08.11.2018 -
O ENEM, desde que caiu em mãos petistas em 2003, virou um cavalo de Troia do tipo que chega relinchando, fazendo sujeira no calçamento, recheado de invasores, braços para fora, acenando bandeiras vermelhas. Pensado, originalmente, com o intuito de avaliar a aprendizagem dos alunos de ensino médio, uma vez confiado ao PT a partir de 2003 virou componente de relevo na máquina totalitária que o partido montou no MEC.
É tão útil como instrumento de propaganda, tão alinhado com as estratégias do partido que se pode intuir nele o dedo mágico dos publicitários da legenda e sua inspiração na Agitprop (agitatsiya propaganda) soviética. Imagine o contexto: de um lado, uma prova que habilita os bem colocados, num sistema de cotas e notas, a ingressar na universidade sem custo no tempo presente; de outro, um inteiro temário de questões onde as pautas políticas do partido aparecem como textos de motivação, objeto de interpretação, ou respostas a serem assinaladas como corretas. Se estudantes cubanos, venezuelanos, ou nicaraguenses fossem submetidos a algum certame nacional, ele certamente seria assim.
O cavalo de troia tem o poder de agir nacionalmente e de influenciar a quase totalidade dos estabelecimentos de ensino médio do país, mobilizando algo entre 5 e 7 milhões de estudantes por edição. O atrativo que oferece e a pressão de demanda que determina, leva as escolas a condicionarem seus conteúdos às pautas do ENEM. Desse modo, a burocracia do MEC dá o tom ideológico que devem entoar as salas de aula de todo o país. E depois – imenso paradoxo! – esses cavalheiros que impõem regras a todos, agitam suas bandeirinhas vermelhas em defesa da liberdade de cátedra e da autonomia do professor... Dá-me forças, Senhor!
O ENEM dá continuidade a um conjunto de procedimentos que há muito tempo se espalha como inço renitente. É uma praga, do tipo que se infiltra até em rachadura de piso, e envolve provas em concursos públicos, atividades escolares e acadêmicas, critérios para concessão de verbas à atividades culturais, critérios para seleção de estudantes para cursos de pós graduação. E por aí vai.
Quem se surpreendeu com a inclusão de vocabulário pajubá na prova deste ano, provavelmente não conhece a música nem metade da letra tocada pela militância de esquerda agarrada no MEC como carrapato ideológico. Imagine o efeito disso sobre milhões de alunos que compareceram às provas levando-as a sério. Essa questão, porém, não estava ali por acaso, nem por falta de assunto útil, mas para dar mais algumas marteladas no processo de desconstrução da nossa cultura e de seus valores.
Espera-se que o governo Bolsonaro esvazie o cavalo de troia e ponha o sistema a trabalhar em coisa séria, sob gestão qualificada, que tenha em vista a promoção humana de nossa juventude numa cultura de valores para uma vida digna.
- Percival Puggina, membro da Academia Rio-Grandense de Letras. Conselheiro do Instituto de Desenvolvimento Cultural e membro da Mesa Diretora da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Como leigo católico, foi coordenador estadual do Movimento de Cursilhos de Cristandade, presidiu a Associação dos Dirigentes Cristãos de empresas de Porto Alegre, e se dedicou ao estudo da Doutrina Social da Igreja.
Fonte: www.puggina.org
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