25.01.2009 - Vários médicos egípcios que atenderam aos feridos no recente ataque israelense em Gaza denunciaram neste domingo no Cairo as "atrocidades" cometidas e o uso de armas proibidas por parte de Israel.
Em entrevista coletiva na capital egípcia, os médicos explicaram o trabalho realizado em Gaza para amenizar a catástrofe humanitária e de saúde, que atribuíram ao uso de armas que violam as convenções internacionais.
"Que tipo de armas utilizaram para causar tanta destruição humana?", questionou o cirurgião Amre Abdul Baky, que afirmou não ter visto "nada parecido" em toda a sua vida. "Tudo estava cheio de sangue e de vísceras", afirmou.
Já o médico Ibrahim Elgeady denunciou o uso de bombas de fósforo, o que explicaria, para ele, a quantidade de corpos carbonizados que foram encontrados, entre eles os de muitas crianças.
Elgeady disse que, "em Gaza, dá a impressão de que houve um terremoto, mas sequer um terremoto poderia ter causado tanta destruição". Ele lamentou também o fato de a Faixa ter se "transformado em cinzas".
O anestesista Mohammed Othmam assegurou que a maioria das vítimas era formada por civis e criticou a falta de meios e espaço para operar nos hospitais de Gaza.
O especialista entrou na Faixa através da passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, em 9 de janeiro, junto a um grupo de 11 médicos, que foi o primeiro a atravessar Gaza dos 61 facultativos enviados pela União de Médicos Árabes.
Os especialistas insistiram nas atrocidades que viram em Gaza, entre elas a amputação de membros, como foi o caso de uma criança que teve os dois braços removidos e que morreu dois dias depois da operação.
Também era comum, explicaram, encontrar corpos cheios de estilhaços, como o de um jovem que foi surpreendido pelos ataques israelenses quando brincava na escola e que acabou perdendo uma perna.
"Infelizmente, houve muitas pessoas a quem não pudemos salvar a vida", afirmou Elgeady.
Fonte: Terra notícias
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Lembrando...
EM GAZA, ESTÃO USANDO UM NOVO TIPO DE ARMA.
Sophie Shihab.
Jornal francês Le Monde 12/01/2009 e Rebelión 13/01/2009.
Nos últimos dias, as redes de televisão árabes que transmitem da Faixa de Gaza vêm mostrando feridos de um novo tipo, adultos e crianças com munhões ensangüentados no lugar das pernas. No domingo, dia 11 de janeiro, dois médicos noruegueses, os únicos ocidentais que trabalham no hospital da cidade confirmaram isso.
Os médicos Mads Gilbert e Erik Fosse, que trabalham na região há vinte anos com a ONG norueguesa Norwac, conseguiram sair do território na véspera, com 15 feridos graves pela fronteira com o Egito. Não sem ter que driblar obstáculos: "Três dias atrás, o nosso comboio, apesar de identificado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, teve que dar meia volta antes de chegar em Khan Yunis, onde os tanques atiraram em nós para nos deter", declararam aos jornalistas presentes em Al-Arish.
Dois dias depois, o comboio pôde passar, mas os médicos e o embaixador da Noruega que haviam ido recebê-los foram retidos durante toda a noite "por razões burocráticas" no posto de fronteira egípcio de Rafah, semi-aberto somente para as missões de saúde. Na mesma noite, os vidros do posto foram quebrados pelo estampido de uma das bombas lançadas nas proximidades.
"No hospital Al-Shifa de Gaza não vimos queimaduras de fósforo nem feridos por bombas de fragmentação. Mas vimos vítimas de algo que tem todas as características de um novo tipo de arma testado pelos militares estadunidenses, conhecido como Explosivo de Metal Denso Inerte (DIME, pela sigla em inglês)", declararam os médicos.
Trata-se de pequenas bombas envolvidas por carbono e uma camada de tungstênio, cobalto, níquel ou ferro cujo enorme poder de explosão se dissipa num raio de dez metros. "A dois metros corta o corpo no meio, a oito metros serra as pernas, abrasando-as como se tivessem sido atravessadas por milhares de agulhas. Não vimos corpos partidos, mas sim muitos amputados. Em 2006, houve algo parecido no sul do Líbano e vimos isso em Gaza naquele mesmo ano, durante a operação israelense 'chuva de verão'. Os experimentos com ratos têm demonstrado que as partículas que permanecem no corpo são cancerígenas", explicaram os médicos.
Um médico palestino, entrevistado no domingo por Al Jazeera, relatou sua impotência em casos como estes: "Não há nenhum rastro visível de metal no corpo, mas há estranhas hemorragias internas. Uma matéria queima os vasos sanguíneos e causa a morte. Não podemos fazer nada". Segundo a primeira equipe de médicos árabes autorizada a entrar no território ocupado, que chegou no hospital de Khan Yunes vinda do sul, entraram aí "dezenas" de casos desse tipo.
Os médicos noruegueses têm se sentido na obrigação de informar o que viram devido à ausência em Gaza de qualquer outro representante do "mundo ocidental", seja ele médico ou jornalista. "Será que esta guerra é um laboratório para os fabricantes da morte? Em pleno século vinte, é possível fechar um milhão e meio de pessoas e fazer com elas o que se quer, chamando-as de terroristas?"