Artigo do Cardeal Fulton Sheen: Casamento Santo


09.09.2008 - Segue um fantástico texto do falecido Cardeal Fulton Sheen, dos EUA, em processo de beatificação. Há quanta diferença dos casamentos atuais. Melhor: como seria o mundo se as famílias caminhassem nesta luz!

Eis o texto:

Quero falar-vos dum matrimônio que formou uma família: o de Maria e José.
Para se explicar a singularidade destas núpcias, importa ter presente uma verdade: pode haver casamento sem haver união física.
Isto pode verificar-se por três razões: porque os sentidos, já saciados, se tornaram insensíveis; porque os esposos, depois de se terem unido, fazem voto a Deus de renunciarem ao prazer para se dedicarem aos mais sublimes êxtases do espírito; e finalmente porque os esposos, não obstante o casamento, fazem voto de virgindade, renunciando aos direitos recíprocos.
E a virgindade torna-se o fulcro desta união.
Uma coisa é renunciar aos prazeres da vida conjugal pela saciedade experimentada; outra é renunciar a eles antes de se terem experimentado, para formar apenas uma união de corações como nas núpcias de Maria e José.
Eles uniram-se como duas estrelas que nunca se conjugam, enquanto as suas luzes se cruzam na atmosfera.
Foi um enlace semelhante ao que se dá na primavera entre as flores que irradiam conjuntamente os seus perfumes; melodia formada pela fusão de sons de instrumentos diferentes.
Os esposos, renunciando aos seus direitos recíprocos, não destroem a essência do matrimônio, pois, como diz Santo Agostinho: "A base dum casamento de amor é a união dos corações".
Isto sugere uma pergunta: por que foi necessário o casamento, se Maria e José fizeram voto de virgindade?
José era velho ou novo?
O casamento era necessário, não obstante o voto de virgindade, para preservar a Virgem de qualquer sombra, enquanto não chegasse o momento, para Ela, de revelar o mistério do nascimento de Jesus.
Julgou-se então, que Nosso Senhor era filho de S. José. E assim o nascimento de Cristo não foi exposto ao sarcasmo do povo, nem foi motivo de escândalo para os fracos na fé.
Deste modo, a pureza de Maria pôde ter em José um testemunho e bem valioso.
Porém, todo o privilégio de graça deve ser correspondido. Maria e José haviam de vir a pagá-lo com a sua maior dor.
O Anjo não lhe havia mandado revelar a obra do Espírito Santo realizada nela, e Maria calou-se. José, não sabendo como explicar o fenômeno, pensou em repudiá-la.
Nossa Senhora revelou outrora a um santo: "Nunca experimentei angústia mais intensa, depois da do Gólgota, do que as dos dias em que, com pesar meu, tive de desagradar a José, que era um justo".
José, não podendo compreender o sucedido, sofria: sabia que Maria tinha feito, como ele, voto de virgindade, e portanto, reputando-a acima de toda a suspeita, não queria considerá-la culpada.
Que havia ele de pensar?
A surpresa de José era comparável com a de Maria, quando, no momento da Anunciação, perguntou: "Como pode isso acontecer, se eu não conheço homem?"
Maria queria saber como podia ser virgem e mãe; José não sabia como podia ser virgem e pai.
E o anjo explicou-lhe que só Deus tinha o poder de fazer isso; não a ciência humana. Só os que entendem as vozes dos anjos podem penetrar este mistério.
Como José queria repudiar secretamente Maria, o anjo levantou-lhe o véu do mistério: de fato, apenas tal pensamento se apresentou ao espírito de José, apareceu-lhe em sonho um anjo que lhe disse: "José, filho de Davi, não receies ter contigo a tua esposa Maria, porque Aquele que dela há de nascer é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho a que darás o nome de Jesus. Ele libertará o seu povo dos pecados" (Mateus 1, 20-21).
