O Getsêmani angustiante dos moradores do Pinheirinho, em Säo Paulo


27.01.2012 - Nota de  www.rainhamaria.com.br  -  por Dilson Kutscher

Getsêmani  é um jardim situado no sopé do Monte das Oliveiras, em Jerusalém (atual Israel), onde Jesus e seus discípulos oraram na noite anterior à crucifixão de Jesus. De acordo com o Evangelho segundo Lucas, a angústia de Jesus no Getsêmani foi tão profunda que seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão.

Primeiramente leia o artigo da jornalista Cristina Beskow (um retrato brutal da verdadeira face dos nossos governos e de quem governa o Brasil, visto não se importarem com os cidadãos mais humildes que verdadeiramente os elegeram)

Grifos meus

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Pinheirinho: entre o sonho e a barbárie

Dia 24 de janeiro de 2012

O que vi em São José dos Campos só reforça o retrato lamentável da democracia em que vivemos: 9 mil  pessoas sendo despejadas violentamente de suas moradias para atender aos interesses de um bilionário que tem nome: Naji Nahas. Os moradores anônimos de Pinheirinhos são tratados como números, são arrancados de suas casas, sem direito a levar seus pertences, saindo apenas com sua cédula de identidade que os define como cidadãos brasileiros. Que democracia é esta que envia 2 mil  policiais da tropa de choque para violentar trabalhadores e trabalhadoras que reivindicam o direito constitucional à moradia? Que democracia é esta que expulsa mais de mil famílias de suas casas para entregar o terreno a um corrupto que deve milhões ao município?

O retrato da região era de barbárie: a tropa de choque cercou Pinheirinho, impedindo a imprensa de registrar o massacre e sitiou todo o seu entorno. Bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral foram usadas durante o dia inteiro, inclusive dentro da área reservada para “acolher as famílias”. Os barracões montados para receber os moradores despejados estavam imersos em lama e caos, crianças e idosos feridos, pessoas aos prantos, revolta popular.
O Campo dos Alemães, bairro ao lado do Pinheirinho, estava em clima de terror: tropa de choque avançando contra a população e policiais atirando balas de borracha e bombas contra quem estivesse na frente. As casas dos moradores viraram abrigo dos que estavam na rua, onde também fui acolhida. A tragédia anunciada se efetivou. E uma das culpadas é a juíza estadual que desacatou a ordem judicial federal, que suspendia a reintegração de posse pelos próximos quinze dias. A juíza também tem nome: Márcia Loureiro.

Ao longo do dia, ouvi diversos relatos do terrorismo implantado pela Polícia Militar. Logo ao amanhecer, a PM invadiu Pinheirinho, arrombando as casas e expulsando as famílias, que foram impedidas de levar seus pertences. A maioria saiu com a roupa do corpo, documentos e um pedaço de papel, dizendo que poderiam retirar seus móveis posteriormente. No entanto, no mesmo dia já começaram a destruir casas dos moradores. A tropa de choque chegou atirando balas de borracha, gás de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo na população, que não tinha condições de se defender. Muitas pessoas estão feridas e já foram confirmadas mortes, incluindo a de uma criança de quatro anos. Ainda não se sabe ao certo quantas pessoas morreram, já que os próprios hospitais estão abafando estas informações. A mídia corporativa também não está divulgando a gravidade da situação, só reforçando a imagem de que os moradores são “baderneiros”, “invasores” ou “desordeiros”.

São José dos Campos possui um déficit habitacional de 30 mil casas, sendo que na última década a Prefeitura construiu uma média ínfima de 300 casas por ano. Os moradores de Pinheirinho são lutadores históricos pelo direito à moradia. Vivem há oito anos neste terreno, onde construíram suas casas de alvenaria a base de muito trabalho. Após o despejo, a prefeitura estava cadastrando famílias para serem encaminhadas a abrigos provisórios ou pagando passagens de ônibus para outras cidades, incluindo o nordeste. O que está ocorrendo na cidade é uma política de higienização e criminalização da pobreza. Qual o sentido de tirar pessoas de suas casas já construídas para cadastrar em programas de habitação? Uma das moradoras, aos prantos, disse que está há dezoito anos numa fila de espera para conseguir moradia popular no município e não foi atendida até hoje. Onde irão morar estas 9 mil pessoas?
Vale ressaltar que Pinheirinho já funcionava como um bairro, a maioria das casas construídas de alvenaria, existiam muitos comércios locais que serviam de fonte de renda e abastecimento da comunidade. O que os moradores reivindicavam era a desapropriação do terreno, massa falida da empresa Selecta, de Naji Nahas, corrupto que deve R$ 15 milhões à prefeitura local. A juíza Márcia Loureiro fez sua opção de classe.

