11.03.2011 - Eis o novo livro sobre Jesus.
“De fato, o anúncio apostólico, com o seu entusiasmo e sua audácia, é impensável sem um contato real dos testemunhos com o fenômeno totalmente novo e inesperado que lhes tocou de fora e consistia no manifestar-se e no falar de Cristo ressuscitado. Apenas um acontecimento real de uma qualidade radicalmente nova estava em condições de tornar possível o anúncio apostólico, que não é explicável com especulações ou experiências interiores, místicas”.
Com essas palavras Bento XVI, no segundo volume dedicado à figura do Nazareno (Gesù di Nazaret. Dall’ingresso a Gerusalemme alla resurrezione, Libreria Editrice Vaticana, 348 pp., 20 euros, à venda hoje), explica o “Big Bang” que dá origem ao cristianismo, no capítulo dedicado à ressurreição. Sem um acontecimento “real”, logo verdadeiramente ocorrido, e “radicalmente novo”– afirma o Papa — não se pode compreender e justificar os primeiros passos da fé cristã. O novo livro de Ratzinger, que não é um ato domagistério, mas a contribuição de um estudioso apaixonado pela figura de Cristo, aborda a última semana da vida terrena do Nazareno e os eventos dramáticos de sua prisão e crucifixão até o desfecho da ressurreição . Aqui estão algumas passagens importantes do livro que il Giornale leu de antemão (convido também a ler o editorial de La Bussola, esta outra resenha e este amplo extrato do capítulo sobre a ressurreição).
Jesus não é um político revolucionário
“Acalmou-se — escreve o Papa — a onda da teologia da revolução que, tendo por base um Jesus interpretado como zelota, havia procurado legitimar a violência como meio para instaurar um mundo melhor — o “Reino”. Os resultados terríveis de uma violência de motivação religiosa são demasiados drásticosaos olhos de todos nós. A violência não instaura o reino de Deus, o reino do humanismo. É, pelo contrário, um instrumento preferido do anticristo –na medida em que possa ser motivada do ponto de vista religioso-idealista. Não serve ao humanismo, mas à desumanidade [...]. Jesus não vem como destruidor; não vem com a espada do revolucionário. Vem com o dom da cura”.
A Igreja não se preocupa em converter judeus
O Papa cita Hildegard Brem, que, comentando uma passagem de Paulo, disse: “A Igreja não deve se preocupar com a conversão dos judeus, pois precisamos aguardar o momento estabelecido por Deus ‘quando a totalidade dos gentios terá alcançado a salvação’ (Rm 11 25). Pelo contrário, os judeus são eles mesmos uma pregação viva, à qual a Igreja deve referir, porque recordam à mente a paixão de Cristo”… “Neste meio tempo, Israel — escreve Ratzinger –conserva a própria missão. Está nas mãos de Deus, que no momento certo o salvará “inteiramente”, quando o número dos gentios estiver completo”.
As perseguições aos cristãos
“Um elemento importante do discurso escatológico de Jesus é a menção às futuras perseguições dos seus. Também aqui se pressupõe o tempo dos pagãos, pois o Senhor não diz apenas que seus discípulos serão entregues aos tribunais e às sinagogas, mas que também serão levados perante governadores e reis (cf. Mc 13:9): o anúncio do Evangelho será sempre sob o sinal da Cruz – é isso o que os discípulos de Jesus em todas as gerações devem aprender novamente.A Cruz é e permanece o sinal do ‘Filho do Homem’: a verdade e o amor, na luta contra a mentir ea violência, não há outra arma, no fim da contas, além do testemunho do sofrimento”.
Os fatos do Evangelho realmente aconteceram
“A mensagem do Novo Testamento não é apenas uma idéia; é fundamental ter acontecido na história real deste mundo: a fé bíblica não contam histórias como símbolos da verdade meta-histórica, mas se baseia na história que aconteceu sobre asuperfície desta Terra”.
A Eucaristia não pode ser inventada
“A idéia do formar-se da Eucaristia no âmbito da “comunidade” é também do ponto de vista histórico absolutamente absurda. Quem poderia se permitir conceber tal pensamento, de criar uma tal realidade? Como poderiam os primeiros cristãos –evidentemente já nos anos 30 — aceitar esse tipo de invenção, sem qualquer objeção? [...] Ela só pode nascer da peculiaridade da consciência pessoal de Jesus”.
O mal do mundo
“Deus não pode simplesmente ignorar toda a desobediência dos homens, todo o mal da história, não pode tratá-lo como algo irrelevante e insignificante. Essa espécie de “misericórdia”, de “perdão incondicional” seria aquela “graça barata”, contra a qual Dietrich Bonhoeffer, diante do abismo do mal de seu tempo, com razão se pronunciou. A injustiça, o mal como realidade não pode ser simplesmente ignorado, deixado como está. Deve ser eliminado, vencido. Apenas esta é a verdadeira misericórdia. E que agora, já que os homens não são capazes de fazê-lo, Deus mesmo o faz– esta é a bondade “incondicional” de Deus, uma bondade que jamais pode estar em contradição com a verdade ea correspondente justiça.