E assim José, conhecendo as razões do nascimento de Cristo, pôde encontrar de novo a paz.
A sua alma transbordou de felicidade ao saber que era o pai putativo do Salvador do mundo e o guarda da Mãe daquele que não cabe nos céus.
Eis-nos agora na segunda pergunta relativa a José: era velho ou novo?
A maior parte das esculturas e dos quadros, no-lo apresentam como um ancião de longas barbas brancas. Não há todavia dado algum histórico preciso a indicar-nos a sua idade.
Se indagarmos as razões pelas quais em arte ele é representado como um velho, descobrimos que esse aspecto lhe é atribuído em virtude de assim lhe caber melhor a função de guarda da virgindade de Maria.
Mas a arte fez de José um marido casto e puro, mais pela idade do que pelas virtudes.
É como admitir que a melhor forma de representar um homem que nunca roubará é imaginá-lo sem mãos.
Esquece-se acima de tudo que nos velhos podem arder os mesmos maus desejos que nos jovens. Temos um exemplo em Suzana. Foram alguns velhos que a tentaram no jardim.
Representando-se José como ancião, atribui-se maior merecimento à idade dum homem do que à sua virtude.
Considerar José como puro por ser velho seria o mesmo que querer exaltar uma torrente montanhosa privada de água.
Antes parece lógico pensar que Nosso Senhor preferiu para pai putativo um homem que sabia e queria sacrificar-se, e não um que fosse obrigado a isso.
De resto, parece-nos possível que Deus quisesse unir uma donzela a um velho?
Se Ele não desdenhou, aos pés da Cruz, de confiar sua mãe ao jovem João, porque havia de a querer, na primavera da vida, ligada a um velho.
O amor da mulher determina o do homem.
A mulher é a silenciosa educadora da virilidade do seu marido. Uma vez que Maria é o símbolo da virgindade e é para todos a sublime inspiradora da pureza, por que não havia Ela de ter exercido essa sua fascinação maravilhosa sobre José, o Justo?
Não diminuindo a potência do amor mas sublimando-a, Ela conquistou o seu jovem esposo.
Quero pois admitir que José fosse jovem, forte, viril, atlético, formoso e casto; aquele tipo de homem que ainda hoje podeis ver num prado a apascentar um rebanho, ou a pilotar um avião ou na oficina dum carpinteiro.
Longe de ser incapaz de amar, ele estava em plena efervescência viril; não fruto seco, mas flor exuberante e prometedora; não no ocaso da vida, mas no alvorecer, pletórico de energia, de força e de paixão.
Como nos aparecem mais belos Maria e José quando, ao contemplarmos a sua vida, nós descobrimos neles o Primeiro Romance de Amor!
O coração humano não se comove diante do amor dum velho por uma jovem, mas como não nos sentimos profundamente impressionados com o amor de dois jovens cujo liame é divino?
Maria e José eram ambos jovens, formosos e cheios de promessas.
Deus ama as cataratas impetuosas e as turbulentas cascatas, mas estou certo de que Ele as prefere, não quando inutilizam as suas flores, mas quando, com a energia que delas emana, iluminam as cidades e quando, com as suas águas, se mitiga a sede duma criança.
Em Maria e José não encontramos uma cascata de água pura, mas determinada, nem tampouco um lago de água já enxuto, mas dois jovens que, antes de conhecerem a beleza duma e a potente força do outro, a tudo renunciam, querendo entregar-se inteiramente à "paixão sem paixão" e à "impetuosa calma" de Jesus.
Maria e José levaram para as suas núpcias não só os seus votos de virgindade, mas também dois corações cheios dum amor grande, maior do que qualquer amor jamais alimentado por corações humanos.
Nunca um par de noivos se amou tanto.
Posso perguntar-vos, a vós que sois casados: a que tendeis depois de vos terdes amado? Ao Infinito, a um eterno êxtase.
