15.09.2008 - Estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais patrocinado pela Vale não deixa dúvida: a Amazônia já sofre forte influência das mudanças climáticas. O estudo inédito, com alto detalhamento regional, inclusão de dados meteorológicos do Instituto Nacional de Meteorologia, combinados com critérios globais como os adotados pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) mostram que as áreas de estudo (os Estados do Pará e Maranhão) apresentam vulnerabilidade climática muito alta, comparável ao semi-árido do Brasil, prevendo-se um clima mais seco que o atual.
"Algumas áreas receberão chuvas intensas concentradas em períodos curtos, seguidos de longos períodos sem a ocorrência de chuva e com altas temperaturas diurnas e noturnas. Nestas condições, o balanço hidrológico poderá sofrer alterações, ocorrendo períodos de deficiência hídrica futura, inexistentes no clima atual, o que pode conseqüentemente afetar a vegetação nativa e a agricultura regional", informa o relatório, o primeiro de uma série de três do estudo de vulnerabilidades para a região amazônica.
Os modelos climáticos regionais (RegCM3, HadRM3P e Eta CCS) usados pelos pesquisadores do Inpe no estudo, apontam, para a segunda metade do Século 21, clima mais quente (até 6ºC num cenário de altas emissões de gases de efeito estufa, que não obedeçam as metas definidas no Protocolo de Kyoto) e reduções de chuva que podem chegar até 2-4 mm/dia, quando comparado ao clima presente para a região de estudo (que segundo o Relatório de Clima do Inpe pode chegar até 40-50%).
"As projeções de extremos climáticos para a região, simuladas pelos modelos globais do IPCC AR4 e pelos modelos regionais, são consistentes com um aumento na freqüência e intensidade de extremos de chuva e no aumento da freqüência de dias secos consecutivos. O aumento na freqüência de noites e dias quentes e a redução na freqüência de noites e dias frios são projetados pelos modelos globais do IPCC AR4 e estão em concordância apenas com o modelo regional HadRM3P", diz o trabalho.
Os pesquisadores do Inpe estudaram a varação em três períodos: 2010 a 2040, 2041 a 2070 e 2071 a 2100. O relatório mostra o clima na região se tornará cada vez mais quente ao longo do século. Já entre 2010 e 2040, a temperatura deve subir 2 graus centígrados do leste do Pará até o Maranhão. De 2041 a 2070, essa alta dobra, 4 graus centígrados. O mais preocupante é que, em qualquer dos cenários, o regime de chuvas deve sofrer praticamente o mesmo impacto: redução de 10% no primeiro período e de 20% no segundo. Para o período de 2071 a 2100, a conclusão do relatório é de aumento ainda maior da temperatura, podendo se elevar em 7 graus na região leste da Amazônia, com alternância de períodos longos de clima seco, com chuvas concentradas em poucas épocas do ano.
O coordenador-adjunto do estudo do Inpe, Gilvan Sampaio, afirmou que a região é uma das mais vulneráveis ao aquecimento, porque está sob influência de importantes eixos climáticos e vem apresentando radicalização nos regimes de chuva e temperatura. "Os extremos climáticos estão cada vez mais freqüentes. Os períodos mais quentes estão ainda mais quentes, as chuvas estão cada vez mais concentradas e as secas de prolongam." Segundo ele, em todo o século 20, a temperatura subiu cerca de 0,8 grau e a expectativa para este século é de que aumente no mínimo 2 graus.
A Vale patrocinou o estudo dentro do seu projeto de desenvolvimento sustentado na região onde tem importante presença econômica. Em 2007,a mineradora investiu US$ 4 bilhões no Pará, dos quais US$ 110,2 milhões em projetos ambientais, um aumento de 834% ante 2006. No Maranhão, de US 1 bilhão investido, US$ 25,4 milhões se destinaram ao meio ambiente. De 2008 a 2012, a empresa planeja destinar somente ao Pará US$ 692,5 milhões a ações ambientais, dos US$ 2,8 bilhões que aplicará no segmento em todo o mundo.
DiárioNet
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Lembrando...
