24.05.2021 - Nota de www.rainhamaria.com.br
Artigo publicado no site 08.10.2016
Por Padre Dave Nix – OnePeterFive | Tradução Sensus fidei:
Sou um sacerdote de 38 anos de idade. A maior parte do meu sacerdócio tem sido voltada para estudantes universitários e jovens famílias. Toda semana, acabo em alguma conversa ao telefone com alguém que está suportando sofrimentos indescritíveis dentro de sua família. Eu sei que cada época da história tem o seu sofrimento, mas há algo diferente este ano. Por exemplo, eu perguntei a uma jovem mãe, durante o funeral de um amigo nosso, se sua família estava bem. Ela respondeu: “Bem. Nós somos as únicas pessoas que conhecemos cujas vidas não estão caindo aos pedaços.” Eu lhe disse: “Então eu vou colocá-la na minha lista restrita.” “Não nos coloque em nenhuma lista”, disse-me ela sorrindo.
Eu olho para o mundo em geral: 2 milhões de crianças são escravas sexuais. Durante o século passado, morreram mais cristãos testemunhando sua fé do que em qualquer outra época da história, e onde o comunismo cessou suas perseguições, grupos como ISIS surgiram para continuar o trabalho de açougueiro. Meio bilhão de crianças são exterminadas pela pílula e abortivos a cada ano. A natureza humana não se tornou pior, mas a instrumentação que nos é oferecida pelo mundo moderno inegavelmente tem levado a mais morte e escravidão do que nunca — incluindo o comércio transatlântico de escravos e o Holocausto. Este é um fato estatístico.
Normalmente eu iria procurar na Igreja a força que preciso para liderar famílias, mas quando li Amoris Laetitia, vejo que o Papa Francisco diz que divorciados novamente casados podem receber a Sagrada Comunhão sem a reforma de suas vidas. Para tantas famílias que estão lutando arduamente para se manterem unidas, isso é uma grande tentação ao divórcio. Talvez seja por isso que tantos bispos afirmem que não foi isso que o Papa afirmou. Mas há um problema com essa alegação: O próprio Papa Francisco e o Cardeal Schönborn têm ambos confirmado que o Papa Francisco quis dizer o que ele escreveu.
Indo um pouco mais fundo na questão: acabei de rever alguns dos novos programas de educação sexual do Vaticano denominado “Ponto de Encontro”. Há alguma coisa boa. Mas pequenas partes são pornografia leve, com fotografias eróticas incluídas. Eu não sou um padre excessivamente escrupuloso. Na verdade, eu sou um ex-paramédico que ajudava a fazer partos. Mas “Ponto de Encontro” contém fotos doentias de erotismo ameno. A “parte decente” de Ponto de Encontro está ainda muito longe da Teologia do Corpo. A parte ruim do programa me lembra a educação sexual que os comunistas apresentavam às crianças na Roménia, na década de 80, para estimular libidos na escola primária. Um padre amigo meu recentemente me recordou que veneno para ratos contém “99,95% de tudo aquilo que os ratos gostam. Apenas 0,05% é veneno.”
Então, como eu levei essas coisas para a Adoração Eucarística, eu tive o que o venerável Fulton Sheen chamava de “um desentendimento de amante” com Deus. Basicamente, eu olhei para Deus no ostensório e disse que, se a Igreja não poderia me apoiar na luta pela verdade, então, eu não tenho mais o que fazer. Agora, eu não “ouvi” coisas em oração, mas o que eu entendi em oração naquele momento seguinte foi uma das únicas vezes na minha vida em que (acredito eu) Deus falou diretamente ao meu entendimento:
“Minha Igreja está sendo crucificada. Você vai abandoná-la?”
