04.08.2011 - A Polícia Civil confirmou ontem que o ex-vice-cônsul português no Estado Adelino Pinto embolsou R$ 2,5 milhões da Arquidiocese de Porto Alegre dados como garantia a uma ong para a reforma de três igrejas no Estado. Registros financeiros comprovam que, além de ter transferido R$ 1,8 milhão para contas pessoais no Brasil e em Portugal, Adelino fez saques e depósitos no Rio de Janeiro.
A garantia de R$ 2,5 milhões a uma ong belga serviria como contrapartida para a doação de R$ 12 milhões, que seriam usados na reforma das igrejas Nossa Senhora da Conceição e Cúria Metropolitana, na Capital, e Bom Senhor, em Triunfo. O ex-vice-cônsul, que atuaria como um intermediário entre a ong e a arquidiocese, havia se comprometido a repassar os recursos, conforme escritura assinada em 21 de dezembro. No documento, ficou acertado que Pinto não poderia movimentar o dinheiro.
Contudo, depois de uma semana, o português remeteu R$ 1,3 milhão para uma conta particular em Lisboa, no banco espanhol BBVA. No mesmo dia, aplicou R$ 400 mil em uma conta sua do Banrisul. Já em 5 de janeiro, o ex-vice-cônsul fez a assinatura do segundo termo de compromisso com a igreja, quando recebeu mais um depósito. Na ocasião, não mencionou aos padres que já havia retirado o dinheiro da sua conta. No dia seguinte, mandou mais R$ 275 mil para o banco espanhol e, em 14 de janeiro, outros R$ 300 mil.
Quando a igreja desconfiou das intenções de Adelino, o ex-vice-cônsul repassou, como garantia do negócio, cinco cheques para a Mitra (a organização jurídica da Arquidiocese), que cobririam o valor repassado. Porém, apenas um cheque – de R$ 19,2 mil –, pode ser descontado. Os demais não foram reconhecidos pelo banco porque Adelino usou uma assinatura que não constava nos registros.
Segundo o delegado Paulo César Jardim, as informações reunidas comprovam o crime: "Precisamos ouvir as pessoas que receberam os depósitos. Pode ser lavagem de dinheiro. Assim que o inquérito for concluído, será enviado para a Justiça e para o Ministério Público Federal, pois há possibilidade de evasão de divisas".
A polícia investiga o paradeiro do ex-vice-cônsul, que perdeu o direito à imunidade consular.
Com o dinheiro em seu poder, Adelino Pinto aproveitou para se hospedar em hotéis no Estado e no Rio de Janeiro, onde fez saques e depósitos em nome de terceiros. O português ainda usou os recursos em farmácias, lojas de eletroeletrônicos e churrascarias. De dezembro a março, repassou 33 cheques, no valor total de cerca de R$ 330 mil. Em março, gastou mais R$ 247 mil, sendo que os últimos R$ 100 mil foram retirados da sua conta no dia em que o caso foi divulgado pela Rádio Gaúcha.
Para o advogado da Mitra, Luciano Feldens, essa prova derruba a versão apresentada pelo ex-vice-cônsul, além de comprovar que Adelino não honrou a palavra firmada em cartório. Agora, segundo Feldens, é possível que a igreja tente reaver o dinheiro com uma ação judicial imediata contra o governo português, pois Adelino se aproveitou do cargo para ganhar a confiança dos padres.
O advogado Amadeu Weinmann, que faz a defesa do ex-vice-cônsul, informou que entrará em contato com Adelino para se manifestar sobre o caso.
As movimentações
- 28/12/2010: remessa conta Bilbao Adelino – R$ 1,3 milhão
- 28/12/2010: cheque depositado conta Adelino no Banrisul – R$ 350 mil
- 28/12/2010: Cheque depositado conta Adelino no Banrisul – R$ 50 mil
- 6/01/2011: remessa conta Bilbao Adelino – R$ 275 mil
- 14/01/2011: remessa conta Bilbao Adelino – R$ 300 mil
- 2/03/2011: saque em caixa Leblon/RJ – R$ 47 mil
- 4/03/2011: saque e depósito no Leblon em conta de terceiro – R$ 100 mil
- 29/03/2011: último saque e depósito no Leblon em conta de terceiro – R$ 100 mil
Resumo
- R$ 1,875 milhão enviado o Exterior
- R$ 400 mil depositados no Banrisul
- R$ 47 mil sacados no Rio de Janeiro
- R$ 200 mil depositados em contas de terceiros no Rio de Janeiro
- Total: R$ 2,522 milhões
Fonte: Jornal Zero Hora e http://www.paulopes.com.br/