12.10.2016 - Hora desta Atualização - 10h47
Nota de www.rainhamaria.com.br
Dom Gabriele Amorth, um dos exorcistas da Igreja mais conhecidos do mundo. Nascimento Maio 1925 - Falecimento Setembro 2016.
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Certo dia, um Cardeal me disse: Nós dois sabemos que Satanás não existe.
Eminência, é o Evangelho que fala do demônio. É o Evangelho que nos diz que Jesus expulsa os demônios. E não só isso. É o Evangelho que diz que, entre os poderes que Jesus deu aos apóstolos, está o de expulsar os demônios. O que o senhor deseja fazer? Eliminar o Evangelho?
Quero ser franco com o senhor. A Igreja comete um pecado grave ao não falar mais do demônio. As consequências desse comportamento são gravíssimas.
Cristo veio e lutou. Contra quem? Contra satanás. E o venceu. Mas ele segue livre para tentar o mundo. Hoje. Agora. E o senhor, o que faz? Me diz que são apenas superstições? Então o Evangelho também é uma superstição? Mas como a Igreja pode explicar o mal sem falar do diabo?
Quando Jesus expulsa demônios não se trata de parábolas, mas da realidade. Ele não lutou contra um fantasma, mas contra uma realidade, do contrário tudo não teria passado de uma farsa. Muitos santos lutaram contra o demônio, muitos santos foram tentados pelo demônio; pense, por exemplo, nas experiências dos Padres do Deserto. Muitos santos realizaram exorcismos. Então, todos foram falsos, todos neuróticos? Como é possível não acreditar na existência de satanás?
O Evangelho diz que o demônio existe e que tentou inclusive ao próprio Cristo. Jesus deu as armas, deu também a nós, para vencer o demônio. O demônio pode nos tentar ainda, todos podemos ser tentados, como demonstra a oração contra o maligno que o próprio Jesus nos ensinou, o Pai-nosso. Até o Vaticano II terminada a missa, dizia-se a oração de São Miguel Arcanjo, esse pequeno exorcismo composto pelo Papa Leão XIII, e lia-se o Prólogo o Evangelho de São João, numa chave libertadora.
É preciso recordar 313. É nesse ano que o edito Constantino faz do cristianismo a religião do Estado. A Igreja, como consequência do edito, corre grande perigo de se secularizar. Ou seja, corre perigo de ver seus próprios fiéis se adaptarem aos princípios do mundo. Tudo isso poderia ter consequências nefastas, como a decadência do empenho evangélico e o empobrecimento dos valores de tradição cristã.
Os primeiros monges aparecem no Egito, no século III depois de Cristo. Chamam-se anacoretas ou solitários. No século IV, surgem as duas primeiras grandes figuras: Antão (também conhecido como Santo Antônio do Deserto) e Pacômio; o primeiro, expressão de um monaquismo solitário, eremítico – o segundo, comunitário, cenobítico.
O mundo sobrenatural existe e nos acompanha sempre. Não só o mundo da luz. Mas também o das trevas. Só o homem cujo espírito é especialmente treinado pode ir além do mundo real e ver o que ocorre no mundo sobrenatural.
A oração e o jejum transformam-se rapidamente num muro intransponível para satanás.
Satanás existe, e como! E não crer em satanás é um fato gravíssimo que tem consequências terríveis. É um pecado pelo qual são responsáveis, desgraçadamente, muitos homens da Igreja.
Do século XVIII em diante, nega-se a existência do demônio. De quem é a culpa? Sem dúvida alguma, da cultura laca, do ateísmo ensinado às massas, do racionalismo do mundo científico e cultural. O resultado é essa perda de fé que estamos vivendo até agora; e, junto com isso, o crescimento de todas as formas de superstição e a expansão de todo tipo de ocultismo.
Se estas duas carências, de estudo e de experiência direta, adicionamos os erros doutrinais de tantos teólogos ou biblistas, que chegam inclusive a negar os exorcismos do Evangelho, considerando-os “linguagem cultural”, “adaptação à mentalidade da época”, entendemos bem em que abismo nos encontramos. É verdade que, contra esses erros, levantaram-se as vozes dos pontífices, sobretudo as de Paulo VI e João Paulo II – e hoje também a de Bento XVI; é verdade que a Congregação para a Doutrina da Fé publicou, em 26 de junho de 1975, incluindo-o entre os documentos oficiais da Santa Sé, um documento dedicado à demonologia, mas tudo isso não basta. A incredulidade acerca da existência de satanás difundiu-se e não permite que as pessoas se defendam do inimigo, salvem-se de suas garras infernais.
