31.10.2014 -
Nota dos editores: Apresentamos abaixo uma entrevista de Dom Fellay à Porta Latina. Optamos por deixar o texto o mais próximo possível do original, o que pode gerar certa estranheza em algumas partes devido à forma como são construídas as orações francesas.
Dom Bernard Fellay, Superior Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, aceitou nos conceder uma entrevista exclusiva durante a peregrinação internacional 2014 a Lourdes. Que ele seja aqui calorosamente agradecido por isso.
Sua Excelência respondeu sem rodeios a todas as nossas perguntas. Depois de nos ter compartilhado sua alegria pelo sucesso dessa peregrinação, ele nos confiou suas análises sobre o martírio dos cristãos do Oriente, o sínodo sobre a família e a beatificação do papa Paulo VI. Enfim ele concluiu por um esclarecimento a propósito da frase de seu sermão que evocava Nosso Senhor e seu “noli timere” – “não tenham medo”.
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La Porte Latine – Bom dia, Excelência. Obrigado por responder às perguntas da Porte Latine para os fiéis da França que não puderam assistir a essa magnífica peregrinação. Como vossa excelência pode concluir essa peregrinação?
Dom Fellay – Efetivamente, o termo magnífico é aquele que devemos utilizar. Uma peregrinação muito, muito, muito bela, com uma união perfeita: a ajuda do centro, da organização da peregrinação, que colocou à nossa disposição tudo o que precisávamos, o Bom Deus que nos concedeu um tempo absolutamente magnífico, belíssimos dias de fim de outono que permitiram as mais serenas cerimônias possíveis… Acredito que essa é também a palavra que utilizaria: a serenidade, estava muito calmo e muito bonito. Acho que as almas puderam se elevar rumo ao Bom Deus, unir-se ao Bom Deus, agradecer a Nossa Senhora, suplicar-lhe todas as graças cujas elas necessitam, cujas nós necessitamos. Realmente uma bela peregrinação de ação de graças.
LPT – Tivemos várias consagrações durante essa peregrinação. Vossa excelência pode falar delas, já que isso também envolve todos os fiéis da Fraternidade?
Dom Fellay - Na realidade eram renovações. Não acho que tenha havido diretamente uma consagração, exceto talvez a de hoje, que era antes uma súplica a São Pio X, pois certamente ele é o nosso padroeiro, e tudo já está em suas mãos. A renovação da consagração da Fraternidade, do Distrito da França ao Imaculado Coração de Maria, que corresponde a Fátima, Lourdes sendo um lugar de aparição de Nossa Senhora, as mensagens sendo no fundo as mesmas, ou seja, essa insistência sobre uma profundíssima e muito íntima devoção a Nossa Senhora, ao Imaculado Coração. Aqui é a Imaculada, em Fátima é o Imaculado e Doloroso Coração, as encontramos aqui, é a mesma Virgem Maria. Logo a consagração é importante para nós, porque manifestadamente o Céu nos indica os meios para encontrar a proteção, o socorro nos tempos difíceis que atravessamos, é o Imaculado Coração, o meio indicado pelo Bom Deus, pelo Céu. Também ao Sagrado Coração, ligado a Cristo Rei. Levamos isso muito a sério, isso é muito caro para nós.
Além do mais, isso me faz lembrar que Dom Lefebvre tem uma frase extremamente esclarecedora sobre o combate, sobre os problemas atuais na Igreja, e ele os liga a Cristo Rei. Ele diz: “é porque os prelados, os nossos prelados, os chefes da Igreja, não têm mais o cuidado, a preocupação com o realeza, o reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo, que as coisas vão mal“, e ele vai até dizer que não podemos segui-los, e isso é verdade, é uma linguagem que não é mais compreendida hoje, não é mais absolutamente compreendida. Acredito que isso é uma das maiores desgraças, é uma espécie de diminuição teórica, da realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo, da qual não se quer mais a aplicação prática… Eventualmente para as pessoas… mas para a sociedade, reconhecer que as sociedades, os países, as nações, pertencem a Nosso Senhor hoje é simplesmente considerado como uma ideia de marciano, e isso na Igreja. Isso é uma tragédia profunda, já que é o mesmo Senhor das Nações que é o nosso Salvador, é o mesmo que está à frente de todas as nações e na liderança da Igreja, que é o Salvador, o único por quem se pode ser salvo. Tirar uma parte – essa parte na qual se passa a vida humana, ou seja, esse mundo, a gente tem uma alma e um corpo – é gravíssimo, é na verdade o que quiseram os inimigos da Igreja, é retirar o cetro de Nosso Senhor. Esse combate, ele está abandonado, depois de Monsenhor sempre entendemos isso como algo muito, muito grave, e estamos certamente persuadidos de que temos razão. Logo, renovar essa consagração, solicitada por Pio XI, tem um valor muito importante; é um protesto rumo ao Céu dizendo: muitos vos viraram as costas, não nós! Queremos estar convosco.