Cientista sugere que Amazônia tem morte decretada
21.09.2007 - Um cenário sinistro está sendo montado para a Amazônia nas próximas décadas, de acordo com a percepção de um cientista do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU). A maior e mais complexa floresta tropical do planeta e seus ecossistemas podem estar com a morte decretada para um futuro não tão distante como se previa e mais próximo do que se imaginava.
Entre 50 e 100 anos tudo poderá se transformar numa fina areia desértica, inóspita, engolindo não só quase 50% do território brasileiro, mas boa parte dos outros sete países e uma colônia que compõem a panamazônia.
Pela primeira vez a ciência mostra que a sua sobrevivência depende dos contornos e conseqüências do aquecimento global. Mercado de crédito de carbono, fundos destinados a reduções compensadas de emissões, ações para minimizar o impacto da indústria sobre o meio ambiente e as campanhas preservacionistas podem dar em nada.
Para o conceituado cientista inglês, membro do IPCC, James Lovelock, o planeta chegou a um ponto sem retorno. O mal está consolidado e a questão é de tempo para que o fim da estabilidade climática dos últimos 70 mil anos apresente seu lado mais agressivo.
A percepção de Lovelock, para muitos de seus colegas, é nefasta demais. Embora ninguém discorde que o processo de mutação climática já se iniciou, restam alternativas para o aquecimento global em níveis suportáveis para a manutenção da vida. E isso passa por ações urgentes na conservação e recuperação da Amazônia.
O cientista do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos, órgão do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), José Marengo, como integrante do IPCC faz alertas dramáticos para intervenções urgentes na proteção da floresta. "A idéia é reduzir a todo custo o desmatamento e a emissão dos gases do efeito estufa".
Entender a aflição do pesquisador é crucial para qualquer nação. A Amazônia não é e nunca foi o pulmão do mundo, como se apregoou por muito tempo. Seus índices de emissão de dióxido de carbono, oxigênio e de outros gases são seqüestrados pela própria floresta, numa atividade equilibrada e precisa. Mas ela pode ser considerada o coração terrestre, pois consegue reger sistemas ligados a circulação atmosférica, como regimes de chuva e de ventos do globo.
A Amazônica também é vítima de incertezas e descrédito. Apesar da ótima reputação no exterior, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sentiu o gosto amargo dos paradoxos, em novembro passado, na 12 Conferência das Partes da Convenção sobre Mudança do Clima (COP-12) em Nairóbi (Quênia).
Na ocasião, a ministra propôs a criação de um mecanismo de incentivos, em forma de investimentos em um fundo para países em desenvolvimento que efetivamente reduzirem as emissões de gases com o combate ao desmatamento. Isso com o governo federal encabeçando uma campanha mundial pelo biocombustível brasileiro e a ameaça desse novo cultivo se tornar mais um predador da floresta.
O projeto apresentado por Marina Silva foi criado por três organizações não-governamentais (ONGs) com o nome "reduções compensadas". O máximo que ela conseguiu foi um silêncio absoluto na sala de conferências, a qual reunia mais de 180 nações, e a promessa da direção do evento de analisar o tema.
Papua Nova Guiné, Costa Rica e Indonésia apresentaram projetos muito semelhantes e, ao contrário do Brasil, foram contemplados pelo Banco Mundial. A criação desse tipo de fundo é uma incógnita até mesmo para os cientistas mais inteirados sobre a situação. "Não sabemos como essas agriculturas vão se comportar em relação à floresta", comentou o cientista do Inpe Gilvan Sampaio.
O diretor da empresa especializada em créditos de carbono Metacortex, Renato Giraldi, mostra preocupação. Acredita que a criação de fundos como o proposto pelo Brasil está longe de ser rentável.
"A questão é que isso não é rentável para nenhum fundo de investimento, ninguém pode assegurar que, além do tempo de maturação da árvore, o montante plantado ou já existente será mantido. Há uma grande desconfiança do investidor estrangeiro sobre o Brasil", destacou.
Fonte: Terra notícias - Gazeta Mercantil