17.01.2017 -
Cinco anos de guerra e dezenas de milhares de mortos. Este é o balanço do que está ocorrendo na Síria, um conflito que vai muito mais além de um conflito entre os sírios e que é mais complexo do que aparece nos meios de comunicação.
Dezenas de Igrejas e mosteiros têm sido deliberadamente destruídos na Síria.
Religión en Libertad - Tradução Frei Zaqueu
Um arcebispo sírio esclarece a confusão e manipulação sobre a guerra que assola o país.
Grandes vítimas desta guerra são os cristãos, uma florescente minoria de10% que se tem reduzido a 2% nestes cinco anos. A imensa maioria se viu obrigada a fugir, outros entretanto foram mortos. Em uma entrevista na ABC, o arcebispo greco-católico melquita de Homs, Jean Abdo Arbach, explica o que está passando verdadeiramente na Síria:
-Que tipo de guerra se vive na Síria?
– Não é uma guerra civil. Tampouco é uma guerra de oposição ao Governo de Bashar al-Assad. É uma guerra internacional na terra da Síria. Há quase mais de 30.000 soldados rebeldes na Síria que não são sírios. Essa é a realidade. É um conflito alimentado de fora para semear o caos na Síria e em todos os países do Oriente Médio como já passou no Líbano, e como sucedeu no Iraque com a guerra do Golfo. O plano é dividir o Oriente Médio e esvaziá-lo de cristãos. Quando começou a guerra na Síria, houve manifestações para pedir a democracia. Onde está a democracia? Em que país da região há democracia?
– Está em perigo de extinção a comunidade cristã no Oriente Médio?
– Há um grande medo ante o êxodo cristão porque não é bom nem para a Síria nem para a Igreja. Nós temos muitos templos danificados e podemos reconstruí-los, mas uma Igreja sem comunidade, serve para algo? Não. Essa é a primeira ferida desta guerra. A segunda é que os cristãos que já vivem na Europa perdem sua identidade porque perdem seus rituais antigos. Além disso as segundas e terceiras gerações já deixam de ser sírios. São do país que os acolhe. A perda das identidades cristãs do Oriente Médio é uma coisa muito grave.
– São os cristãos o objetivo desta guerra?
– Todo o povo sírio sofre e está perseguido pelo Daesh, mas os cristãos costumam ser as vítimas. Mais que outros coletivos.
O arcebispo Arbach fala de como os cristãos são vítimas propícias nesta guerra.
– Os cristãos se sentem abandonados pela Igreja do Ocidente?
– A Igreja não abandonou de nenhuma maneira os cristãos da Síria e do Oriente Médio. Isto é uma coisa muito importante. A Igreja em todos os lugares reza e ajuda os cristãos. Quando o Papa convocou o dia de oração pela Síria mudou totalmente a situação.
– Nós sempre temos convivido e trabalhado com os muçulmanos. Antes da guerra não tínhamos nenhum problema. Os líderes muçulmanos moderados não estão a favor do Daesh. Os líderes muçulmanos de nosso país são uma coisa e os líderes muçulmanos que pertencem ao Daesh são outra.
-Na Síria os cristãos têm medo de ir à Igreja?
– Os cristãos não têm medo de ir à Igreja, têm medo das bombas. Há um mês em Homs recebemos cinco foguetes próximo à Paróquia, mas a Igreja seguiu aberta e seguimos celebrando missa. Há uns dias estalou uma bomba na Igreja latina. Ninguém sabe quando vai ocorrer, mas isso não significa que fechemos nossas Igrejas.
– Há alguma iniciativa conjunta entre muçulmanos e cristãos para pedir a paz?
– Em nossas comunidades cristãs e muçulmanas celebramos orações para pedir a paz porque este sofrimento toca todo o povo sírio. As bombas não distinguem entre cristãos e muçulmanos.
– Que futuro têm as crianças?
– Esta pergunta é muito importante. Há que trabalhar com as crianças nos centros de catequese, com os educadores para formar bem esta juventude que vive e pensa na guerra. Para mudar esta idéia da guerra que têm as crianças e os jovens faz falta muita ajuda psicológica e educativa para poder tirar-lhes deste drama. Esse é o trabalho mais importante que agora tem a Igreja entre suas mãos.
Publicado originalmente: Religión en Libertad via Sensus Fidei
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