Arcebispo Viganò torna a escrever: “Será que Cristo se tornou invisível para seu vigário?”


29.09.2018 -

n/d

O arcebispo Carlo Maria Viganò, cujo testemunho de 11 folhas de agosto sacudiu a Igreja, inclusive a Sé Apostólica, publicou hoje uma nova declaração, desafiando ao papa Francisco por seu silêncio frente às acusações por sua cumplicidade no encobrimento dos culpáveis de abuso sexual eclesiástico.

Em sua nova declaração, Viganò disse que sua decisão de revelar “esses fatos graves” foi para ele “a decisão mais dolorosa e séria” que já tomou em sua vida. “O fiz,” escreve Viganò, “depois de longas reflexões e orações, durante meses de profundo sofrimento e angústia, durante um crescendo de notícias contínuas de terríveis acontecimentos, com milhares de vítimas inocentes destruídas e as vocações e vidas de jovens sacerdotes e religiosos perturbadas.”

Viganò disse que embora algo do que ele revelou estivesse protegido pelo segredo pontifício, “o objetivo de qualquer segredo, incluído o segredo pontifício, é proteger a Igreja de seus inimigos, não ocultá-la e converter-se em cúmplice dos crimes cometidos por alguns de seus membros.” Mais ainda, “como declara o Catecismo da Igreja Católica (par. 2491), o selo do segredo não é vinculante quando um dano grave pode evitar-se unicamente ao divulgar a verdade. Só o selo da confissão poderia haver justificado meu silêncio.

Dado que nem o Papa nem nenhum dos cardeais em Roma negaram os fatos que afirmou em seu testemunho – testemunho que Viganò declara “com a consciência tranquila ante Deus” que é verdade – a máxima “Qui tacit consentit” (quem cala consente) “seguramente se aplica aqui.” “Se negam meu testemunho,” aponta o ex núncio papal, “só têm que dizê-lo e fornecer a documentação para respaldar essa negação. Como podemos evitar concluir que a razão pela qual não fornecem a documentação é porque sabem que confirma meu testemunho?”

Viganò repreende Francisco não só por sua promessa de silêncio – “Não vou dizer uma palavra!” – mas também por seu fracasso em manter o silêncio, comparando-o com “o de Jesus em Nazaré e ante Pilatos,” e comparando Viganò “com o grande acusador, Satanás, que semeia o escândalo e a divisão na Igreja, mesmo que sem pronunciar” o nome do arcebispo.

Em lugar de dizer que Viganò mentiu, escreve, “em seu lugar implantou uma sutil calúnia contra mim: caluniar é uma ofensa que frequentemente tem comparado com a gravidade do assassinato. De fato, o fez repetidas vezes, no contexto da celebração do Santíssimo Sacramento, a Eucaristia, onde não corre o risco de ser desafiado pelos jornalistas.”

A declaração de hoje é uma forte sequência ao já publicado, e Viganò aclara que foi o cardeal Marc Ouellet quem lhe falou “das sanções do papa Bento sobre McCarrick.” “Tem a sua disposição,” diz Viganò a Ouellet, “documentos chave que incriminam McCarrick e muitos na cúria por seus encobrimentos. Sua Eminência, lhe insto a que testifique-se da verdade.”

A declaração completa se encontra em seguida.

***

Carlo Maria Viganò - Arcebispo titular de Ulpiana

Núncio Apostólico

Scio Cui credidi

(2 Tim.1, 12)

Antes de começar a escrever, gostaria de dar graças e glorificar a Deus Pai por cada uma das situações e provas que me preparou e preparará ao longo da vida. Como sacerdote e bispo da Santa Igreja Esposa de Cristo, fui chamado como todos os batizados a dar testemunho da verdade. Pelo dom do Espírito Santo que me sustenta com alegria no caminho que me chamou a recorrer, [e que] é minha intenção fazê-lo até o final de meus dias. Nosso único Senhor me convidou também a segui-lo, e é igualmente minha intenção segui-lo com a ajuda de sua graça enquanto Deus me dê vida.

"Enquanto viver, cantarei à glória do Senhor,

salmodiarei ao meu Deus enquanto existir.

Possam minhas palavras lhe ser agradáveis!

Minha única alegria se encontra no Senhor." 