Por que as faculdades de teologia não adotam o mesmo método com os seminaristas? Façam com que eles assistam a exorcismos! Não importa se, depois, não se transformam em exorcistas. Pelo menos veem e se dão conta do que é uma possessão, de quanto mal pode fazer o demônio, um mal que pode levar à morte. É difícil crer na existência de satanás sem jamais ter assistido a um exorcismo.
“Os que creem em mim expulsarão demônios em meu nome… imporão as aos sobre os enfermos e os curarão”, disse Jesus. Se pelo menos os sacerdotes acreditassem nas palavras do Senhor e no poder que elas têm, não se cansaria, de abençoar a todas as pessoas que apenas pedem uma benção. Creio que muitos males desapareceriam e que um exército de pessoas (magos, cartomantes, clarividentes e assemelhados) terminaria na fila dos desempregados. É um dos objetivos que nós, os exorcistas, ao menos de maneira indireta, lutamos para alcançar.
Um dia, 13 de outubro de 1884, Leão XIII assiste à missa. Sempre de pé, depois de haver celebrado uma missa, assiste a outra. É missa em ação de graças.
Em certo momento, aqueles que se encontram ao seu lado veem que ele ergue a cabeça, buscando algum ponto no alto. Depois, olha fixamente à frente, como se estivesse em transe. O que ele vê? Seu rosto muda de cor. Fica roxo.
Leão XIII parece assustado. Durante alguns momentos, parece, inclusive, aterrorizado, como se estivesse num mundo monstruoso.
Na realidade, havia ocorrido algo. Com efeito, Leão XIII senta-se em seu escritório e isola-se em momentos de profunda e imensa escrita. Escreve.
Escreve sem parar.
É uma oração a São Miguel Arcanjo, a quem, nas Escrituras Sagradas, defende a fé em Deus contra os ataques de satanás.
“São Miguel Arcanjo, protegei-nos no combate, sede nosso auxílio contra a malícia e as ciladas do demônio. Exerça Deus sobre ele império, como instantemente vos pedimos, e Vós, Príncipe da milícia celeste, pelo divino poder, precipitai no Inferno a Satanás e os outros espíritos malignos que vagueiam pelo mundo para perder as almas. Amém”.
Por que esta oração?
Por causa da visão que teve pouco antes. É uma visão que tem a ver com o futuro da Igreja. Um período de cerca de cem anos futuros, quando o poder de satanás alcançaria o seu ponto Maximo. Cem anos! Trata-se, na verdade, de nossa época! Leão XIII escuta duas vozes: uma suave, amável; a outra, rouca e áspera.
Parece-lhe que essas vozes vêm do tabernáculo. Compreende, de imediato, que a voz suave e amável é a de Jesus Cristo, enquanto a outra, rouca e áspera, é a de satanás.
Satanás afirma, com orgulho, que pode destruir a Igreja, mas para fazer isso pode mais tempo e poder.
Jesus, de maneira misteriosa, aceita a petição e pergunta-lhe de quanto tempo e de quanto poder ele necessita. Satanás responde que necessita de cerca de cem anos e um poder maior sobre aqueles que se colocaram a serviço de Cristo.
Jesus concede a satanás o tempo e o poder que solicita, dando-lhe plena liberdade para dispor como quiser: mas não destruirá a Igreja.
(*) Do livro O Último Exorcista — Minha batalha contra Satanás. Editora: Ecclesiae. Fonte: Sensus Fidei
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Nota final de www.rainhamaria.com.br
Diz na Sagrada Escritura:
Non serviam! ― Não servirei! "Subirei até o alto dos Céus, estabelecerei o meu trono acima dos astros de Deus, sentar-me-ei sobre o monte da aliança! Serei semelhante ao Altíssimo!” (Isaias 14, 13-14).
Este odioso brado de revolta ― inspiração de todos os gritos de insubmissão da História ― fez-se ouvir no Céu. Era Lúcifer, o anjo que portava a luz. Tal era sua excelência que a Igreja aplica a ele as palavras de Ezequiel: “Tu és o selo de semelhança de Deus, cheio de sabedoria e perfeito na beleza; tu vivias nas delícias do paraíso de Deus e tudo foi empregado para realçar a tua formosura!” (Ez 28, 12-12)
Arrastando consigo a terça parte dos anjos, Lúcifer foi precipitado no inferno, tornando-se o príncipe das trevas.
“Como caístes, ó astro resplandecente, que na aurora brilhavas? A tua soberba foi abatida até os infernos” (Isaias 14, 11-12). Eis o castigo do orgulho e da soberba!
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