Jamais vou esquecer estas palavras. Eles não só trouxeram coragem para o meu coração; eles trouxeram clareza para a minha mente: A Igreja deve ir para onde o seu Esposo passou em primeiro lugar, e isso seria — como aconteceu com Judas —o fruto de uma traição a partir de dentro. Nossa Senhora do Bom Sucesso prometeu uma “restauração completa” depois de uma crise profetizada e descrita de maneira muito parecida com a que estamos testemunhando hoje. Eu já via que a Igreja estava sofrendo uma crucificação, mas como pude me esquecer que depois da crucificação viria a ressurreição? Se Paulo VI podia dizer que “a fumaça de Satanás entrou no templo de Deus”, então, certamente eu não sou desobediente ou cismático por indicar que agora temos uma conflagração completa.
No seminário, eles nos disseram que a Igreja seria a nossa noiva. Mas a Igreja não pertence a mim ou a qualquer sacerdote ou bispo — ou a qualquer papa. É por isso que a teologia do sacerdócio de Santo Agostinho é aquela que coloca o sacerdote como um outro João Batista:
“Eu não sou o Cristo, mas fui enviado diante dele. Aquele que tem a esposa é o esposo. O amigo do esposo, porém, que está presente e o ouve, regozija-se sobremodo com a voz do esposo. Nisso consiste a minha alegria, que agora se completa. Importa que ele cresça e que eu diminua”. (Jo 3,28-30)
O “amigo do noivo” é simplesmente a “maior homem”[1] em linguagem moderna. João Batista está dizendo que tanto o antigo Israel como o novo Israel ambos pertencem exclusivamente ao Esposo divino, sozinho. João continua a ser o “maior homem”, e assim também é qualquer sacerdote que escolhe entrar em combate juntamente com o noivo.
Mas por onde o Noivo passou, também a noiva e o maior-homem devem passar.
Na segunda-feira, 19 setembro, no Calendário Latino Tradicional, celebrou-se a festa de 3.ªclasse de São Januário. No Evangelho dessa Missa, Jesus oferece seu discurso mais apocalíptico, falado apenas em privado aos Seus discípulos:
“Levantar-se-á nação contra nação, reino contra reino, e haverá fome, peste e grandes desgraças em diversos lugares. Levantar-se-á nação contra nação, reino contra reino, e haverá fome, peste e grandes desgraças em diversos lugares. Tudo isto será apenas o início das dores. Então sereis entregues aos tormentos, matar-vos-ão e sereis por minha causa objeto de ódio para todas as nações. Muitos sucumbirão, trair-se-ão mutuamente e mutuamente se odiarão. Levantar-se-ão muitos falsos profetas e seduzirão a muitos. E, ante o progresso crescente da iniquidade, a caridade de muitos esfriará. Entretanto, aquele que perseverar até o fim será salvo. Este Evangelho do Reino será pregado pelo mundo inteiro para servir de testemunho a todas as nações, e então chegará o fim”. (Mt 24, 7-14)
A lista acima em sua maior parte já foi concluída, especialmente o mais arrepiante de tudo: “A caridade de muitos esfriará.” Em uma escala mais mensurável que a caridade, considere que, mesmo CNN e CBS têm informado que “relativamente ao período de 20 anos, compreendido entre meados da década de 70 a meados de 90, a Terra tem estado mais ativa nos últimos 15 anos ou mais.” Eles estão citando Stephen S. Gao, um geofísico da Universidade de Ciência e Tecnologia de Missouri, que está, basicamente, dizendo que há mais terremotos agora do que nunca.
E então virá o fim.
Na verdade, eu não penso que estejamos no fim do mundo (por favor me perdoe, Jesus, se estiveres vindo hoje à noite), mas eu sinceramente acredito que estamos no fim de uma era. Algo está diferente este ano, mais diferente do que antes já esteve. E isso não é apenas uma opinião do “clube especial de Deus de pessoas excêntricas” que pressente esta tempestade distante. Pessoas comuns que estão rezando também pressentem —mães, pais, sacerdotes, freiras-todos têm ouvidos para o trilho do futuro. Mas o que esperar? O que está vindo?
Na verdade, aqui começa a notícia realmente boa.
Lembre-se que na Missa de segunda-feira, Jesus disse: “Tudo isto será apenas o início das dores.” — Mt 24: 8. A palavra “dores de parto” é traduzida do plural genitivo grego odinon (ὠδίνων). O singular é odin (ὠδίν.) Meu dicionário grego define odin como “dores de parto” e coloca-o “equivalente a angústia intolerável, em referência as calamidades terríveis que os judeus presumiam preceder o advento do Messias”.
