Afastando-se da fé muçulmana, albaneses reassumem a fé cristã


02.11.2008 - KOSOVO - Centenas de albaneses de Kosovo se reúnem aos domingos para participar de cultos em uma igreja de tijolinhos, ainda inacabada, na cidade de Klina em Kosovo.

Afastando-se da fé muçulmana, praticada pela maioria e imposta pelos turcos otomanos vários séculos atrás, esses fiéis são parte de um reavivamento do catolicismo nesse novo país dos Bálcãs.

“Temos vivido uma vida dupla. Em nossa casa, éramos católicos. Mas, em público, éramos bons muçulmanos”, disse Ismet Sopi. “Não chamamos isso de conversão. É a continuidade da crença familiar.”

Desde que assumiu ser católico, há cinco meses, Ismet viaja 40 quilômetros a cada domingo, do centro de Kosovo para a cidade de Klina, a fim de participar da missa matutina. Setembro passado foi o primeiro mês sagrado do ramadã em que nenhum dos 32 membros de sua família jejuou.

A maioria étnica de albaneses foi convertida á força ao islamismo quando o império otomano governou os Bálcãs, impondo impostos elevados aos cristãos.

Por séculos, muitos rememoravam suas raízes cristãs e viveram como “católicos no esconderijo”, como dizem. Alguns, quase um século depois de os otomanos saírem dos Bálcãs, vêem agora a possibilidade de revelar sua verdadeira crença.

“Entre 50 e 60% da população é ligada emocionalmente ao catolicismo romano. Isso se dá por causa de sentimentos relacionados ao que nossos antepassados professavam”, comenta Muhamet Mala, professor de História da Religião na Universidade Pública de Pristina.

Comemorando a Páscoa e também o ramadã

Originalmente cristãos, os antepassados de Ismet se converteram ao islamismo há alguns séculos, durante o Império Otomano. No entanto, a família cultivou os costumes cristãos por séculos. Pintavam ovos na Páscoa e comemoravam o Natal junto com o ramadã.

“O islamismo começou a espalhar grandemente pelos territórios albaneses quando os otomanos vieram no século 15. A maioria do povo abraçou o islamismo por motivos econômicos”, comenta Jahja Drancolli, professor de Religião também na Universidade Pública de Pristina.

“Naquele tempo, se você fosse católico deveria que pagar muitos impostos aos otomanos.”

Aproximadamente 90% da população albanesa de Kosovo é muçulmana, apenas 4% é católica romana. O país também abriga dezenas de monastérios e igrejas ortodoxas sérvias medievais.

A área que é agora Kosovo foi conquistada por Roma antes da era cristã e, mais tarde, governada por cristãos búlgaros e sérvios durante séculos. Tornou-se parte do Império Otomano em 1455.

Sob o governo otomano, muitos cristãos se converteram para fugir dos novos impostos, para ter acesso aos empregos ou boas posições nessa sociedade governada por muçulmanos.

Em leais famílias católicas, freqüentemente nas vilas de fortes laços sociais, os homens se convertiam publicamente, mas continuavam a praticar o cristianismo em casa. As mulheres e as filhas mantinham a fé, o que significa que era transmitida aos filhos.

Os sacerdotes ministravam os sacramentos a esses “cristãos secretos” nas visitas às casas. A Igreja católica opôs- contra essa ministração aos convertidos. Entretanto, o clero local ignorava a ordem e preservava os laços com as famílias.

O fato de existir “católicos no esconderijo” era conhecido durante o Império Otomano: os albaneses tinham até uma palavra para eles – “laraman”– que significa “cavalo malhado” ou “duas cores”.

Algumas famílias de cristãos secretos começaram a reaparecer em público do meio ao final do século 19, quando o poder otomano começou a declinar.

Pecado do pai

Habitantes de Kravoserija, no sul do país, têm sua própria igreja desde 2005, com a ajuda da igreja católica de Kosovo. Beke Bytyci é um de cinco aldeões que têm as chaves, já que o chanceler apostólico Zefi não vem celebrar a missa toda semana.

Abrindo a porta de madeira, Beke fez o sinal da cruz: “Eu serei batizado na próxima semana”, disse.

Mais da metade das 120 famílias da vila participam das cerimônias, e a pequena igreja está sempre cheia.

“Meu pai cometeu um erro em não me criar como cristão”, disse Ferat Bytyci, um comerciante de 35 anos na vila e parente de Beke. “As coisas mudaram e eu não cometerei o mesmo erro.” (Fonte: Portas Abertas)


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