 1995.
WEBER, B. (org) Lutero e a Reforma, São Leopoldo: Sinodal, 1967.