LPL – E essa última súplica a São Pio X, de hoje?
Dom Fellay - São Pio X é o nosso padroeiro. Então lhe pedimos de verdade para ele nos guardar, nos proteger, interceder lá do alto do céu por essa obra que se colocou sob seu patrocínio, que quer seguir seu exemplo, que quer se beneficiar de sua intercessão. Podem falar o que quiserem, mas São Pio X é realmente um grande santo papa. Ele foi canonizado em nome de seu sacerdócio. Certamente, por assim dizer, o papa é o summum do sacerdócio – Sumo Pontífice – e isso também é todo um programa. É preciso recordar que o nosso modelo é ele, é São Pio X.
LPL - Algumas questões da atualidade preocupam os católicos, e mais especialmente os fiéis da Fraternidade. A primeira diz respeito aos cristãos do Oriente que são massacrados atualmente. Qual é a vossa opinião sobre o que está acontecendo?
Dom Fellay - Inicialmente, há uma grande compaixão, mas também, sem dúvida alguma, se agora encontramos essa forma de islã extremamente agressivo nesses países, é porque havia uma certa ordem estabelecida que foi completamente perturbada, e isso é recente. Até então os cristãos viviam nesses países com toda a honra e respeito que lhes eram devidos, pode-se dizer desde as origens. Quando o islã chegou lá, sob Maomé, eles não foram tão bárbaros quanto hoje; isso também é um sinal dos tempos. Isso deveria fazer as pessoas refletirem, mas temos a impressão de que não se reflete nisso. Tenta-se colocar isso sob uma espécie de extremismo, e pronto. Isso é grave, é realmente muito, muito grave o que acontece lá. Novamente, como não se quer mais esse reino de Nosso Senhor, então estamos sofrendo as consequências disso: elas estão diante de nós!
LPL - Os meios de comunicação falam muito do sínodo da Igreja católica. O que a gente deve absorver disso? O que devemos esperar dele?
Dom Fellay - Não há nada a esperar. Não é preciso esperar, a linha foi traçada. Ela é clara. É preciso dizê-lo simplesmente: ela é clara. É evidente que querem chegar a banalizar a situação das pessoas que vivem no adultério, em uma verdadeira situação de pecado. Querem banalizar isso, e isso é muito, muito, muito grave. Quando se toca na moral, se toca nos mandamentos de Deus. Que ousaram, durante duas semanas, a dar livre curso à opinião onde não há lugar para a opinião. Foi Deus quem falou. Há o “amém”. Certamente é preciso refletir como ajudar essas pessoas, é preciso refletir sempre nisso.
Mas certamente não as ajudamos dizendo-lhes que há uma porta aberta lá onde não há. A porta que se está abrindo é a porta para o inferno! Estes prelados que receberam o poder das chaves, ou seja, de abrir as portas do Céu, estão fechando-as e abrindo as portas do inferno. Isso é inacreditável!
Devemos gritar! Devemos gritar! E como eu lhe disse, a linha foi traçada. É verdade que esse sínodo não era tido para decidir, era considerado como um primeiro passo, mas os primeiros passos foram marcados, a direção foi traçada, e não é difícil adivinhar o que acontecerá no próximo sínodo. A menos que haja uma reação muito mais forte do que a que existe hoje, e, infelizmente, acho que não haverá. Não haverá, infelizmente!
LPL - O que se deve pensar da beatificação de Paulo VI?
Dom Fellay - Não é sério, simplesmente. Conclui-se disso que todo mundo pode se tornar santo, sobretudo se se é pró Vaticano II, assim! Tudo o que toca o Vaticano II agora é santo, beatificado, canonizado. Novamente aqui há uma banalização da santidade. Não é mais sério, não é mais sério! Isso faz mal, isso nos atinge profundamente. Eles ridicularizam a religião. Um santo deve brilhar por suas virtudes, virtudes heroicas, deve ser um exemplo a ser seguido. E isso não é sério, o que fazem aí, é triste dizer isso.