O que estamos experimentando não são dores da morte, mas, dores de parto. Sim, os terremotos são parte dela. (Confira o artigo CBS acima, se você acha que sou como um televangelista paranoico de fim de noite em um colarinho romano.) Mas é muito mais profundo do que isso. O que temos aqui é o seguinte: O Corpo místico de Cristo está nascendo, seguindo Cristo, a cabeça, e isso deve chegar com as dores de parto de sofrimento. Lembre-se que quando Jesus morreu, houve um terremoto (Mateus 27:51). Sua Paixão e o terremoto foram apenas o nascimento da cabeça (Cl 1:18). Agora, o corpo, o corpo místico, deve seguir em dores de parto. Não esteve a Igreja sempre em dores de parto? Sim. No entanto, entre os 70.000.000 de mártires cristãos em 2.000 anos, mais de 45 milhões destes têm sido nos últimos 100 anos. Isso significa que a maioria dos martírios cristãos está acontecendo recentemente.
Escatologia é o estudo das últimas coisas. Os protestantes acreditam que as coisas devem ficar muito ruim antes de Jesus voltar novamente. Os católicos acreditam que as coisas devem ficar muito ruins, sim, mas, também, muito boas.
“Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos homens imolados por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho de que eram depositários. E clamavam em alta voz, dizendo: Até quando tu, que és o Senhor, o Santo, o Verdadeiro, ficarás sem fazer justiça e sem vingar o nosso sangue contra os habitantes da terra? Foi então dada a cada um deles uma veste branca, e foi-lhes dito que aguardassem ainda um pouco, até que se completasse o número dos companheiros de serviço e irmãos que estavam com eles para ser mortos”. (Ap 6:9-11)
A quota de santos mártires deve ser atingida para Cristo vir! Maranatha! Desde os primeiros dias, a Igreja tem chamado o dia da morte de um mártir como seu “aniversário”. Uma obsessão doentia com a morte? Não quando você percebe o que vem depois da crucificação da Igreja. Se Maria é o exemplo da Igreja, e a Igreja está agora a ser crucificada, então a ressurreição da Igreja provavelmente pode significar apenas uma coisa: A era do triunfo do Coração Imaculado de Maria, como prometido por Nossa Senhora de Fátima, 99 anos atrás. 2017 marca 100 anos do século mais sangrento na história do mundo.
Eu acho que as coisas vão piorar antes de melhorar, mas ainda assim eu escrevo: Mantenham-se firmes, vocês mártires orientais e vocês vítimas de escândalos de padre ocidentais. Mantenham-se firmes, alguns de vocês leitores abençoados com as alegrias indescritíveis e cruzes de ter um filho deficiente. Mantenham-se firmes, todos os sacerdotes santos em exílio por defender a tradição. Mantenham-se firmes, todas as mamãs que pensam já não poder ver seus filhos sofrendo ainda por mais um dia. Mantenham-se firmes todos vocês maridos que são ridicularizados no trabalho pelo seu amor à Igreja Católica. Vale a pena?
“Você vai abandonar minha Noiva enquanto ela está sendo crucificada?”
Não tenha medo. O Noivo está chegando, e Ele não vai demorar. O que você tem são dores de parto para uma nova vida. Queremos ficar no ventre da nossa atmosfera azul, mas nós fomos destinados para nascer em um novo céu e uma nova terra com novos corpos — se mantivermos nossas almas preparadas. Pois é morrendo que nascemos para a vida eterna.
Publicado originalmente: OnePeterFive – Birth Pains of the Church
Pe. David Nix escreve em www.padreperegrino.org
Nota do Tradutor:
[1] Pe. Dave Nix refere-se à forma elogiosa como Jesus se referiu a São João Batista: “Pois vos digo: entre os nascidos de mulher não há maior que João”. (Lc 7,28)
Fonte: www.sensusfidei.com.br via www.rainhamaria.com.br
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