Salmos, 103, 33-34

Já faz um mês que apresentei meu testemunho, sem outra intenção que o bem da Igreja, sobre o sucedido na audiência com o papa Francisco em 23 de junho de 2013 e com relação a certos assuntos que me foi dado a conhecer no curso das missões que me foram confiadas quando trabalhava na Secretaria de Estado e em Washington, no tocante aos responsáveis de encobrir delitos cometidos pelo anterior prelado de dita capital.

Minha decisão de revelar tão graves sucessos é uma das mais sérias e dolorosas que já tomei na vida. A tomei após muita reflexão e oração, depois de meses de profundo sofrimento e angústia, em meio de uma avalanche cada vez maior de notícias de terríveis acontecimentos com milhares de vítimas inocentes arruinadas e a vocação e a vida de jovens sacerdotes e religiosos vendo-se truncadas. O silêncio dos pastores que poderiam ter facilitado o remédio e evitado que houvesse mais vítimas foi se tornando cada vez mais inexcusável, convertendo-se em um delito devastador para a Igreja. Apesar de ser bem consciente das tremendas consequências que poderia ocasionar meu testemunho, porque estava a ponto de revelar que o próprio sucessor de São Pedro estava implicado, não me importou falar pelo bem da Igreja, e declaro ante Deus com a consciência tranquila que meu testemunho é verdadeiro. Cristo deu a vida pela Igreja, e Pedro, servus servorum Dei, é o primeiro que está chamado a servir a Esposa de Cristo.

É indubitável que alguns dos fatos que fosse revelar pertenciam ao segredo pontifício que eu havia prometido guardar e havia guardado fielmente desde o início de meu serviço na Santa Sé. Mas o motivo de todo segredo, incluído o pontifício, é defender a Igreja de seus inimigos, não encobrir e tornar-se cúmplice dos delitos cometidos por alguns de seus membros. Eu era testemunha, não por decisão própria, de uns acontecimentos escandalosos, e como diz o Catecismo da Igreja Católica (2491), o segredo não obriga se, tornando a verdade conhecida, se pode evitar um dano muito grave. Só o segredo de confissão poderia ter justificado meu silêncio.

Nem o Papa nem nenhum cardeal de Roma negaram o que declarei em meu testemunho. A máxima quem cala, consente se cumpre indubitavelmente neste caso, já que se quisessem negar meu testemunho não teriam mais que desmenti-lo e fornecer a documentação que confirmasse seu desmentido. É inevitável tirar a conclusão de que não fornecem a documentação porque sabem que confirma meu testemunho.

Meu testemunho se centrava em que ao menos desde 23 de junho de 2013 o Papa conhecia, porque eu lhe havia dado a conhecer, a perversidade e a maldade das intenções e ações de McCarrick, e em vez de tomar as medidas que qualquer pastor bom teria tomado, o Papa nomeou McCarrick um de seus principais assistentes no governo da Igreja, assuntos relativos aos EUA, à Cúria e inclusive à China, como vemos nestes dias sentindo grande preocupação e ansiedade por essa igreja mártir.

E não obstante, a respost​a do Papa a meu testemunho foi «Não direi uma palavra!» mas em seguida, contradizendo-se, comparou seu silêncio com o de Jesus em Nazaré e ante Pilatos, e a mim com o grande acusador, Satanás, que semeia escândalo e divisão na Igreja, ainda que não chegue a nomear-me. Se tivesse dito que Viganò mentia, teria posto em dúvida minha credibilidade enquanto tratava de afirmar a sua. Com isso teria suscitado uma maior demanda no povo de Deus e no mundo para que se publicasse a documentação necessária para determinar quem dizia a verdade. En vez disso, emitiu uma sutil calúnia sobre mim. E a calúnia é um delito tão grave que ele comparou com o de assassinato. Em realidade o fez repetidamente no contexto da celebração do Santíssimo Sacramento, da Eucaristia, porque nesse momento os jornalistas não podiam preguntar-lhe nada. Quando falou com estes, pediu-lhes que fizessem uso de sua maturidade profissional e tirassem suas próprias conclusões. E como os repórteres vão averiguar a verdade se os diretamente implicados se negam a responder preguntas e facilitar documentos? A negativa do Papa a responder a minhas acusações e que faça ouvidos mocos aos fiéis não são muito coerentes com suas chamadas à transparência e a construir pontes.