Ao final da noite, centenas de pessoas estavam abrigadas na Igreja Nossa Senhora do Socorro. Ao redor, o clima de terror continuava: a PM continuava atirando bombas, inclusive dentro do espaço da igreja. Entre o sonho e a esperança, a barbárie. Quem irá pagar por esta tragédia a serviço da especulação imobiliária? Voltemos aos que tem nome: Naji Nahas, o bilionário; Márcia Loureiro, a juíza; Eduardo Cury, o prefeito de São José dos Campos; Antônio Ferreira Pinto, o secretário de segurança pública do estado de São Paulo; Manoel Messias Mello, o comandante da operação militar; e Geraldo Alckmin, o governador de São Paulo. Quem mais é responsável? Não esqueceremos e lutaremos para que justiça seja feita. Mesmo sabendo que vivemos num país onde reina a impunidade. Terra é pra morar e não pra especular!

Por Cristina Beskow, jornalista e documentarista na Camará Comunicação e Educação Popular (www.camaracom.com.br) e militante do Coletivo de Comunicadores Populares (www.comunicadorespopulares.org)

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CONTINUANDO..

Vejam quem eram os moradores do Pinheirinho neste vídeo: (seriam todos bandidos, por serem pessoas humildes e de poucos bens? Ainda bem que no Governo de SP não tem bandido, não é? Muito menos em Brasília, junto ao Governo Federal, certo? Sabemos que bandidos não usam terno e gravata, ufa, ainda bem, estou aliviado!!)

VIDEO: Uma família de Pinheirinho 1 dia antes de ser despejada.

 

 

Assista agora este video:

Pessoas sendo despejadas violentamente de suas moradias para atender aos interesses dos poderosos. (peço desculpas por algum possível palavräo dito durante este video, mas precisam ver a verdade dos fatos)

 

 

Penso que tais imagens valem por mais de mil palavras ou comentários que eu possa fazer.

Diz na sagrada Escritura:

E, ante o progresso crescente da iniqüidade, a caridade de muitos esfriará. (São Mateus 24,12)

A caridade não pratica o mal contra o próximo. Portanto, a caridade é o pleno cumprimento da lei. (Romanos 13,10)

Porque toda a lei se encerra num só preceito: Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18). (Gálatas 5,14)

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! (São Mateus 5,6)

A ira de Deus se manifesta do alto do céu contra toda a impiedade e perversidade dos homens, que pela injustiça aprisionam a verdade. (Romanos 1,18)

(Dilson Kutscher  -  www.rainhamaria.com.br)

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A vida e a dignidade humana estão acima de qualquer outro valor

Na passada terça-feira, 24 de janeiro, Dom Moacir Silva, bispo diocesano de São José dos Campos, fez pública a nota sobre a reintegração do terreno “pinheirinho”, explicando a posição da Igreja local diante do episódio ocorrido:

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Mensagem de Dom Moacir Silva sobre o “Pinheirinho”

Desde antes da reintegração de posse do terreno denominado “Pinheirinho”, em São José dos Campos-SP, venho afirmando que “a vida e a dignidade humana estão acima de qualquer outro valor, e por isso necessitam ser respeitadas e promovidas. Tudo o que atenta contra a vida e a dignidade humana precisa ser rejeitado”.

Neste tempo de negociações e ações efetivas dos Poderes judiciário e municipal, a Diocese de São José dos Campos sempre esteve atenta a cada passo e a cada decisão, sempre tendo o cuidado de lembrar a todos os envolvidos que a vida está acima de tudo, que cada ser humano é um filho amado do Deus.

Por meio da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e seu pároco, Padre Ronildo Aparecido da Rosa, toda a comunidade é acompanhada bem de perto. Junto à comunidade sempre foi desenvolvido um trabalho evangelizador e pastoral.

Num primeiro momento, famílias ainda confusas com a rápida saída de suas casas, procuraram abrigo na paróquia, que mesmo sem a estrutura necessária, esteve de portas abertas para cada irmão e irmã que buscou ali um repouso e uma resposta sobre seu futuro.

Esperamos agora que as famílias continuem a receber a assistência necessária para restabelecerem suas vidas e sejam alojadas dignamente.

Neste momento de sofrimento, manifesto minha solidariedade e minha proximidade espiritual às pessoas da comunidade do Pinheirinho. Estou acompanhando bem de perto a atual situação e asseguro minha oração por todos.

São José dos Campos, 24 de janeiro de 2012

Dom Moacir Silva

Bispo Diocesano de São José dos Campos

Fonte: www.zenit.org


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