05.10.2008 - No primeiro pronunciamento de um judeu a um sínodo no Vaticano, um rabino disse na segunda-feira que os judeus "não podem perdoar e esquecer" a omissão de alguns líderes religiosos a respeito do Holocausto.
O discurso do rabino Shear-Yashuv Cohen, diante do papa Bento 16, foi uma clara referência a Pio 12, pontífice na época do conflito, que segundo muitos judeus não se empenhou em evitar o genocídio nazista.
Cohen, rabino-chefe de Haifa (Israel), dissera à Reuters horas antes que faria críticas indiretas a Pio 12 durante seu discurso a mais de 200 prelados de todo o mundo.
"Não podemos esquecer o fato triste e doloroso de que muitos, inclusive grandes líderes religiosos, não levantaram suas vozes no esforço para salvar nossos irmãos, preferindo em vez disso manter o silêncio e ajudar secretamente. Não podemos perdoar e esquecer isso, e esperamos que vocês entendam", disse ele, de improviso, já ao final do discurso.
Em setembro, Bento 16 declarou que Pio 12 "não poupou esforços" para salvar os judeus, atuando nos bastidores. Simpatizantes do falecido papa argumentam que declarações mais incisivas naquela época poderiam piorar a situação dos judeus na Europa.
Cohen também pediu ao sínodo que recrimine formalmente o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, por ter feito mais um virulento discurso contra Israel no mês passado na ONU.
"Estou aqui para lhes pedir, líderes das religiões, que ergam sua voz e com a ajuda do mundo livre protejam, defendam e salvem Israel das mãos dos nossos inimigos", afirmou, citando o recente discurso na ONU de "um certo presidente de um Estado do Oriente Médio".
"Esta infâmia anti-semita mos levou de volta às dolorosas lembranças da tragédia do nosso povo, as vítimas do Holocausto, o qual esperamos e rezamos para que nunca mais ser repita."
Na entrevista de segunda-feira à Reuters, Cohen, de 80 anos, disse que Pio 12 (papa entre 1939 e 58) poderia ter se empenhado mais contra o Holocausto. Ele acrescentou que teria evitado o evento se soubesse que o sínodo coincidia com cerimônias em homenagem os 50 anos da morte do pontífice.
"Ele pode ter ajudado em segredo muitas das vítimas e muitos dos refugiados, mas a questão é se ele poderia ter erguido sua voz e se isso teria ajudado ou não. Nós, como vítimas, sentimos que sim. Não tenho procuração das famílias dos milhões de falecidos para dizer ''esquecemos, perdoamos''", afirmou Cohen.
Na quinta-feira, Bento 16 rezará missa pelos 50 anos da morte de Pio 12, e em novembro haverá uma conferência e uma exposição de fotos sobre seu pontificado, que é um dos temas mais espinhosos nas relações entre católicos e judeus.
"Preciso deixar muito claro que nós, rabinos, a liderança do povo judeu, não podemos concordar, enquanto os sobreviventes acharem que é doloroso, que este líder da Igreja num momento de crise deva ser homenageado agora. Não é a nossa decisão. Isso nos dói. Lamentamos que isso esteja sendo feito", declarou o rabino.
Pressionado por historiadores a abrir seus arquivos da Segunda Guerra Mundial, o Vaticano diz que alguns itens estão resguardados por razões organizacionais, mas que a maior parte dos documento relevantes daquela época já estão à disposição dos pesquisadores.
Em 2007, a Congregação da Causa dos Santos mostrou-se favorável a um decreto reconhecendo as "virtudes heróicas" de Pio 12, o que abre caminho para sua possível canonização, num processo iniciado em 1967. Bento 16 ainda não aprovou esse decreto.
Alguns grupos judaicos defendem a paralisação do processo de canonização, enquanto outros argumentam que se trata de um assunto interno da Igreja.
Fonte: Terra notícias
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Lembrando...
Secretário do Vaticano diz: o Papa Pio XII foi vítima de uma lenda negra que o acusa falsamente
05.06.2007 - O secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone, declarou nesta terça-feira que o papa Pio XII foi "vítima de uma lenda negra" que o acusa "falsamente" de ter sido insensível ao holocausto judeu durante o nazismo.