Ainda mais, está claro que não foi um erro isolado que o Papa encobrisse McCarrick. Ultimamente se têm documentado muitos casos mais na imprensa de que o papa Francisco defendeu sacerdotes homossexuais que cometeram graves abusos contra menores ou adultos. Entre eles sua cumplicidade no caso do Pe. Julio Grassi em Buenos Aires, a reabilitação do Pe. Mauro Inzoli depois de que o papa Bento o manteve apartado do ministério (até que foi preso, após o que Francisco o reduziu ao estado laico) e sua interrupção da investigação sobre as acusações de abusos sexuais contra o cardeal Cormac Murphy O’Connor.

Enquanto isso, uma delegação da Conferência Episcopal dos EUA presidida pelo cardeal Di Nardo foi a Roma para solicitar uma investigação de McCarrick. O cardeal Di Nardo e outros prelados deveriam dizer à Igreja dos EUA e do mundo inteiro se o Papa se negou a investigar os delitos de McCarrick e dos encobridores. Os fiéis têm direito de sabê-lo.

Em particular gostaria de apelar ao cardeal Ouellet, porque quando era Núncio sempre trabalhei muito estreitamente com ele, e sempre lhe tive grande estima e afeto. Recordará que ao final de minha nunciatura em Washington me recebeu uma tarde em seu apartamento de Roma e mantivemos uma longa conversação. No início do pontificado de Francisco, havia mantido sua dignidade, como havia demonstrado valorosamente quando era arcebispo de Quebec. Mas mais tarde, sendo prefeito da Congregação para os Bispos, foi assediado, porque as recomendações para as ordenações episcopais eram passadas diretamente a Francisco pelos amigos homossexuais de seu dicastério, e terminou por dar-se por vencido. O longo artigo que escreveu em L’Osservatore romano a favor dos aspectos mais controvertidos de Amoris laetitia supôs sua rendição. Eminência: antes de que eu partisse para Washington, foi o senhor quem me falou das sanções de Bento a McCarrick. Tem inteiramente a sua disposição documentos chave que incriminam McCarrick e a muitos encobridores seus na Cúria. Eminência, o insto a dar testemunho da verdade.

Por último, quisera animar a todos os fiéis, meus irmãos em Cristo: não desesperem! Façam seu o ato de fé e confiança em Cristo Jesus nosso Salvador que fez São Paulo em sua segunda epístola a Timóteo, scio Cui credidi, sei em Quem acreditei, que escolhi como lema episcopal. É um momento de arrependimento, de conversão, de orações, de graça, para preparar a Igreja, esposa do Cordeiro, para combater e ganhar com Maria a batalha contra o dragão antigo.

Em Ti, Jesus, meu único Senhor, deposito minha inteira confiança.

«Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus» (Rom. 8,28)

Para comemorar minha ordenação episcopal em 26 de abril de 1992, pelas mãos de João Paulo II, elegi esta imagem tomada de um mosaico da basílica de São Marcos em Veneza, que representa o milagre da tormenta que Jesus acalmou. Me chamou poderosamente a atenção que na barca de São Pedro açoitada pela tempestade Jesus apareça duas vezes. Uma, profundamente dormido na proa enquanto Pedro trata de despertar-lhe: «Mestre, não te preocupas de que pereçamos? Enquanto isso, os apóstolos, aterrorizados, olhavam para outro lado sem reparar em que Jesus estava de pé às costas deles, abençoando-os e garantindo-lhes que estava no comando da embarcação: Despertando, mandou ao vento e disse ao mar: Cala, emudece… E logo lhes disse: “Por que temeis? Ainda não tendes fé?”» (Mc 4,38-40).

A cena é muito oportuna porque representa a atroz tormenta que atravessa a Igreja neste momento, mas com uma diferença crucial: que o sucessor de São Pedro não só não se dá conta de que o Senhor está verdadeiramente ao timão, mas que nem sequer tem intenção de despertar a Jesus que dorme na proa.

Será que Cristo se tornou invisível para seu vigário? Será que tem a tentação de tornar-se substituto de nosso único Mestre e Senhor?

O Senhor tem inteiramente em suas mãos o governo da barca!

Que Cristo, a Verdade, nos ilumine sempre o caminho!

+ Carlo Maria Viganò

Arcebispo titular de Ulpiana

Núncio apostólico

29 de setembro de 2018

Festividade de São Miguel Arcanjo

(Artículo traducido por Marilina Manteiga. Carta traducida por Bruno de la Inmaculada /Adelante la Fe)

Fonte: adelantelafe.com  via  romadesempre.blogspot.com

 

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