LPL – Terminamos pelas palavras que a imprensa reteve do vosso sermão de ontem: “Não tenham medo!”. Para os fiéis que não assistiram à essa missa, diga-nos o que eles devem guardar disso.
Dom Fellay - É preciso compreender corretamente o que disse. Não disse simplesmente “não tenham medo”. Disse que haveria essas razões, humanamente falando, gravíssimas para se ter medo, e de todos os lados, mas que a esse medo humano seria preciso responder por um olhar sobrenatural, ouvindo Nosso Senhor que já tinha se dado conta de que os apóstolos tinham medo, esse temor não é de hoje.
Desde os apóstolos há esse medo. Ele é um dos meios mais poderosos dos inimigos da Igreja, em particular do diabo, para paralisar a ação apostólica da Igreja. Ele tenta amedrontar, assustar. É preciso vencer esse medo, mas não buscando meios humanos.
As tentações dos homens é de se deixar assustar pelo o que é uma realidade diante de nós, ou querendo pretender revolver os problemas por si mesmo. Em ambos os lados, a resposta verdadeira é a resposta dada por Nosso Senhor, quando ele diz: “não tenham medo“, isso é porque é preciso buscar o socorro Nele. “Adjutorum nostrum in Nomine Domini“, nosso socorro está no Nome do Senhor. É um olhar sobre o Bom Deus que devemos ter. E numa crise tão terrível quanto essa, isso é a única coisa que nos resta, aliás. Do lado dos homens está acabado, não há esperança. A situação da Igreja é uma catástrofe inominável.
Logo há realmente o que temer. Mas não temos o direito de nos deixar paralisar, é preciso ir adiante, é preciso partir para a reconquista, e isso só pode ser feito no Nome do Senhor. Esse olhar e essa busca da ajuda prometida pelo Bom Deus.
O Bom Deus que pediu para os apóstolos irem pelo mundo inteiro teve de lhes dizer: “não tenham medo“, mas ele também disse “contem Comigo. Estarei convosco todos os dias“. Esta é a verdadeira mensagem, não é “não tenham medo“.
Entrevista realizada para a Porte Latine por Jean-Paul e Jacques Buffet, em 27 de outubro de 2014.
Fonte: La Porte Latine / Tradução: Dominus Est - imagens www.rainhamaria.com.br
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Nota de www.rainhamaria.com.br
Diz na Sagrada Escritura:
"Virão sobre ti dias em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados". (São Lucas 19, 43)
"Coragem! E sede fortes. Nada vos atemorize, e não os temais, porque é o Senhor vosso Deus que marcha à vossa frente: Ele não vos deixará nem vos abandonará." (Deuteronômio 31, 6)
"Somos atribulados por todos os lados, mas não desanimamos; somos postos em extrema dificuldade, mas não somos vencidos por nenhum obstáculo;
Somos perseguidos, mas não ficamos desamparados. Somos abatidos, mas não somos destruídos.
Animados pelo mesmo espírito de fé, sobre o qual está escrito: «Acreditei, por isso falei», também nós acreditamos e por isso falamos.
É por isso que nós não perdemos a coragem. Pelo contrário: embora o nosso físico se vá desfazendo, o nosso homem interior vai-se renovando a cada dia". ( II Coríntios 4)
"Para que vossa fé não se baseasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.
Entretanto, o que pregamos entre os perfeitos é uma sabedoria, porém não a sabedoria deste mundo nem a dos grandes deste mundo, que são, aos olhos daquela, desqualificados.
Pregamos a sabedoria de Deus, misteriosa e secreta, que Deus predeterminou antes de existir o tempo, para a nossa glória.
Sabedoria que nenhuma autoridade deste mundo conheceu (pois se a houvessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da glória).
É como está escrito: Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4), tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam.
Todavia, Deus no-las revelou pelo seu Espírito, porque o Espírito penetra tudo, mesmo as profundezas de Deus.
Pois quem conhece as coisas que há no homem, senão o espírito do homem que nele reside? Assim também as coisas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus". (I Coríntios, 2, 6-11)
"Naquele dia, o Senhor protegerá os habitantes de Jerusalém; o mais fraco dentre eles será valente como Davi, e a casa de Davi surgirá como Deus, como um anjo do Senhor". (Zacarias 12, 8)
"Vi ainda o céu aberto: eis que aparece um cavalo branco. Seu cavaleiro chama-se Fiel e Verdadeiro, e é com justiça que ele julga e guerreia". (Apocalipse 19, 11)
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