Mas vós não podeis experimentá-lo na sua plenitude, porque o Infinito a que a vossa alma aspira está aprisionado pelo corpo. Isto obstrui-vos o caminho para Deus, ao qual aspirais.
Mas se hoje o ato de amor não vos faz experimentar uma delícia infinita, amanhã ser-vos-á dado experimentá-la no céu.
Então não será necessária a união dos corpos, porque tereis amor infinito.
Eis porque disse Deus que no Céu não haverá matrimônios. Não será necessário a aparência, porque tereis a substância.
Ireis vós afadigar-vos para descobrirdes um raio de sol refletido num espelho, se o podeis gozar diretamente?
Pois bem, a alaegria de possuir no céu, um amor eterno, sem limites, para o qual aspira o vosso matrimônio em Cristo, foi já experimentado por Maria e José.
Vós tendes necessidade da união material, porque não possuís a realidade de Deus. Maria e José, possuindo Jesus, nada mais desejavam.
Vós necessitais da comunhão física para compreenderdes a união de Cristo e da Igreja. Eles não, porque possuíam a Divindade.
Como disse Leão XIII em termos maravilhosos: "O seu matrimônio foi consumado em Jesus".
Vós uni-vos nos corpos, eles em Jesus.
Porque haviam eles de procurar as alegrias da carne, quando no seu amor estava a Luz do Mundo?
Em verade, Ele é Jesus, a delícia dos corações. Estando Ele presente, nada mais conta.
Do mesmo modo que marido e mulher, inclinados sobre o berço do seu menino recém-nascido, se esquecem de si mesmos, assim Maria e José não tiveram outro pensamento senão Jesus.
Amor mais profundo nunca houve nem haverá jamais sobre a terra.
Não alcançaram Deus através do seu amor recíproco, mas, tendo-se dirigido primeiramente a Ele, sentiram depois esse grande e puro amor um pelo outro.
José renunciou à paternidade no sangue, mas encontrou-a no espírito, pois tornou-se pai putativo de Jesus.
Maria renunciou à maternidade, e encontrou-a na sua própria virgindade.
Ela foi como o jardim fechado em que nada pôde entrar senão a Luz do Mundo, que nada teria quebrado para entrar, exatamente como a luz do dia que penetra numa sala sem quebrar os vidros.
Dedico esta transmissão a todos vós os que sois casados cristãmente e a todos os que um dia hão de ser admitidos ao grande mistério do amor.
Sirva o exemplo de Maria e José para vos fazer comrpeender que o maior erro dum par de noivos é o de suporem que duas pessoas são suficientes para se desposarem: Ele e Ela.
Não! São necessárias três: Ele, Ela, Deus: José, Maria, Jesus.
Poderei pedir-vos a vós, marido, mulher e filhos, que rezeis em comum, em homenagem a este amor perfeito da Sagrada Família, um rosário todas as noites?
Todos os casais que eu tenho unido em matrimônio vos podem dizer que foi sempre esta a minha recomendação: rezarem todos em comum.
A oração duma família unida é mais aceita a Deus do que a se faz individualmente, porque a família representa a unidade da sociedade.
O Cristianismo é a única religião que tem um caráter familiar, porque tem origem numa Mãe e num Filho.
Enquanto vós rezardes todas as noites o santo rosário com a vossa família, Nossa Senhora revelar-vos á o segredo do Amor e talvez vos segredeis entre vós: "Amo-te, não segundo a minha vontade, mas segundo a de Deus".
Se no amor tu me procurares a mim somente, não encontrarás nada; mas se através de mim procurares Deus, encontrarás tudo, uma vez que, repito, é necessário sermos três para amarmos: tu, eu e Deus!
No amor de Jesus!

Dom Fulton J. Sheen - EUA


(O processo de beatificação de D. Fulton Sheen,  está em andamento). (Gentileza Wilmor)

Fonte: www.recados.aarao.nom.br

 


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