O cardeal italiano interveio durante um lançamento, em Roma, de um livro sobre Pio XII, cujo processo de beatificação acaba de avançar no Vaticano, apesar da polêmica sobre seu suposto "silêncio" diante do extermínio dos judeus.
"O Papa que guiou a Igreja nos anos terríveis da Segunda Guerra Mundial e depois, durante a guerra fria, é vítima de uma 'lenda negra'", declarou Bertone.
Esta "lenda negra... descreve falsamente Pacelli (nome civil de Pio XII) como indulgente com o nazismo e insensível à sorte das vítimas das perseguições" e "quer reduzir todo o seu pontificado à questão de supostos 'silêncios'", lamentou.
Pio XII, que foi Papa entre 1939 e 1958, agiu discretamente e viveu "um grande e grave drama interior" sobre a melhor atitude a tomar para não agravar o sofrimento das vítimas das perseguições, disse Bertone.
A congregação da causa dos santos aprovou, em 8 de maio, uma declaração sobre as "virtudes" de Pio XII, etapa decisiva para a beatificação deste polêmico papa.
Na seqüência, o Papa atual, Bento XVI, é quem deve se pronunciar sobre o processo, ao qual falta o reconhecimento de um milagre atribuído ao falecido para se concretizar.
Esta não é a primeira vez que o cardeal Bertone se pronuncia a favor de Pio XII. Em 24 de janeiro, ele estimou que ele deve ser considerado "um justo", título atribuído pelo instituto israelense Yad Vashem aos que salvaram os judeus do extermínio nazista.
Vários historiadores consideram que Pio XII esteve entre os primeiros informados sobre a implantação da "solução final" e que sua intervenção não esteve à altura da ameaça.
Fonte: UOL notícias
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Lembrando...
Bento XVI defende verdade histórica sobre Pio XII e sua ajuda aos judeus
18.09.2008 - VATICANO.- Ao receber aos participantes em um simpósio sobre a figura e a ação pastoral e humanitária de Pio XII, o Papa Bento XVI fez votos para que se conheça “a verdade histórica” sobre este Pontífice, superem-se “todos os prejuízos” e se reconheça seu trabalho a favor dos judeus perseguidos durante o regime nazista.
Desde Castelgandolfo, o Santo Padre expressou sua esperança em “que este ano em que se comemora o 50 aniversário da morte de Pio XII ofereça a oportunidade de promover estudos mais profundos sobre vários aspectos de sua pessoa e de sua atividade, para conhecer a verdade histórica, superando todos os preconceitos restantes”.
Nestes anos, indicou, “se ecreveu e se disseram muitas coisas sobre ele nestes cinco decênios, mas não sempre se enfocaram corretamente os diferentes aspectos de sua multiforme ação pastoral”.
Se referindo ao simpósio promovido pela “Pave the Way Foundation”, o Pontífice destacou que seu objetivo “foi precisamente encher algumas destas lacunas mediante uma análise documentada sobre muitas de suas intervenções, sobre tudo aquelas a favor dos judeus, que naqueles anos eram perseguidos em toda a Europa de acordo com o plano criminal dos que queriam eliminá-los da face da terra”.
Bento XVI sublinhou que “quando se estuda sem preconceitos ideológicos a nobre figura deste Papa se aprecia a sabedoria humana e a intensidade pastoral que o guiaram em seu longo ministério, e de modo particular na organização das ajudas ao povo judeu”.
Graças à documentação recolhida e aos “testemunhos creditados”, o simpósio, continuou, “oferece à opinião pública a possibilidade de conhecer melhor o que Pio XII realizou a favor dos judeus perseguidos pelos regimes nazista e fascista”.
O Papa pôs de relevo que nos trabalhos do simpósio tinham destacado “as numerosas intervenções realizadas secreta e silenciosamente, precisamente porque dadas as situações concretas daquele difícil momento histórico, solo dessa maneira era possível evitar o pior e salvar ao maior número possível de judeus”.
A “valente e paterna dedicação” do Pontífice “foi reconhecida e apreciada durante e depois da terrível guerra mundial por comunidades e personalidades judias, que manifestaram sua gratidão pelo que tinha feito por eles”, lembrou.
O Santo Padre deu as graças a “Pave the Way Foundation” pela constante ação em promover as relações e o diálogo entre as religiões, de modo que ofereçam um testemunho de paz, de caridade e de reconciliação”.
Fonte: ACI