12.12.2008 - Desde a abertura, na última segunda-feira (8), do processo de Geneviève Lhermitte - a mãe de família que em fevereiro de 2007 degolou seus cinco filhos em Nivelles, ao sul de Bruxelas -, cada dia de audiência no tribunal do júri de Brabant é coalhado de incidentes e surpresas. Na quinta-feira o processo talvez tenha balançado. O tribunal ouvia o doutor Diederik Veldekens, psiquiatra que tratava Geneviève Lhermitte, antes dos fatos. E a sala ficou muda quando o médico indicou que na véspera dos assassinatos a acusada havia enviado em seu nome uma carta citando projetos de suicídio, o fato de que queria "levar seus filhos" com ela, ou mesmo seu fascínio-repulsa pelas facas. O psiquiatra também declarou que outra correspondência, enviada duas semanas antes, continha mais ou menos o mesmo teor, como a referência à morte das crianças.
A surpresa vem do fato de que o doutor Veldekens não havia até então comunicado o conteúdo dessas cartas. E, sobretudo, não tomou qualquer iniciativa ao receber a segunda. Nem consulta de urgência, nem ligação telefônica depois do que pareceu, na opinião de muitos, um último apelo de socorro. Ele disse que esperava a volta do marido da acusada, Bouchaïb Moqadem, que visitava sua família no Marrocos, e o próximo encontro com sua paciente, dentro de alguns dias. Depois da primeira carta ele teria pensado na hospitalização da paciente e na colocação dos filhos, mas "não lembra" se lhe falou disso. A acusada também não lembra.
Mulher "Chernobyl"
As duas cartas, finalmente entregues ao presidente do tribunal, talvez coloquem a questão da eventual premeditação dos assassinatos. Elas confirmam, sobretudo, a tese da defesa: Lhermitte era uma mulher em grande sofrimento, apanhada em um ambiente sufocante e uma vida de "mãe perfeita", esposa atenta, "de empregada", como ela diz, de seu marido e de seu pai adotivo, o doutor Michel Schaar, que há muito tempo vivia na casa da família. Deprimida, ansiosa, irritável, frágil: essa mulher que pensava há muito tempo em suicídio se dizia "emparedada" e teria em um momento considerado que, para ela e seus filhos, "a morte era mais favorável que a vida". Era sua "única porta de saída".
Em todo caso, essa é a análise que formulou diante do tribunal um dos cinco peritos psiquiatras que examinaram sucessivamente a acusada. Como seus colegas, ele esboçou um retrato muito preciso de Lhermitte. Essa mulher é "Chernobyl", explicou o professor Raymond Guèbe: "Uma camada de emoção, camadas de concreto e uma carapaça exterior lisa". Quando tal "sistema" psicológico, feito de silêncios, dissimulações e frustrações, "explode", "a morte é vista como um alívio", segundo o psiquiatra.
Levando-se em conta seu estado psicológico aparentemente muito deteriorado, seria necessário julgar Lhermitte? Ela não deveria ter sido internada, mesmo decepcionando uma parte da opinião pública? Os depoimentos dos peritos relançaram essas questões. E a defesa das partes civis se apropriou delas, pedindo que um colégio de peritos reexamine a acusada na prisão. O tribunal aceitou o pedido.
Na véspera, Lhermitte desmoronou, gritando em sua baia: "Eu não matei meus filhos! A culpa é de Schaar e de meu marido! Eles são nojentos!" A acusada não resistiu ao relato do médico legista que examinou as pequenas vítimas e descreveu o esforço feito pela mãe para matar algumas delas. O problema foi ainda maior porque na terça-feira, véspera das acusações feitas contra seu marido, a acusada havia lhe apresentado desculpas públicas.
Fonte: UOL notícias