Crise econômica revela crise de humanidade, diz arcebispo


01.12.2008 - Para Dom Walmor de Azevedo, momento exige «consciência moral bem formada»

No coração da crise econômica está uma crise de humanidade; assim, é uma limitação e um erro circunscrever a crise puramente a aspectos técnicos, afirma um arcebispo brasileiro.

É «um descalabro e uma visão míope, sobretudo por parte daqueles que têm poder de interferência e influência, o não entendimento da crise numa perspectiva mais ampla do que apenas o âmbito monetário», considera Dom Walmor Oliveira de Azevedo, em artigo enviado a Zenit sexta-feira passada.

Segundo o arcebispo de Belo Horizonte (Minas Gerais, Brasil), «é uma enorme pobreza e conseqüente comprometimento focalizar a gênese, a gravidade e a solução para a crise apenas na consideração da quantidade da moeda-ouro que perde o seu valor sem nenhuma conjugação inteligente com as dimensões morais constitutivas da crise atual».

Dom Walmor explica que, no coração da crise econômica mundial, está uma crise de humanidade, que «precisa ser mais dissecada».

«É preciso partir de uma sensibilização primária que é a coragem de voltar o olhar para as populações pobres e sacrificadas, os povos e as culturas que estão sendo dizimados enquanto vítimas de confrontos sangrentos e de atrocidades que não são oriundos apenas do interno dos seus confrontos, mas são conseqüências das opções macroeconômicas do sistema adotado para a regência da economia mundial.»

De acordo com o arcebispo, a dificuldade de compreensão desta perspectiva «se deve ao escandaloso déficit moral e humanístico que vai presidindo a sociedade contemporânea».

«Isto significa dizer que é imprescindível uma nova definição no entendimento da economia para se conseguir, iluminados por conceitos e valores que não pertencem apenas aos números, uma total refundação do sistema.»

Dom Walmor recorda que a Santa Sé, por meio de um documento do Pontifício Conselho Justiça e Paz insiste e aponta esta direção.

Entre as providências técnicas e instrumentais que podem ser tomadas, o arcebispo cita «uma consideração feita por um especialista, ancião experiente e sábio, F. Houtart, um sacerdote, em recente análise feita para a ONU».

Ele diz que é preciso «“privilegiar o valor de uso sobre o valor de troca, o que significa outra definição da economia: não mais a produção de um valor agregado, fonte de acumulação privada, mas a atividade que assegura as bases da vida material, cultural e espiritual dos seres humanos através do mundo”».

Ao comentar o documento do Pontifício Conselho Justiça e Paz, o arcebispo recorda que o texto «aponta que é preciso apostar numa nova moral econômica».

«A Santa Sé adverte que a regulação de mecanismos e regras para uma nova ordem econômica mundial, superando a crise e, sobretudo, superando a vergonha da exclusão, não dispensa uma consciência moral bem formada para iluminar a responsabilidade cotidiana dos operadores do mercado, especialmente dos empresários e dos grandes operadores financeiros», afirma.

Fonte: www.zenit.org


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