As profecias da Humanae Vitae, do Papa Paulo VI


19.02.2012 -

Gostaria de aproveitar este tempo de Carnaval para escrever alguma coisa sobre as profecias feitas pelo Papa Paulo VI na encíclica Humanae Vitae, de 1968.

Primeiro, o que uma coisa tem a ver com a outra? Simplesmente tudo, caro leitor. No tempo do Carnaval parece que os hormônios da galera vêm à tona com muito mais força. Sim, há muita gente juntando as ferramentas de pesca e indo ao rancho para aproveitar o sossego da natureza; tem muita gente indo a um bom retiro espiritual para rezar e desagravar o Coração de Jesus; mas, ao mesmo tempo, há muitos – muitos mesmo! – aproveitando a festa para cair na gandaia, “encher a cara” e virar a noite sem pensar em nada, mais ou menos no estilo de “Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos!” (Is 22, 13; 1 Cor 15, 32).

Danças imorais, roupas extravagantes, sexo sem compromisso, bebedeira liberalizada… Todos estes retratos integram um álbum sujo que contam a história da modernidade. Mas um senhor velho, sentado numa cátedra bimilenar, já anunciava a vinda de todos os males que hoje contemplamos com tristeza no olhar. Queremos falar, aqui, de um modo mais específico, dos alertas de Paulo VI sobre os problemas que uma mentalidade contraceptiva traria à sociedade – problemas que já estamos experimentando. Todas as previsões acertadas deste Pontífice estão compendiadas no número 17 da encíclica Humanae Vitae. Destacamos:

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“Os homens retos poderão convencer-se ainda mais da fundamentação da doutrina da Igreja neste campo, se quiserem refletir nas consequências dos métodos da regulação artificial da natalidade. Considerem, antes de mais, o caminho amplo e fácil que tais métodos abririam à infidelidade conjugal e à degradação da moralidade. Não é preciso ter muita experiência para conhecer a fraqueza humana e para compreender que os homens – os jovens especialmente, tão vulneráveis neste ponto – precisam de estímulo para serem féis à lei moral e não se lhes deve proporcionar qualquer meio fácil para eles eludirem a sua observância. É ainda de recear que o homem, habituando-se ao uso das práticas anticoncepcionais, acabe por perder o respeito pela mulher e, sem se preocupar mais com o equilíbrio físico e psicológico dela, chegue a considerá-la como simples instrumento de prazer egoísta e não mais como a sua companheira, respeitada e amada.”

“Pense-se ainda seriamente na arma perigosa que se viria a pôr nas mãos de autoridades públicas, pouco preocupadas com exigências morais. Quem poderia reprovar a um governo o fato de ele aplicar à solução dos problemas da coletividade aquilo que viesse a ser reconhecido como lícito aos cônjuges para a solução de um problema familiar? Quem impediria os governantes de favorecerem e até mesmo de imporem às suas populações, se o julgassem necessário, o método de contracepção que eles reputassem mais eficaz? Deste modo, os homens, querendo evitar dificuldades individuais, familiares, ou sociais, que se verificam na observância da lei divina, acabariam por deixar à mercê da intervenção das autoridades públicas o setor mais pessoal e mais reservado da intimidade conjugal.”

O Papa Montini expõe quatro consequências principais advindas da adoção generalizada dos métodos contraceptivos: (1) queda generalizada dos padrões morais; (2) um aumento na infidelidade e ilegitimidade; (3) a redução das mulheres a objetos utilizados para satisfação dos homens; e (4) coerção governamental em matérias envolvendo reprodução. Aparentemente, nenhum destes pontos é-nos estranho. Examinemo-los:

- Queda generalizada dos padrões morais. Mais do que padrões morais sendo derrubados, a própria existência de verdades morais objetivas vem sendo seriamente questionada nestes tempos de “ditadura do relativismo” em que vivemos. Os princípios de bem e mal são lentamente abolidos; ao invés, adota-se cada vez mais um princípio pragmático de pensamento: as ações do homem deveriam ser pautadas não pelo que é certo ou errado, mas pelo que é útil e vantajoso para o momento. As consequências passam até mesmo dos limites toleráveis, a ponto de lermos na Internet verdadeiras “apologias” de práticas vergonhosas, como a pedofilia. Contra estes, levanta-se o profeta Isaías: “Ai daqueles que ao mal chamam bem, e ao bem, mal, que mudam as trevas em luz e a luz em trevas, que tornam doce o que é amargo, e amargo o que é doce!” (Is 5, 20).

