04.07.2013 - Após uma determinação da direção, a água para consumo dos pacientes do Hospital Celso Ramos, em Florianópolis, foi concentrada no refeitório, no subsolo do prédio. Enfermeiros de todas as alas precisam se deslocar até lá para comer ou tomar água. Sobrou para os pacientes, que só recebem o líquido junto com as refeições.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que cada pessoa beba no mínimo dois litros de água por dia. Uma alteração na forma como se fornece o líquido precioso dentro do Hospital Governador Celso Ramos, em Florianópolis, tem deixado alguns pacientes com um volume limitado em 1,5 litros — três garrafinhas pet de 500 mililitros, que são entregues junto com as principais refeições (café da manhã, almoço e janta).
Um paciente em quimioterapia, que não quis se identificar, teve que implorar por água na noite da última sexta-feira.
— Chegou a noite e eu tinha medicamento para tomar e não tinha água. Chamei a enfermeira, que disse não poder fazer nada. Depois veio a nutricionista, que disse que estava recebendo ordens. Minha família só podia voltar no outro dia — revelou ele, que possui um linfoma de rápido crescimento.
Pacientes em quimioterapia sofrem mais na sede
De acordo com a Sociedade Catarinense de Oncologia, pacientes em quimioterapia costumam ter efeitos colaterais como prisão de ventre, diarreia, boca seca, náusea e vômitos e necessitam de água em abundância para aliviar os sintomas. Daí o desespero.
Nos corredores das alas de internação, não há bebedouros ou bombas de água há mais de um ano, por determinação da Vigilância Sanitária, segundo assessoria da Secretaria de Estado da Saúde.
Mesmo sem os aparelhos, a água estava mais acessível até semana passada. Outro paciente, com leucemia, e que se internou mais de uma vez no Hospital, contou que as cobiçadas garrafas ficavam à disposição de pacientes e acompanhantes na bancada do posto de enfermagem de cada ala (ou andar). Mas o procedimento mudou.
— A família traz minha água, mas e outros pacientes que não tem nem quem visite e não podem trazer água de fora? — alertou ele.
Quem responde é um funcionário do refeitório, que teve a identidade preservada. É lá no subsolo do hospital, na chamada copa, que saem as garrafas que vão para os quartos.
— Veio uma nota da direção, no dia 26 de junho, informando que cada paciente receberia uma cota de três garrafas de 500 ml por dia. A água deveria ser entregue diretamente para a pessoa doente. Caso ele queira mais, a direção precisa liberar — afirmou.
O racionamento de água atinge também acompanhantes dos pacientes, que precisam trazer a própria água para fazer companhia ao familiar internado.
Direção nega falta de água
O diretor do Hospital Governador Celso Ramos, o médico Libório Soncini, explica que a água é fornecida por uma empresa terceirizada e nega que haja racionamento na unidade de saúde.
— Não falta água no hospital. Isto não é verdade. É impossível. A Vigilância Sanitária pediu que se acabasse com as copas, que antes tinham em cada ala (andar), e definisse um local onde os funcionários fariam as refeições. Eu jamais iria contra uma medida da Vigilância.
Na opinião dele, tal alteração no procedimento, que teria ocorrido na última semana, não foi bem recebida por todos os funcionários, gerando um problema no serviço.
— Os funcionários que tinham copa nos setores deles agora têm que se dirigir ao refeitório do hospital para fazer suas refeições e buscar água para os pacientes. Isto desagradou alguns.
O diretor de Vigilância em Saúde de Florianópolis, Leandro Pereira Garcia, foi procurado por telefone até às 20h de ontem, mas não atendeu para mais esclarecimentos.
A Hora teve acesso a uma denúncia sobre o problema, encaminhada à Ouvidoria do Hospital Celso Ramos, registrada no dia 1º de julho (segunda-feira). Leia um trecho:
"Tenho um pai diabético, ele por exceção não sente muita sede de água, mas diabéticos sentem muita sede, inclusive, o companheiro de quarto de meu pai e sua esposa (acompanhante) são diabéticos... Graças a Deus sou uma pessoa saudável e posso caminhar até o refeitório e encher minhas garrafas no galão que lá existe. Mas reclamo pelos pacientes do andar, pois água é essencial, e eles estão tendo que se virar para achar água em outros andares", relato de um acompanhante de paciente, internado no Hospital Governador Celso Ramos com diabetes.
Fonte: Diário Catarinense
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