Natal: Câmeras de segurança e GPS cuidam do Menino Jesus


11.12.2008 - No ano passado, quando o Menino Jesus desapareceu de uma cena natalina do gramado de um centro comunitário em Wellington, Flórida, os guardas da cidade não seguiram uma estrela para localizá-lo.

Um aparelho de GPS inserido na estátua de cerâmica em tamanho real levou os assistentes do xerife até um apartamento próximo, onde o objeto foi encontrado sobre um tapete com o rosto voltado para baixo. Uma mulher de 18 anos foi presa pelo furto.

Desistindo de coisas antiquadas como cadeados e confiança, inúmeras igrejas, sinagogas, prédios governamentais e cidadãos comuns se voltam para a tecnologia para proteger cenários festivos de traquinagens ou preconceitos.

Cerca de 70 igrejas e sinagogas, buscando evitar o boletim policial em dezembro, aceitaram a oferta de uma empresa de segurança, que concedeu o uso gratuito neste mês de sistemas de GPS e câmeras escondidas, para guardar manjedouras e menorás.

Outros, como a família Herrera de Richland Hills, Texas, resolveu a questão com as próprias mãos. Preocupados com o roubo de sua gangorra, a família instalou câmeras de vigilância em seu quintal e se surpreendeu quando as imagens mostraram uma adolescente roubando um Menino Jesus de quase US$ 500. A polícia ficou com a fita.

"Eles levaram a família de Jesus," disse Gloria Herrera, 48, católica. "Como alguém pode fazer uma coisa dessas?"

Por dois anos consecutivos, ladrões escaparam com a estatueta do Menino Jesus em Wellington, uma cidade rica de 60 mil habitantes no condado de Palm Beach, Flórida. A cerâmica original, doada por um comerciante local, foi feita na Itália e vale cerca de US$ 1,8 mil, disse John Bonde, diretor de operações de Wellington.

Então, no ano passado, os agentes usaram uma unidade de GPS normalmente empregada para rastrear a aplicação de um spray de mosquitos e a implantaram na última reposição da estátua. Depois que essa desapareceu, os assistentes do xerife rapidamente a rastrearam.

Percebendo uma oportunidade nesse tipo de história de sucesso, a BrickHouse Security, de Nova York, está oferecendo para até 200 instituições religiosas sem fins lucrativos um mês de uso gratuito de câmeras de segurança e de produtos GPS dos quais é distribuidora.

Todd Morris, chefe-executivo, disse que a idéia surgiu depois que algumas igrejas pediram aluguéis de um mês em vez de contratos longos, como seria esperado. As cerca de 20 primeiras foram instaladas em sinagogas, disse.

O rabino Yochonon Goldman, do Lubatich of Center City, o braço na Filadélfia do movimento Chabad Lubavitch, aceitou a oferta apesar de seu medo inicial envolver o vento derrubando um menorá.

"As pessoas estão mais atentas à segurança e isso é apenas uma precaução," disse Goldman, que vai colocar um GPS em um menorá e uma câmera em outro. "É triste... mas é a realidade que enfrentamos."

Como membros de uma minoria religiosa, os judeus provavelmente se abalam mais quando seus símbolos religiosos são vandalizados, segundo Deborah Lauter, diretora nacional de direitos civis da Anti-Defamation League (Liga Anti-Difamação).

"Se roubarem o Menino Jesus, tendemos a ver como uma travessura," disse Lauter. "Vandalismo ou roubo de um menorá é algo mais delicado. Você realmente se sente um alvo por causa de sua religião."

A liga identificou 699 incidentes de vandalismo anti-semita em 2007, consistente com os últimos anos.

Até agora em 2008, o Menino Jesus apareceu em vários boletins policiais. Na Primeira Igreja Metodista Unida em Kittanning, Pensilvânia, a estatueta foi roubada e substituída por uma abóbora. Semana passada, em Eureka Springs, Arkansas, a pessoa que sumiu com um Menino Jesus de plástico exposto em público também levou o bloco de concreto e a corrente que deveriam funcionar como contenção.

Anteriormente, bonecos roubados de Jesus foram desfigurados com profanações e símbolos satânicos.

Os incidentes levantam uma pergunta: roubar o Menino Jesus é uma diversão juvenil inofensiva ou anticristianismo?

"Suspeito que boa parte seja travessuras infantis," disse o promotor Mike Johnson, do Alliance Defense Fund, um grupo jurídico conservador e cristão. "É claro, existem adultos com a intenção de tirar Cristo do Natal. Mas eles geralmente se ocupam em tribunais e com o julgamento da opinião pública."

Stephen Nissenbaum, professor aposentado de história da Universidade de Massachusetts Amherst e o autor de The Battle for Christmas (A Batalha pelo Natal), entende os furtos nem como vandalismo inocente nem como crimes de ódio religioso.

