03.07.2020 -
Especialistas supõem que anticorpos gerados pelos pacientes curados da COVID-19 os protejam de uma nova infecção pelo coronavírus. Mas cientistas acreditam que algumas pessoas sejam capazes de combater a COVID-19 mesmo sem esses anticorpos. Conheça esse protetor misterioso, presente no corpo de cerca de metade da população mundial.
No início de março, pesquisadores holandeses publicaram no site biorxiv.org um artigo alertando que pessoas que nunca pegaram COVID-19 poderiam ser imunes a seu patógeno. Um mês depois, o artigo foi publicado na revista Nature, uma das publicações científicas mais respeitadas do mundo.
Biólogos testaram o anticorpo monoclonal humano 47D11, detectado durante a epidemia de síndrome respiratória aguda grave – a chamada SARS. O SARS-CoV, causador da SARS, é semelhante ao patógeno causador da atual pandemia de COVID-19.
Os anticorpos introduzidos nas células infectadas neutralizaram com sucesso as partículas virais. Os autores do trabalho sugeriram que esses anticorpos podem proteger pessoas saudáveis contra infecções e ajudar os pacientes infectados a se curar do vírus.
Na mesma época, um anticorpo semelhante foi descoberto por uma equipe internacional de cientistas liderada pela virologista suíça Dora Pinto. No sangue de um paciente infectado pela SARS em 2003 foram detectados 25 anticorpos. No entanto, apenas um deles neutralizou o novo coronavírus.
A neutralização ocorre porque o anticorpo é capaz de reconhecer uma porção da proteína S na superfície da partícula viral que é característica de ambos os patógenos. Após o reconhecimento, o anticorpo se liga a essa partícula, impedindo que o SARS-CoV-2 entre na célula.
Memória celular
Em abril, pesquisadores alemães notaram que, por vezes, não são os anticorpos que protegem contra o coronavírus – a chamada imunidade humoral, mas os linfócitos T – a imunidade celular.
Para eles, as células de macrófagos deglutem o patógeno e os fragmentos de suas proteínas são depositados em sua membrana. Os fragmentos são reconhecidos pelas células T com a ajuda de receptores especiais que, tal como os anticorpos, são imunoglobulinas e se ligam especificamente a antígenos. Isso contribui para garantir a resposta imunológica do corpo do paciente.
Os cientistas observaram que algumas células T já são capazes de responder corretamente ao SARS-CoV-2. Por isso, as pessoas que possuem essas células podem lidar com maior facilidade com a COVID-19 ou são classificadas como assintomáticas.
Durante os estudos, os cientistas coletaram sangue de pacientes infectados com COVID-19 e de pacientes saudáveis, que não tiveram contato com infectados e não possuíam anticorpos para SARS-CoV-2. Os linfócitos encontrados foram isolados e estimulados com moléculas correspondentes a diferentes fragmentos da proteína S do coronavírus.
O resultado foi que quase 30% dos voluntários saudáveis tinham células T capazes de responder a uma proteína do patógeno perigoso como o causador da COVID-19.
Além disso, na maioria das vezes essas células reconheceram fragmentos similares às partes da proteína S de outros coronavírus – como o causador de resfriados comuns, o HCoV-229E.
Felizmente, células T responsivas ao SARS-CoV-2 foram encontradas na maioria dos pacientes infectados com COVID-19. Os pacientes que não tinham as células T normalmente enfrentavam formas mais graves da doença.
Segundo os autores do estudo, os dados coletados indicam um potencial de imunidade celular reativa ao SARS-CoV-2. Em outras palavras, pessoas que antes pegaram coronavírus sazonais já estariam imunes à COVID-19.
Essa descoberta poderia explicar por que crianças e jovens são mais tolerantes à doença. Frequentemente em lugares lotados, como jardins de infância, escolas e universidades, esse grupo está mais propenso a pegar um resfriado comum causado por coronavírus. Assim, a imunidade reativa de jovens e crianças pode estar fortalecida.
Adoecer significa estar protegido?
A hipótese colocada por cientistas alemães foi confirmada cerca de um mês depois por seus colegas americanos, que estudaram amostras de sangue colhidas de pacientes de 2015 a 2018 – ou seja, antes da propagação da COVID-19.
Em quase todos os materiais biológicos, eles encontraram sinais de imunidade celular específica, semelhantes aos que são detectados após a infecção pelo SARS-CoV-2.
Nesse caso, os cientistas se referiram a dois tipos de células imunes – as células T-assassinas (células CD8) e T-auxiliares (células CD4). As primeiras reconhecem as células infectadas pelo vírus e as destroem – às vezes por conta própria, às vezes pedindo ajuda a outras células. O segundo grupo garante o aumento do número de T-assassinas e melhora sua capacidade de combate.
Em cerca de metade das amostras colhidas de três a cinco anos atrás, os cientistas identificaram células CD4 específicas que agora são características de pessoas que tiveram COVID-19.
Além disso, as células CD8, presentes em 70% dos pacientes infectados pelo novo coronavírus, foram detectadas em 20% dos pacientes cujas amostras foram colhidas entre 2015 e 2018.
Isso significa que quase metade da população saudável da Terra pode ter imunidade à COVID-19, indicam os autores do trabalho.
Um estudo adicional de amostras de sangue obtidas entre 2015 e 2018 indicou ainda a presença de anticorpos para os dois coronavírus mais comuns, o HCoV-OC43 e o HCoV-NL63.
Portanto, pessoas que já foram expostas a outras infecções por coronavírus podem ser imunes ao SARS-CoV-2, causador da COVID-19. Essa descoberta poderia explicar a existência de casos assintomáticos da doença.
Fonte: br.sputniknews.com/ciencia_tecnologia
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