Amargam o que é doce, também, aqueles que desnaturam o ato conjugal, doação íntima dos esposos, vivendo a sexualidade como uma mera busca de prazer. Ainda na Humanae Vitae Paulo VI explica que esta condenação da contracepção artificial “está fundada sobre a conexão inseparável que Deus quis e que o homem não pode alterar por sua iniciativa, entre os dois significados do ato conjugal: o significado unitivo e o significado procriador” (n. 12). Em nosso tempo, porém, estes dois significados parecem ter se divorciado. Mais: para muitos, nem mesmo o aspecto unitivo do ato conjugal é levado em conta, sendo substituído por uma “pseudounião”, uma doação momentânea, limitada à esfera da libido. Estes relacionamentos mais efêmeros – que podem durar uma só noite até – são cultuados, também por nosso governo. Basta assistir as propagandas confeccionadas para o tempo do Carnaval.

- Um aumento na infidelidade e ilegitimidade. Bom, falar de infidelidade no mundo contemporâneo é praticamente proibido, já que a noção de compromisso vem praticamente caindo em ostracismo. Mas, nos casos em que este ainda existe, está fragilizado por um generalizado desprezo pela virtude da castidade. Assim, se ainda não ocorreu por parte de um dos cônjuges uma traição de fato, certamente algum “já adulterou com ela [outra] em seu coração” (Mt 5, 28). Há casais que ainda vivem o amor entre si e lutam para viver a fidelidade, mas infelizmente o quadro geral é bem outro. A cultura pornográfica e hedonista de nosso século estimula a poligamia e incentiva os homens a evitarem o casamento, fazendo com que a própria instituição familiar entre em crise.

- A redução das mulheres a objetos utilizados para satisfação dos homens. Basta ouvir um pouquinho as músicas que fazem sucesso nas danceterias e nos bailes ultimamente… O funk é, por excelência, a música de coisificação da mulher – como também várias letras do axé. Em uma, ela é cachorra e “fica de quatro na mesa”; noutra, canta que está a disposição do homem com um “quero te dar”; nalgumas, não é tratada nem mesmo como mulher (só se ouve a referência ao seu órgão sexual, nada mais).

Essas músicas não são ouvidas por todos, é verdade. Mas são retratos de uma dura realidade: as mulheres não estão sendo devidamente respeitadas. Muitas mesmo não se dão ao devido respeito, se vestindo vulgarmente, se comportando indecentemente… No Carnaval esta sentença encontra seu ápice. Os desfiles das escolas de samba estão repletos de mulheres seminuas, dançando tanto para quem está na Sapucaí quanto para quem está em casa.

- Coerção governamental em matérias envolvendo reprodução. A China é o melhor exemplo do que um Estado totalitário, aliado a um neomalthusianismo sem escrúpulos, pode fazer. No país, prevalece, desde os anos 70, a Política do Filho Único. Os casais que ousam ter mais de um filho são punidos com multas altíssimas (isto quando o governo não obriga que a criança seja cruelmente privada de seu direito de viver).

Em nosso país, já começou a iniciativa de distribuir camisinhas nas escolas, iniciando as nossas crianças e adolescentes precocemente no mundo do sexo – isto sem falar das cartilhas vergonhosas que são distribuídas com o financiamento das autoridades públicas. Ora, então você sugere que evitemos a educação sexual em sala de aula? Sugiro que o tema seja abordado, mas de forma a se manter o pudor, pois sabemos muito bem que nem todos os pais concordam com esta política contraceptiva agressiva de nosso governo. O alerta do Papa Pio XII soa bastante conveniente neste momento de nossa história:

“O pudor sugere ainda aos pais e educadores os termos apropriados para formar, na castidade, a consciência dos jovens. Evidentemente, como lembrávamos há pouco numa alocução, ‘este pudor não se deve confundir com o silêncio perpétuo que vá até excluir, na formação moral, que se fale com sobriedade e prudência dessas matérias’. Contudo, com freqüência demasiada nos nossos dias, certos professores e educadores julgam-se obrigados a iniciar as crianças inocentes nos segredos da geração duma maneira que lhes ofende o pudor. Ora, nesse assunto tem de se observar a justa moderação que exige o pudor.”

- Sacra Virginitas, n. 57

Justa moderação! É por nos furtamos de observar esta justa moderação da qual fala o Venerável Pio XII que experimentamos hoje os frutos amargos de uma educação permissiva e irresponsável. É por desprezarmos os conselhos de Paulo VI que hoje observamos uma generalizada “degradação da moralidade” e dos bons costumes… É, é forçoso para muitos reconhecer, mas “é hora de admitir que a Igreja sempre esteve certa sobre a contracepção”.

Graça e paz.
Salve Maria Santíssima!

Por Everth Queiroz Oliveira

Fonte: http://beinbetter.wordpress.com

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