"O que eles significam é que não há problema em sair por aí e violar mesmo as regras mais importantes, desde que ninguém se machuque," disse. "Não é exatamente uma desvalorização do cristianismo, mas um tipo de desafio ritualístico a ele. Pode ser que crianças cristãs estejam fazendo isso - e dia 2 de janeiro elas voltam a ser bons cristãos."

Fonte: Terra notícias

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Lembrando...

Igrejas adotam equipamentos de segurança para conter furtos

Que fiel nunca ouviu do padre em uma missa: “As portas da casa de Deus estarão sempre abertas?” Pois faz um mês que não se ouve isso do pároco Fabrício do Prado Nunes, da Igreja Matriz de Sant’Ana, em Santana do Livramento (RS). O sacerdote proibiu as visitas à igreja e só abre o templo na reza das 18h. Motivo: dez furtos em um ano. Objetos sacros, como toalhas do altar, castiçais e a coroa de espinhos de Cristo desapareceram e o sacrário (onde se guardam hóstias e relíquias) já foi violado. Em janeiro, por um buraco aberto na parede do salão da casa paroquial, xícaras, panelas, tapetes, caixas de som, microfones e até vasos de flores foram subtraídos. Algumas peças foram escondidas em túmulos do cemitério vizinho. “Estão levando até vaso de R$ 3”, indigna-se o monsenhor Tarcísio Scherer, do arcebispado de Porto Alegre. Segundo ele, todo mês ocorre um furto em uma igreja da região metropolitana. “Os dez mandamentos não valem mais nada”, reclama Scherer.

Em Minas Gerais, a situação é alarmante: 60% do patrimônio sacro sumiu. Por causa de estatísticas como essa, o promotor de Mariana, Antonio Carlos de Oliveira, entrou com uma ação civil pública contra a Arquidiocese (responsável por 130 paróquias em 79 cidades históricas e onde se encontram 70% do acervo cultural barroco do País) e o município. Ainda em tramitação, ela exige a instalação de sistemas de segurança eletrônicos nas igrejas. “Vinte templos históricos, no mínimo, estão desprotegidos”, avisa o promotor.

Ultimamente, porém, é nas capelas dos distritos que o aparato eletrônico virou o primeiro mandamento para a preservação do patrimônio histórico. Em Santana do Livramento, a 500 quilômetros da capital gaúcha, a paróquia do padre Fabrício já recebeu alarmes, está instalando câmeras e recorrerá a seguranças privados para voltar a abrir as portas. “Os párocos estão percebendo que têm de investir em segurança, que as imagens são obras de arte”, diz Laura Godoy, que faz pós-graduação em cultura e arte barroca na Universidade Federal de Ouro Preto e está concluindo sua monografia sobre o desaparecimento de obras de arte sacra.

A paróquia São Judas Tadeu, em São Paulo, nunca sofreu uma perda irreparável de imagens históricas. Mesmo assim, contratou uma empresa que, por meio de câmeras, vigia durante 24 horas o espaço onde estão guardados imagens e objetos litúrgicos de valor. Conta ainda com alarme e seis seguranças – alguns à paisana, que assistem a missas entre os fiéis e passam mensalmente por cursos de atualização. “Os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz”, alerta o pároco de São Judas, Marcelo Alves dos Reis, citando uma passagem bíblica.

Seis meses atrás, foi furtada do mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, a imagem de uma mulher com os olhos vendados, que representa a virtude da fé. Única no mundo, a escultura era feita de cedro policromado e datada do século XVIII. No mercado negro, uma peça dessa mesma época é avaliada em R$ 10 mil. E pode custar muito mais. “Há um colecionador particular que segurou uma obra sacra de 70cm em R$ 1 milhão”, conta Marcos Paulo de Souza Miranda, coordenador das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais. O mosteiro já tinha segurança, mas agora instalou também câmeras.

Existem hoje no País 1.318 bens litúrgicos desaparecidos, num total avaliado em R$ 12,5 milhões, segundo a empresa de segurança e inteligência privada RCI First Security and Intelligence Advise, que cruzou dados das agências de inteligência do mundo todo, de órgãos que respondem sobre o patrimônio histórico e de boletins de ocorrência de delegacias. “Tem de se fazer um cadastro nacional de arte sacra. Do contrário a peça some e ninguém mais acha”, reclama Marcus Monteiro, diretor do Instituto Estadual de Patrimônio Cultural (Inepac) do Rio de Janeiro.

A falta de um inventário do acervo nacional está causando um problema em Minas. Lá, nos últimos cinco anos, 200 obras litúrgicas foram apreendidas em antiquários e “restauradores”, mas ainda não estão nas igrejas porque não se sabe a quais templos pertenciam. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) só responde pelos objetos tombados, ou seja, cerca de um terço do total do acervo brasileiro. Mesmo assim, dos 918 bens procurados (99% são obras sacras) por eles, apenas 80 constam na Interpol com foto e histórico traduzidos para o inglês e francês. Assim, a chance de reaver o que desapareceu é quase um milagre.

Fonte: Revista ISTOÈ, Outubro 2007
 


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