Jesus separa fé e política
“Jesus, em sua pregação e com todas as suas obras, havia inaugurado um reino não político do Messias e começado a separar uma realidade da outra, até então inseparáveis. Mas essa separação entre política e fé, de povo de Deus e política, pertence à essência da sua mensagem, era possível, em última análise, somente através da Cruz: só através da perda verdadeiramente absoluta de de todo poder exterior, através do esvaziamento do radical da Cruz, a novidade tornou-se realidade. [...] Mas, dessa forma, a na total ausência de poder, Ele é poderoso, e só assim a verdade se torna sempre novamente uma potência”.
O conhecimento científico não nos faz conhecer a verdade
“Na grandiosa matemática da criação, nós podemos ler no código genético do homem, percebemos a linguagem de Deus.Mas, infelizmente, não toda a linguagem. A verdade funcional sobre o homem se tornou visível. Mas a verdade sobre si mesmo — sobre quem ele é, de onde vem, para que finalidade existe e o que é o bem ou o mal — esta, infelizmente, nãopode ser lida de tal modo. Com o crescente conhecimento da verdade funcional parece andar de mãos dadas uma cegueira crescente para “a verdade” em si – para a pergunta sobre o que é a nossa verdadeira realidade e qual é o nosso verdadeiro fim”.
Pôncio Pilatos e a justiça
“Pilatos conhecia a verdade que se tratava neste caso e sabia então o que a justiça exigia dele. Mas,ao final, venceu nele a interpretação pragmática do direito: mais importante do que a verdade do caso é a força pacificadora do direito, este foi talvez o seu pensamento e assim se justificou diante de si mesmo. Uma absolvição do inocente poderia prejudicar não só a ele pessoalmente – este temor foi certamente um motivo decisivo para o seu agir — mas também poderia levar a mais problemas e desordens, exatamente nos dias da Páscoa, quando deviam ser evitadas. A paz foi para ele, neste caso, mais importante do que a justiça”.
O Bom Ladrão
“Assim, na história da devoção Cristã, o bom ladrão se tornou o símbolo de esperança — a certeza consoladora de que a misericórdia de Deus pode nos até alcançar no último momento; a certeza, verdadeiramente, de que depois de uma vida equivocada, a oração que implora a Sua bondade não é vã. ‘Vós que ouvites o ladrão, daí-me também esperança’, reza, por exemplo, o Dies Irae”.
O Sudário, uma relíquia
“É importante que a informação de que José comprou um lençol que envolvia o falecido. Enquanto os Sinóticos falam simplesmente de um lençol, no singular, João usa o plural “lençóis” de linho segundo o costume de sepultura judaica – o relato da ressurreição volta a esse assunto ainda mais detalhadamente. Não devemos nos deter aqui sobre a questão da conformidade com o Sudário de Turim; em todo caso, o surgimento de tal relíquia é, em termos gerais, conciliável com ambos os relatos”.
A ressurreição
“A fé cristã permanece ou cai com a verdade do testemunho segundo o qual Cristo ressuscitou dentre os mortos. Se isso é removido, é possível ainda, certamente, recolher da tradição cristã uma série de idéias notáveis de idéias sobre Deus e o homem, sobre o ser do homem e o que deve ser — uma espécie de concepção religiosa do mundo –, mas a fé cristã está morta. Jesus, neste caso, é uma personalidade religiosa falida”.
As mulheres na Igreja
“Como já sob a Cruz — além de João — foram encontradas apenas mulheres, assim foi destinado também a elas o primeiro encontro com o Ressuscitado. A Igreja, na sua estrutura jurídica, é fundada sobre Pedro e os onze, mas na forma concreta de vida eclesial são sempre novamente as mulheres a abrir as portas ao Senhor, para acompanhá-lo até a Cruz e, assim, poder encontrá-Lo também como Ressuscitado”.
O método de Deus
“É próprio do mistério de Deus agir calmamente. Pouco a pouco Ele constrói na grande história da humanidade a sua história. Torne-se homem, mas de modo a poder ser ignorado por seus contemporâneos, pelas forças influentes da história. Sofre e morre e, como o Ressuscitado, quer vir para a humanidade apenas através da fé dos seus, aos quais se manifesta. Continuamente Ele bate suavemente às portas de nossos corações, e, se abrimos, lentamente nos tornamos capazes de “ver”. E, no entanto, — não seria este talvez o estilo do divino? Não devasta com a potência exterior, mas dá liberdade, dar e suscitar amor. E isso que, aparentemente, é tão pequeno, não é talvez – pensando bem— o que é verdadeiramente grande?”.
Fonte: http://fratresinunum.com/